segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Canadá congela activos e suspende transacções financeiras com regime de Kadafi

 

O Governo canadiano decidiu impor sanções adicionais à Líbia, incluindo o congelamento de bens da família do ditador Kadafi e a proibição de transacções financeiras com aquele país.
Num anúncio transmitido pela televisão no domingo, o Primeiro-ministro canadiano defendeu a saída do poder de Muammar Kadafi e indicou que esta nova tomada de posição do Canadá vai além da resolução aprovada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas no sábado.
Stephen Harper frisou que as novas medidas de congelamento dos activos da família Kadafi e suspensão de transacções financeiras com as autoridades líbias, incluindo o Banco Central, "ajudarão a restringir o movimento e acesso a dinheiro e a armas àqueles que são responsáveis pela violência contra o povo líbio".
O governante anunciou que um segundo avião da Força Aérea Canadiana está a caminho da Líbia para transportar cerca de uma centena de cidadãos canadianos que ainda permanece no país.
No sábado, um avião C-17 do Canadá retirou 46 pessoas da Líbia, incluindo pessoal diplomático que se encontrava em Tripoli.
Até ao momento, um total de 230 cidadãos canadianos deixaram a Líbia, por diversos meios disponíveis, quer aviões como barcos.
 
 

Primeiro-ministro britânico defende que "é tempo de Kadafi partir"

O Primeiro-ministro David Cameron declarou domingo que é "tempo de partir" para o dirigente líbio Muammar Kadafi, acrescentando que o líder da Líbia não tem um papel a desempenhar no futuro do seu país.

Falando após uma nova operação de salvamento realizada pelo exército britânico que retirou 150 civis estrangeiros do deserto líbio, o chefe do governo britânico assegurou "tudo manda uma mensagem clara ao regime: é tempo do coronel Kadhafi partir e de partir agora".
"Não há lugar para ele na Líbia do futuro", acrescentou Cameron.
"Estamos a fazer uma pressão considerável sobre este regime", indicou Cameron, sublinhando: "As medidas que tomámos contra o regime foram a interdição de viajar e o congelamento dos bens para mostrar o quanto está isolado".
O ministro da Finanças, George Osborne, anunciou algumas horas antes um congelamento dos bens do dirigente líbio Muammar Kadafi e da sua família, para que não possam "ser utilizados contra os interesses do povo líbio", seguindo as sanções decretadas pelo Conselho de Segurança da ONU.
Após as avaliações de Londres, o coronel Kadafi possui cerca de 20 mil milhões de libras (23,4 mil milhões de euros) em liquidez, principalmente em Londres, revelou o jornal The Telegraph.

População da China atingiu 1341 milhões

População da China atingiu 1341 milhões

 

A população da China atingiu os 1.341 milhões de pessoas no final de 2010, mais seis milhões do que um ano antes, anunciou segunda-feira o Gabinete Nacional de Estatísticas do país.
Trata-se de um cálculo ainda "preliminar", obtido através do Censo realizado em Novembro passado, e cujos resultados deverão ser divulgados em Abril.
Em relação a 2008, a população chinesa -- a maior do mundo -- aumentou cerca de 13 milhões.
Segundo a mesma fonte, em 2010, o número de pessoas que viviam abaixo da linha de pobreza -- menos de 1.274 yuan por ano (138 euros) -- desceu de 35,97 milhões para 26,88 milhões.
Pelos padrões da ONU (menos de um dólar por dia), aquele número rondará os 150 milhões, correspondendo a 11 por cento da população.
A China tornou-se, entretanto, a segunda maior economia do mundo, ultrapassando o Japão, mas quanto ao Produto Interno Bruto per capita, no verão passado o país ocupava o 104.º lugar do ranking mundial.
 
 
Kadafi diz que tudo está calmo na Líbia
 
Kadafi diz que tudo está calmo na Líbia
A cidade de Naluf foi tomada pela oposição
 
O líder líbio, Muammar Kadafi, rejeitou este domingo como inválida a resolução das Nações Unidas que impõe sanções aos interesses do regime líbio e disse, numa rara declaração à imprensa estrangeira, que o país está em paz.
"O Conselho de Segurança adoptou uma resolução que é inválida, de acordo com a Carta das Nações Unidas", disse Kadafi, numa declaração de dez minutos ao canal sérvio de televisão Pink Television.
"Como é possível que o Conselho de Segurança adopte uma resolução com base em notícias de imprensa? É inaceitável e vai contra o senso comum", acrescentou.
No sábado, o Conselho de Segurança aprovou uma resolução que impõe um embargo de venda de armas à Líbia -- onde as Nações Unidas dizem que já morreram mais de mil pessoas - proíbe Kadafi e os familiares de viajarem e congela os bens da família.
Numa declaração telefónica em arábico, dobrado em sérvio, o líder líbio também culpou a organização terrorista al-Qaeda pelas mortes desde que começaram os protestos contra o regime líbio, a 15 de fevereiro.
Kadafi reiterou ainda que a situação na Líbia está calma, de momento, acrescentando que, mesmo que tenham morrido pessoas dos dois lados, o número de mortes foi reduzido.
"Não há incidentes de momento e a Líbia está em sossego total. Não há nada forma do normal, não há agitações", afirmou.
"Houve pessoas mortas por grupos terroristas, que são sem dúvida da al-Qaeda", acrescentou.
Sobre o território no Leste da Líbia controlado pela oposição anti-Kadafi, o líder líbio disse que os manifestantes "são um grupo pequeno, que está cercado, mas nós vamos resolver isso".

Morreu último veterano norte-americano da Primeira Guerra Mundial

Novas revelações a partir de telegramas da Embaixada dos EUA em Lisboa

WikiLeaks: Loureiro dos Santos acusa ex-embaixador de ressabiamento contra Forças Armadas


Ex-chefe  Exército explica as posições críticas do antigo diplomata com ignorância e com o facto de os EUA terem perdido negócios em Portugal. Governo e partidos cautelosos.
A compra dos submarinos foi considerada pouco sensata pelo embaixador Stephenson 
A compra dos submarinos foi considerada pouco sensata pelo embaixador Stephenson 
Loureiro dos Santos viu ressentimento nos telegramas da Embaixada dos EUA em Lisboa. O Governo português preferiu o silêncio, embora sem conseguir esconder o incómodo pelas revelações ontem divulgadas pelo semanário Expresso, em que o ex-embaixador americano Thomas Stephenson classifica o comportamento do Ministério da Defesa como desejoso de adquirir "brinquedos caros" e permeável a pressões europeias.

Sendo "um homem de Bush" que viu a indústria militar norte-americana perder negócios para a Europa, as críticas do embaixador às Forças Armadas só podem ser vistas como um sinal de "ressabiamento". É assim que o general Loureiro dos Santos, ex-chefe do Estado-Maior do Exército, reage às considerações do embaixador.

"Revela uma posição de ressabiamento pelo facto de não nos terem conseguido vender aquelas sucatas [fragatas Hazar] Perry". Embora admitindo que ali surgem "coisas que são óbvias" como a definição de prioridades na aquisição de equipamento militar, o general lembra o embaixador norte-americano como sendo um "homem de Bush" que não gostou de sentir que "a maior parte dos militares portugueses que se pronunciaram sobre a estratégia Bush diziam que aquilo era tudo menos certo". E depois destaca a "falta de credibilidade" e "ignorância" que alguns telegramas evidenciam sobre o estado actual das Forças Armadas Portuguesas.

Sobre a caracterização das chefias militares, em número excessivo e pouco dados à iniciativa, Loureiro dos Santos desvaloriza-a. Reconhece que o ratio entre o oficialato e os soldados está "desproporcionado", mas explica que tal tem uma razão e dá um exemplo: "Este ano, o Governo decidiu reduzir o número de militares em três mil. Isso não significa que se possa diminuir os efectivos", alerta. Para diminuir no número de militares, o executivo terá de cortar naqueles que estão a contrato e não nos que estão no quadro. E os oficiais estão maioritariamente no quadro.

O Expresso publicou ontem excertos de telegramas do embaixador Thomas Stephenson de 2009 nos quais afirma que a política de compras de armamento em Portugal "é guiada pelo desejo de ter brinquedos caros". O diplomata é arrasador para a pasta da Defesa e incorre em alguns erros factuais, como dizer que Portugal tem apenas um C-130. Outro é que os submarinos - compra pouco sensata - não têm sistema de mísseis.

Outra das notícias relaciona-se com a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD) e as más relações com o ex-presidente Rui Machete, a ponto de o embaixador o acusar de má gestão e aproveitamento do cargo. "Cada um diz os disparates que quer", comentou Rui Machete à TSF, afirmando que mais importante que as declarações do diplomata norte-americano é o "bom trabalho" desenvolvido entre a FLAD e a embaixada. Sobre as más relações com a representação norte-americana em Lisboa, o antigo presidente da FLAD apenas afirma que alguns "gostavam que a fundação fosse um instrumento ao serviço da embaixada".

Durante o dia de ontem, o silêncio do Governo foi oficial e o incómodo nos partidos que passaram pelo poder - PSD e CDS participaram nas decisões de compra - pressente-se. O actual ministro da Defesa limitou-se a criticar a divulgação dos telegramas. O líder do PSD, Pedro Passos Coelho, desvalorizou o assunto e disse que as revelações "têm pouca adesão à realidade". O CDS-PP e o ex-ministro da Defesa Paulo Portas ficaram em silêncio.

Cinema

O Discurso do Rei é o filme do ano nos Óscares

28.02.2011
Quatro estatuetas douradas para a segunda obra do realizador Tom Hooper, que se estreou nos prémios ao leme de O Discurso do Rei, o grande vencedor da noite dos Óscares.
O Discurso do Rei ganhou quatro estatuetas, entre as quais a de Melhor Realizador 
O Discurso do Rei ganhou quatro estatuetas, entre as quais a de Melhor Realizador 
Além de melhor filme e realizador, O Discurso do Rei bateu os adversários noutras duas das categorias mais importantes, como melhor argumento original e actor. Natalie Portman conseguiu o Óscar para melhor actriz, arrebatando assim a sua primeira estatueta dourada à segunda nomeação.

Colin Firth também leva um Óscar para casa. Depois de ter sido batido por Jeff Bridges em 2010, na categoria de melhor actor, Firth virou a sorte a seu favor, ganhando nesta mesma categoria, para a qual Bridges também estava nomeado. "Tenho a sensação que a minha carreira acabou de chegar ao auge", disse Firth, quando recebeu a estatueta dourada.

O filme em que estava nomeado concorria em 12 categorias e a Academia acabou por se curvar quatro vezes perante a história do rei gago (Jorge VI de Inglaterra) que, em termos de prémios cinematográficos, falou alto e bom som para todo o mundo, este ano.

Outra favorita da noite, a actriz Natalie Portman, conseguiu bater a forte concorrência na categoria de melhor actriz. "Isto é de loucos", disse, entre lágrimas, quando recebeu o Óscar em palco.

Em termos numéricos, O Discurso do Rei e A Origem ficam empatados e levam quatro prémios para casa. Seguem-se A Rede Social, com três Óscares e, empatados com dois prémios cada, o Último Round, Alice no País das Maravilhas e Toy Story 3.

Filme: O Discurso do Rei
Actor: Colin Firth, O Discurso do Rei
Actriz: Natalie Portman, Cisne Negro
Realizador: Tom Hooper, O Discurso do Rei
Fotografia: A Origem
Actriz Secundária: Melissa Leo, Último Round
Actor Secundário: Christian Bale, Último Round
Argumento adaptado: A Rede Social
Argumento original: O Discurso do Rei
Filme Estrangeiro: Num Mundo Melhor
Curta-Metragem de Animação: The Lost Thing
Longa-Metragem de Animação: Toy Story 3
Banda-Sonora original: A Rede Social
Canção Original: Randy Newman, Toy Story 3
Mistura de som: A Origem
Montagem de som: A Origem
Maquilhagem: O Lobisomem
Figurinos: Alice no País das Maravilhas
Documentário de curta-metragem: Strangers No More
Curta-metragem: God of Love
Documentário de longa-metragem: Inside Job - A Verdade da Crise
Efeitos visuais: A Origem
Cenografia: Alice no País das Maravilhas
Melhor Montagem: A Rede Social

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Conselho de Segurança

ONU pede investigação sobre crimes contra a humanidade na Líbia

27.02.2011
O Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou unanimemente no sábado à noite a imposição de sanções a Muammar Khadafi e Barack Obama defendeu pela primeira vez a saída do líder líbio.
A resolução foi tomada ao fim de um dia de consultas e negociações 
A resolução foi tomada ao fim de um dia de consultas e negociações 

A ONU vai pedir que o Tribunal Penal Internacional (TPI) investigue “os ataques alargados e sistemáticos” das últimas duas semanas contra a população civil da Líbia como possíveis crimes contra a humanidade.

A resolução foi tomada ao fim de um dia de consultas e negociações, em que alguns países mostraram reservas quanto ao envio do caso para o TPI, apesar de a própria delegação da Líbia nas Nações Unidas, que se distanciou de Khadafi na segunda-feira, ter enviado uma carta à presidente do Conselho de Segurança, a embaixadora brasileira Maria Luiza Ribeiro Viotti, a dizer que apoiava a medida.

Outro ponto que gerou resistência: a referência inicial ao emprego de “todos os meios necessários”, que não consta do texto final. Fonte diplomática da missão de Portugal na ONU explicou ao PÚBLICO antes da votação que alguns países preferiam uma abordagem mais cautelosa por estarem preocupados com a segurança dos seus cidadãos que ainda se encontram na Líbia.

A resolução representa a primeira colaboração dos Estados Unidos com o TPI, instância a que não pertence. Bill Clinton ratificara a participação dos EUA, mas a administração Bush retirou-a. Em 2005, quando o conflito do Darfur foi remetido para o TPI, os EUA abstiveram-se de votar. No documento em que define a sua estratégia de segurança nacional, Obama tinha prometido colaborar com o TPI.

O documento aprovado ontem, proposto pela França e Reino Unido e co-patrocinado, entre outros, por Portugal (que desde Janeiro é membro não-permanente do Conselho de Segurança), exige “o fim imediato da violência” na Líbia e adopção de medidas para “atender às reivindicações legítimas da população”.

Entre as sanções impostas à Líbia constam o embargo de venda de armas, o congelamento de bens no exterior do clã Khadafi (incluindo uma filha e quatro filhos do líder), e a proibição da concessão de vistos à família e núcleo de colaboradores próximos.

O texto não prevê a imposição de uma zona de exclusão aérea sobre a Líbia nem qualquer intervenção militar.

Obama defende pela primeira vez saída de Khadafi

A resolução coloca os Estados Unidos a par da Europa no isolamento internacional de Khadafi. Os líderes europeus reagiram mais rapidamente na condenação do líder líbio. Obama falou publicamente sobre a situação na Líbia, pela primeira vez, na quarta-feira à noite, sem mencionar Khadafi. Ontem, a Casa Branca revelou que o presidente americano defendeu pela primeira vez a saída de Khadafi numa conversa telefónica com a chanceler alemã Angela Merkel. “Quando o único recurso para um líder se manter no poder é usar violência em massa contra o seu povo, ele perdeu a legitimidade para governar e precisa de fazer a coisa certa para o seu país que é sair agora”, disse Obama, segundo um resumo divulgado pela Casa Branca.

Comentando a demora da administração americana em tomar uma posição sobre a violência na Líbia, o director da Human Rights Watch e Washington, Tom Malinoswki, dizia há dias: “Normalmente, espera-se que os Estados Unidos recorram à acção e que os europeus façam declarações”, citava ontem o Washington Post. “No entanto, neste caso, parece ter acontecido o inverso.”

Inspecção detecta mega-burla nos terrenos da Praia

27 Fevereiro 2011

A Unidade de Inspecção Autárquica (UIAT), do Ministério da Descentralização, detectou uma mega-burla nos terrenos da cidade da Praia. O relatório, que vai ser encaminhado à Câmara Municipal da Praia para que esta exerça o seu direito do contraditório, veio comprovar as denúncias feitas neste jornal pelo advogado Felisberto Vieira Lopes em como foram arrancadas e substituídas as quatro primeiras folhas do Livro de Matriz Predial, passando enormes extensões de terreno – até então pertencentes ao Estado, CMP e alguns privados – a uma única pessoa: Fernando José Serra Sousa.

Inspecção detecta mega-burla nos terrenos da Praia
A equipa da UIAT deu por concluída a semana passada, uma inspecção à Câmara Municipal da Praia. A investigação, que incidiu sobre o Plano Urbanístico e o ordenamento da cidade, detectou várias irregularidades e ilegalidades cometidas a nível fundiário. E, ao que A Semana apurou, uma das constatações indicia uma mega-burla cometida nos anos 90, durante o consulado de Jacinto Santos na CMP, e que terá lesado os donos dos terrenos – Estado e privados – em milhares de contos.
A crer no relatório ora concluído, vastas extensões de terreno que o Estado detinha na cidade-capital passaram a ser propriedade de privados, por meio de um esquema de fraude nos registos prediais jamais visto em Cabo Verde. Sim, folhas da Matriz Predial da Nossa Senhora da Graça foram retiradas – quiçá rasgadas e substituídas por outras com o único intuito de adulterar os registos prediais. Por este meio, terrenos que são do Estado, da Câmara Municipal da Praia e de alguns privados passaram para a posse do português Fernando José Serra Sousa.
Na verdade, a constatação dos inspectores da UIAT veio confirmar as denúncias do advogado Felisberto Vieira Lopes sobre a “máfia dos terrenos da Praia”. Em diversos artigos publicados nas páginas deste jornal (ver, por exemplo, A Semana de 10/09/2010), Vieira Lopes insurgiu-se contra os herdeiros de Fernando Sousa e o seu advogado Arnaldo Silva acusando-os de serem responsáveis pela adulteração do livro de registos da Matriz Predial da Freguesia de Nossa Senhora da Graça. Isto, segundo Vieira Lopes, aconteceu em 1999, quando Jacinto Santos ainda era o presidente da CMP.
“As quatro primeiras folhas do Livro nº1 da Matriz Predial Rústica da Freguesia de Nossa Senhora da Graça foram arrancadas e substituídas por folhas toscamente falsificadas, nas quais se fizeram desaparecer os prédios rústicos de Várzea Companhia nº3 pertencente ao Estado, de Várzea Companhia nº11 pertencente à CMP, e de Achada Grande nº12, pertencente aos Levys. Em lugar do prédio rústico nº 11, pertencente à CMP, foi inscrito falsamente o prédio rústico de Monte Babosa como pertencendo a Fernando José Serra Sousa, sem que este o tenha arrematado, comprado ou adquirido. Em lugar do prédio Achada Grande nº 12, pertencente aos Levys, foram inscritos falsamente como pertencentes a Fernando José Serra Sousa os prédios de Monte Vermelho (que confronta com o mar) e Palmarejo Grande, sem que jamais Fernando Sousa os tenha arrematado”, denunciou.
Vieira Lopes esclareceu ainda que “foi a 24 de Fevereiro de 2003 que, pelo artifício fraudulento do averbamento nº 14 à descrição predial nº 5.780 da Conservatória do registo Predial da Praia (averbamento feito sem qualquer título ou prova de propriedade) que os terrenos de Palmarejo, Monte Babosa, Frouxa-Chapéu (menos correctamente referido como Tira-Chapéu), Simão Ribeiro, pertencentes aos Tavares Homem e aos Ribeiro foram abocanhados por Fernando Sousa. (…) Todas essas falsificações cometidas no Livro nº1 da Matriz Predial rústica da Freguesia de Nossa Senhora da Graça são grosseiras e podem ser verificadas e comprovadas à vista desarmada, sem necessidade de perícia”, escreveu Lopes na brochura que publicou em Outubro do anos passado, com o título “O caso Palmarejo – a maior burla na história de Cabo Verde”.
Os terrenos em causa foram vendidos ao longo destes anos, e por avultadas somas, a privados e até ao Estado. Entretanto, os herdeiros da família Tavares Homem, Ribeiro e Barbosa Mendes (Serbam), continuam a reivindicar a posse dos mesmos. A Semana sabe que os Barbosa Mendes – filhos Serbam a viver no estrangeiro, como Osvaldo Mendes –, que reclamam a posse do Taiti, vieram à Praia accionar as instâncias judiciais e reclamar o seu património. Já no ano passado membros da família Tavares Homem promoveram, em frente aos Paços do Concelho da Praia, uma manifestação para acusar Fernando Sousa, a filha deste e o advogado Arnaldo Silva (Naná) de burla.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Minuto a minuto: Khadafi resiste em Trípoli

 

Trípoli, a capital Líbia, é hoje uma cidade armada, com confrontos entre forças leais ao regime de Muammar Khadafi e os revoltosos. Das cidades “libertadas” no Leste e Oeste do país, milhares de opositores ao regime mobilizaram-se para tentar marchar até à Praça Verde. A revolução líbia minuto a minuto.
  
21h23 O fim da violência, o embargo de venda de armas e o congelamento dos bens das principais figuras do regime de Khadafi são três dos pontos que figuram no projecto de resolução do Conselho de Segurança da ONU sobre a Líbia apresentado hoje aos seus membros.

21h09 O Presidente americano Barack Obama encontra-se na segunda-feira com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, para discutirem as medidas destinadas a fazer cessar as violências cometidas contra os líbios pelo regime de Khadafi, acabou de anunciar a Casa Branca.

21h03 O embaixador da Líbia nas Nações Unidas, que já se afastou do regime de Khadafi, pediu ao Conselho de Segurança sanções urgentes contra a família do ditador líbio. Abdurrahman Mohamed Shalgham fez um apelo emocionado para que a comunidade internacional tome acções decisivas para travar as acções repressivas de Khadafi. No final da sua intervenção rompeu em lágrimas e foi abraçado por muitos dos embaixadores presentes na sala e também por Ban Ki-moon.

20h52 O Conselho de Segurança da ONU tem que tomar medidas “decisivas” em relação à Líbia, disse o secretário-geral Ban Ki-moon, apelando ao fim da violência. Os responsáveis pelas violações dos direitos humanos devem ser castigados, disse ainda Ban Ki-moon, numa reunião do Conselho de Segurança em Nova Iorque.

20h33 Ahmed Kadhaf al-Dam, conselheiro próximo e primo de Khadafi que se encarrega das ligações entre a Líbia e o Egipto, demitiu-se de todas as suas funções oficiais para “protestar contra a gestão da crise líbia”.

20h15 O número de mortos na Líbia conta-se na ordem dos “milhares” e não das centenas, disse o já dissidente embaixador-adjunto da missão líbia nas Nações Unidas, Ibrahim Dabbashi.

19h52 “As pessoas aqui dizem que já perderam o medo, que já conquistaram uma imensidão de território… no entanto não há verdadeira celebração ou euforia em sinal de missão cumprida”, diz o correspondente da Al-Jazira no leste da Líbia. O território está quase todo nas mãos do movimento anti-Khadafi, mas as pessoas estão ansiosas sobre qual a próxima jogada do ditador líbio.

19h46 O último avião fretado pelo Governo britânico descola da capital líbia amanhã, por isso o ministro dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido apelou a todos os cidadãos que ainda estão na Líbia que se dirijam para o aeroporto de Trípoli o mais rapidamente possível. “Tendo em conta que já só resta um pequeno número [de britânicos no país], o último avião fretado pelo Governo deixa Trípoli amanhã”, disse, citado pela BBC.

19h44 Os Emiratos Árabes Unidos vão mandar dois aviões com ajuda humanitária para a Líbia. O Qatar também já enviou um avião carregado com bens essenciais para Bengasi.

19h36 O Governo de transição da Tunísia anunciou que haverá eleições, “o mais tardar em meados de Julho”, num comunicado do conselho de ministros, citado pela AFP, que não deixa claro se serão legislativas ou presidenciais. O anúncio surgiu no final de um dia de gigantescos protestos nas ruas a exigir a demissão do governo transitório que entrou em funções após a queda de Ben Ali.

19h33É oficial: os Estados Unidos acabaram de fechar a sua embaixada em Tripoli.

19h08 Os 56 portugueses que estão dentro de um ferry atracado no porto de Bengasi desde esta tarde e que tentam sair da segunda cidade líbia há já vários dias só deverão deixar o país rumo à Grécia amanhã de manhã, devido ao mau tempo, avançou ao PÚBLICO uma fonte da secretaria de Estado das Comunidades.

18h43 As Nações Unidas alertam que a rede de abastecimento alimentar da Líbia está à beira do colapso.

18h33 Mais três cidades são dadas como conquistadas pelo movimento de revolta contra Khadafi: Yefren, Zenten e Jadu, todas na região das Montanhas Ocidentais, a uns 150 quilómetros para Sul de Trípoli, área que constitui um bastião da minoria étnica berbere no país. “As pessoas estão a criar comités locais para se governarem a si mesmas. Estão a organizar as questões de segurança e tudo mais autonomamente”, relatou à Reuters um homem que tinha acabado de chegar a Alger vindo daquela região líbia.18h29 Polícia e militares estão em peso na estrada que liga a base aérea de Mutiqa (nos arredores da capital) a Trípoli, patrulhando todos os veículos que ali circulam, foi testemunhado à Reuters: “A estrada está pejada de soldados e polícias com espingardas Kalashnikov e todos os cruzamentos têm postos de controlo. Estão a pedir aos condutores que abram os porta-bagagens para verem o que lá está dentro. A circulação está muito difícil”. A televisão estatal líbia mostrara há pouco o comandante da base a negar rumores anteriores de que a base – que acolhe um aeroporto civil, com algumas ligações internacionais, a par da estrutura militar – tinha caído para a revolta.

18h13 A organização não-governamental Save the Children, diz estar preocupada com relatos de crianças mortas num ataque das forças de segurança líbias aos manifestantes.

18h07 O analista Tarik Yousef, do Brookings Institute, diz-se “dividido” sobre a intervenção de Khadafi hoje, a quarta que o líder faz desde segunda-feira: “Por um lado queria ver este discurso como algo legítimo feito em frente de multidões verdadeiramente dispostas a apoiá-lo, mas também estou consciente das capacidades da máquina de propaganda líbia. Por isso, quero esperar para ver como tudo isto vai ser interpretado. Certo é que aquele não foi o cenário habitual que se esperaria da Praça Verde... era muito menos gente do que se viu sempre nos discursos de Khadafi e é questionável mesmo se são pessoas de Trípoli”, avaliou à Al-Jazira.

18h00 Tunisinos e egípcios estão a guiar até à fronteira com a Líbia para ajudar os migrantes que fogem do país. Muitas famílias estão a acolher os vizinhos em suas casas. “Estamos a assistir a um apoio sem precedentes oferecido pela população local”, disse a porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, Melissa Fleming, à Reuters. Pelo menos 30 mil pessoas já saíram da Líbia por terra, segundo a Organização Internacional para as Migrações.


17h52 Algumas partes de Trípoli já estão sob o controlo dos opositores ao regime, contou um local à Reuters. Mas a zona em que Khadafi vive ainda é controlada pelo exército e pelos seus apoiantes. “Estamos em casa. É demasiado perigoso sair para a rua em Trípoli”, disse este residente da capital líbia.

17h47 O ex-ministro do Interior, Abdel Fatah Yunis, que se demitiu há alguns dias, disse ser improvável que Khadafi se suicide, contrariando as declarações de ontem do renegado ministro da Justiça, Mustafa Mohamed Abud al-Jeleil, até então um dos homens mais próximos do líder líbio: “Ele não se renderá, vai fazer como Hitler fez, vai matar-se.” Segundo Fatah Yunis, Khadafi lutará até ao fim – o que o correspondente da BBC considera ser uma forma de suicídio.

17h41 A televisão estatal líbia nega que a base aérea de Mutiqa, em Trípoli, tenha caído para as forças anti-Khadafi ou aderido à revolta contra o regime. “Não há verdade absolutamente nenhuma nesses rumores destrutivos que são repetidos pelos canais de televisão satélite conspiradores que tentaram dar a ideia de que a base de Mutiqa está em perigo”, asseverou.

17h35 Os Estados Unidos estão a ponderar fechar a sua embaixada em Trípoli, indicaram fontes da diplomacia americana à agência Reuters.

17h27 Mais palavras de Khadafi: “Com o povo armado podemos derrotar qualquer agressão. Quando for preciso abrimos todos os depósitos de armas para armar o povo líbio. A Líbia tornar-se-á numa chama vermelha”.17h24 Khadafi comparou os jornalistas estrangeiros a cães e os “mass media” a “mass lies”, no seu discurso de há minutos, em que nenhum familiar ou apoiante estava com ele, apenas guarda-costas.

17h23 O grupo parlamentar d´“Os Verdes” no Parlamento Europeu pediu hoje à UE que ofereça protecção temporária às pessoas que estão a fugir das violências na Líbia, um assunto que causa o desacordo entre os Estados-membros. “Os Verdes” alertaram igualmente para a necessidade do fim do império do petróleo., numa altura em que alguns dos principais produtores mundiais enfrentam convulsões internas.

17h20 A Al-Jazira questiona se as imagens mostradas há minutos pela televisão estatal líbia de Khadafi a discursar na Praça Verde estavam de facto a ser transmitidas em directo. Durante a transmissão pode ver-se um relógio numa torre junto à praça, que marcava 18h55 quando o líder líbio começou a falar (hora de Trípoli, duas horas mais do que em Lisboa).

17h17 Ainda o discurso de Khadafi: “Preparem-se para defender a Líbia. Preparem-se para defender o petróleo. Preparam-se para defender a dignidade. Este é o povo [líbio] que fez ajoelhar a Itália [antigo país colonizador]. Respondam-lhes, façam-nos sentir vergonha. Eu estou em Trípoli, estou na Praça Verde. E aqui estão os jovens, os filhos e netos das batalhas da jihad, cujos pais destruíram o império italiano. Cantem, dancem e preparem-se. Vamos lutar e vamos vencê-los”.

17h11 “Eu estou entre a multidão. Vamos continuar, vamos derrotá-los. Vamos morrer aqui, no querido solo da Líbia. Vamos derrotá-los como derrotámos o imperialismo italiano,” disse Khadafi num discurso de quase cinco minutos na Praça Verde, transmitido pela televisão estatal líbia. “Nós podemos derrotar qualquer agressão, se necessário – interna ou internacional”, disse perante milhares de pessoas. No final atirou beijos à multidão.

17h05 Conselho dos Direitos Humanos da ONU, reunido hoje em Genebra, exige inquérito às violações cometidas na Líbia

16h56 A Comissão Europeia vai destinar três milhões de euros à ajuda humanitária na Líbia e países limítrofes para onde tem fugido a população. Dinheiro servirá para medicamentos e alimentação, abrigos e artigos básicos de higiene e sobrevivência.

16h50 A BBC está a receber chamadas e mensagens de imigrantes subsarianos que dizem ter sido acusados de mercenários ao serviço de Khadafi, por causa da sua cor de pele, e por esse motivo atacados – tem-se falado em mercenários originários do Chade e de outros países africanos. O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados já tinha alertado para o perigo de serem confundidos.

16h44 A líder da Frente Nacional francesa (extrema-direita), Marine Le Pen, propôs hoje um acordo entre França, Espanha e Itália para que se “empurrem” para águas internacionais os migrantes que queiram fugir da Líbia e entrar na Europa.

16h38 Novos relatos dos ataques à porta das mesquitas em Trípoli: “Os disparos começaram quando ainda estávamos a rezar. E quando as pessoas começaram a sair, dispararam sobre elas. Muitos dos meus vizinhos morreram hoje. O meu irmão foi alvejado numa perna. A situação aqui é horrível. Há helicópteros no ar e chovem balas do céu. (...) A milícia e os apoiantes de Khadafi andam com armas pesadas e não deixam as pessoas juntar-se. Apenas disparam o tempo todo. Parece que estamos numa zona de guerra. E isto aqui é uma zona civil, as pessoas não estão armadas”, contou um residente à BBC.

16h37 A Amnistia Internacional e outras Organizações Não-Governamentais pediram hoje ao governo espanhol que nunca mais venda armas à Líbia e que reveja os contratos com os seus contratos com os países do Médio Oriente e de África16h34 O Presidente americano Barak Obama e o primeiro-ministro turco Recep Tayyip Erdogan concordaram hoje, durante uma conversa telefónica, que o regime líbio deverá ser responsabilizado pela repressão e violência dos últimos dias.

16h33 Catherine Ashton, chefe da diplomacia europeia, num discurso hoje proferido na Hungria, que assume actualmente a presidência rotativa da UE: “Tem sido uma prática corrente manter relações diplomáticas e comerciais com países com cujos sistemas internos de governo nós não concordamos - com a missão de os encorajar a, com o tempo, mudarem os seus comportamentos. Na realidade, no caso da Líbia, o regime de Khadafi foi trazido do frio [no sentido em que voltou ao palco da diplomacia internacional] quando, entre outras coisas, abandonou a sua intenção de adquirir armas de destruição maciça. Poderia Khadafi ter caído há vários anos se nós não lhe tivéssemos acenado com a ‘cenoura’ do comércio e do investimento em troca destas concessões? Talvez. Mas não estou convencida que o mundo fosse hoje um lugar mas seguro nem que o povo líbio vivesse melhor - se o Ocidente se tivesse recusado a negociar com Khadafi. Precisamos de calibrar a nossa atitude quando as circunstâncias mudam. Assim, o seu comportamento inadmissível dos últimos dias exigem que o voltemos a enviar para o frio”.

16h26 Os oito portugueses que estavam em Misurata a trabalhar para a Tecnomontagge já estão a caminho de Itália num barco fretado pela empresa, confirmou ao PÚBLICO uma fonte da secretaria de Estado das Comunidades.

16h15 O PÚBLICO soube do caso de mais um português que ainda não conseguiu abandonar a Líbia. É colaborador de uma empresa subcontratada pela russa Gazprom há três anos e está no deserto com outros funcionários da empresa para que trabalha, mas “livre de perigo”. “Hoje de manhã não havia forma de os resgatar para Trípoli”, contou um amigo com quem tem estado em contacto. “Mas há algumas horas deu notícias de dois bimotores que hoje retirariam todo o pessoal desse campo.”

16h14 Sanções da UE contra a Líbia e contra o regime de Muammar Khadafi só serão postas em prática nos próximos dias. O acordo alcançado hoje entre os 27 ainda precisa de ser redigido formalmente, esclareceu um diplomata citado pela AFP. Fontes da diplomacia europeia recusam-se a dizer quantos líbios serão abrangidos pelo “congelamento” de bens, para que se evite uma corrida aos bancos.

16h03 “Com os manifestantes que seguem para Praça dos Mártires [Praça Verde] há alguns veículos militares”, twitou o Movimento de Jovens da revolução de 17 de Fevereiro, minutos depois de dar conta de disparos contra os que se dirigiam para a praça.

16h02 Sarkozy diz: “Khadafi tem de partir”. Presidente francês estimou hoje, numa visita à Turquia, que as violências cometidas na Líbia pelo regime do ditador são “inaceitáveis e serão alvo de inquéritos e de sanções”.

15h59 A UE chegou hoje a um acordo para um embargo à venda de armas e de material de repressão à Líbia, bem como para o “congelamento” dos bens e a interdição de atribuição de vistos de viagem para Muammar Khadafi e para os seus familiares.

15h56 Rumores de deserções já dentro mesmo das unidades militares mais leais a Khadafi: “Há relatos de cisões dentro da brigada Khamis [unidade de tropas especiais comandada por um dos filhos do líder líbio]. Quando isto for confirmado é o sinal do fim do tirano”, diz no Twitter o Movimento de Jovens Revolução 17 de Fevereiro.

15h53 A delegação líbia junto da Liga Árabe, no Cairo, também renunciou hoje a quaisquer ligações a Muammar Khadafi e disse que a partir de agora irá representar a vontade do povo líbio. “Juntámo-nos às pessoas nas suas exigências legítimas de estabelecimento de um sistema democrático”, indicou a delegação líbia em comunicado, condenando os “crimes odiosos contra civis desarmados”. A delegação líbia junto da Liga Árabe mudou o seu nome para “os representantes do povo líbio na Liga Árabe”, disse à Reuters o vice-director de protocolo da Liga, Ahmed Nassouf.15h48 Grupos de manifestantes anti-regime foram dispersos pelas forças de segurança leais a Khadafi em algumas partes de Trípoli, mas em outras os protestos continuam, com vontade determinada de marcharem sobre a Praça Verde, é descrito por testemunhas locais. “Dispararam para o ar para os afastar”, conta um residente citado pela Reuters.

15h46 “Não não! Não me pode tirar o telefone! Largue o telefone! Você não pode falar com a Al-Jazira”, grita um residente líbio em Trípoli durante uma chamada em directo para aquele canal de televisão, ao ser-lhe tirado o telemóvel das mãos por um membro das forças de segurança de Khadafi. O telefonema terminou abruptamente.

15h43 “Sinto o coração pesado face a esta carnificina”, afirmou à Al-Jazira o alto comissário das Nações Unidas para os Refugiados, António Guterres, recusando porém expressar a sua “opinião política” sobre os acontecimentos na Líbia.

15h39 Também a Tunísia é hoje palco da maior manifestação desde o derrube do regime de Ben Ali, a revolta que precedeu todas as revoltas no mundo árabe. A AFP fala em pelo menos cem mil pessoas reunidas no centro de Tunes para exigir a demissão do governo interino liderado por Mohammed Ghannouchi, que foi primeiro-ministro do Presidente deposto.

15h32 A missão líbia junto do Conselho dos Direitos Humanos da ONU, em Genebra, demitiu-se em bloco, durante a sessão extraordinária de hoje, para se juntar "ao povo líbio na sua totalidade". O anúncio foi recebido com um enorme aplauso de toda a sala.

15h25 O Presidente Dimitri Medvedev anunciou que a Rússia está “seriamente preocupada” com a situação na Líbia. “Os russos condenam o uso de força contra civis, ordenados pela liderança do país”, assinalou o chefe de Estado, citado pela agência RIA-Novosti. “Pedimos que a actual liderança líbia se abstenham do uso da força para que a situação não piore até à aniquilação da população civil. Qualquer outra coisa será classificada como crime, com todas as consequências da legislação internacional que isso representa”.

15h23 O Ministério dos Negócios Estrangeiros anunciou que Luís Amado parte hoje para o Kuwait, para participar no 20º aniversário do fim da invasão iraquiana, e seguirá depois num périplo pela Jordânia, Argélia e Tunísia. Nestes três países, o ministro português irá “analisar o desenvolvimento das relações bilaterais nas suas várias dimensões”.

15h18 Inúmeros testemunhos narram que milhares de líbios em Trípoli estão a juntar-se para uma marcha anti-regime sobre a Praça Verde, mas a televisão estatal líbia garante ao mesmo tempo que apoiantes do coronel Khadafi, “homens e mulheres, jovens e crianças”, se encaminham para a icónica praça da capital para “apoiar e mostrar orgulho no líder da revolução”.

15h10 Os 56 portugueses que há dias tentam sair de Bengasi já embarcaram no ferry fretado pela empresa brasileira Queiroz Galvão, que só ainda não partiu para a Grécia por causa do mau tempo.

15h06 Os iraquianos já elegem o seu Governo, mas também em Bagdad há hoje um “Dia da Raiva”. Milhares concentraram-se hoje na praça Tahrir (da Libertação) em Bagdad para protestar contra a corrupção e a falta de serviços básicos. Os protestos espalharam-se a outras cidades e, segundo a Reuters, cinco pessoas terão morrido em confrontos com as autoridades.14h55Forças leais ao regime voltaram a tentar nas últimas horas ganhar o controlo de Zauia, a 44 quilómetros de Trípoli, mas foram forçadas a retirar pelos revoltosos sem conseguirem entrar na cidade, relata a Al-Jazira.

14h50 A base da Força Aérea líbia de Mutiqa aderiu à revolta contra Khadafi, avançam a Al-Jazira e a BBC. Esta é a base de onde levantaram voo na capital aviões que bombardearam os manifestantes anti-regime nos primeiros dias desta semana.

14h50 O encarregado de negócios líbio junto da ONU “servirá o povo” e não o regime, diz a AFP

14h45 Mubarak caiu há duas semanas, mas os egípcios mantêm a pressão sobre a junta militar que agora governa o país. Dezenas de milhares de pessoas regressaram hoje à praça Tahrir, bastião da revolta popular e, durante as orações do meio-dia o imã Mazhar Shaheen pediu à população que não desista das reivindicações e mantenha a pressão “até à vitória” da revolução.

14h43 “Reforços de Misurata, Zauia, Zintan e Bengasi chegaram às portas de Trípoli para ajudar os manifestantes [na capital, que se encontram sob fogo das milícias pró-Khadafi]”, narra um tweet citado pela BBC.

14h42 Algumas instalações da China National Petroleum Corporation foram atacadas. A empresa está a retirar os seus funcionários do país.

14h36 O Departamento do Tesouro americano pediu hoje aos bancos nacionais para escrutinarem as transacções que possam ser feitas em ligação com a actual situação na Líbia. O objectivo é impedir apropriações indevidas de bens estatais.

14h34 O dia também é de protestos no Bahrein, mesmo depois de a monarquia (sunita) ter prometido dialogar com a oposição xiita. Segundo jornalistas presentes em Manama, centenas de manifestantes reocuparam hoje a Praça Pérola, epicentro dos protestos que na semana passada fizeram seis mortos. A manifestação é pacífica e a maioria dos que ali estão pedem apenas reformas que conduzam a uma monarquia constitucional.

14h23 O correspondente do jornal britânico The Guardian no Iémen fala em pelo menos 50 mil manifestantes na rua, um “número sem precedentes”, junto à univerisdade de Sanaa. A agência Reuters fala em milhares de apoiantes e em outros tantos opositores ao regime de Ali Abdullah Saleh. Junto à universidade, as palavras de ordem são pelo fim do regime: “O povo exige a queda do regime.” A cerca de quatro quilómetros dali, vozes leais ao Presidente: “O criador da unidade está nos nossos corações, não vamos abandoná-lo.” Em Taiz, outra cidade do Iémen, os protestos juntam 10 mil pessoas. Saleh diz que não vai ceder à “anarquia e à matança”.

14h19 A Organização Internacional para as Migrações está a apelar a uma ajuda internacional inicial de 11 milhões de dólares para dar assistência aos migrantes apanhados na onda de violência. O mais recente balanço da organização aponta que o número total de pessoas que sairam da Líbia para o Egipto, Tunísia e Níger está entre as 40 mil e 50 mil, contando já as quase 7.500 que passaram a fronteira tunisina de Ras Adjir nas últimas 24 horas.

14h17 Duas Organizações Não Governamentais, Sherpa e Transparency International France, apresentaram uma queixa na justiça com o objectivo de se identificarem e “congelarem” os bens em França do dirigente líbio Muammar Khadafi e da sua família.

14h12 José Sócrates condenou hoje a violência na Líbia e disse acompanhar todos os que se empenham para que haja “total liberdade”, citou a Lusa. O primeiro-ministro português disse não se recordar de ter chamado “líder carismático” a Muammar Khadafi e garantiu que o Magrebe interessa a Portugal “do ponto de vista geoestratégico independentemente de quem esteja no poder”. 14h06 A UE está disposta a dar “uma considerável quantia de dinheiro” para ajuda humanitária. Nomeadamente para ajudar os milhares de pessoas que estão a fugir da Líbia e a procurar refúgio no Egipto e na Tunísia, indicou o porta-voz da Comissão Europeia Raphael Brigandi.

14h04 Mais outras duas pessoas terão sido mortas no ataque de “milícias pró-regime” contra civis às portas de mesquitas, estas testemunhadas no bairro popular de Fashloum, em Trípoli. Cinco mortes tinham sido já reportadas pouco antes em Janzour, também na capital, ao mesmo tempo que são ouvidos tiroteios também nos distritos de Ashour e Sug al-Joma.

13h54 O primeiro-ministro britânico, David Cameron, deu instruções aos seus cidadãos para saírem “agora” da Líbia e prometeu “fazer tudo o que for possível” para resgatar 170 que se encontram isolados numa região desértica. Esta manhã, o Guardian noticiou que o Foreign Office estaria a pagar subornos a funcionários líbios para agilizar a partida dos 500 britânicos que ainda permanecem no país, uma informação que foi “categoricamente” desmentida pelo Executivo.

13h49 A batalha de Zauia, a 44 quilómetros de Trípoli, saldou-se com a morte de “mais de 35 pessoas, talvez mesmo 50”, sustenta o porta-voz da Liga líbia de organizações de defesa dos Direitos Humanos, Ali Zeidan. Esta cidade foi palco dos mais ferozes combates ontem e está hoje cercada por postos de controlo policiais e militares.

13h36 Ouvem-se tiros em várias partes de Trípoli e testemunhas dizem à Reuters que pelo menos cinco pessoas já foram mortas no bairro de Janzour e de Sug al-Jomaa, sob o cerco de disparos indiscriminados que guardas armados fizeram à porta das mesquitas. “A situação em Trípoli é AGORA muito crítica, há disparos e cargas de gás lacrimogéneo e detenções”, twita Shabab Libya, a partir da capital.

13h33 O ferry fretado pelo Departamento de Estado norte-americano partiu esta manhã do porto de Trípoli, onde estava ancorado há dois dias esperando a melhoria das condições do mar. Segundo a diplomacia dos EUA, a bordo seguem cerca de 300 estrangeiros, metade dos quais norte-americanos. Foi só depois de ter recebido garantias que os seus cidadãos estavam a salvo que o Presidente Barack Obama condenou publicamente a repressão em curso na Líbia.

13h31 Saif el-Islam, um dos filhos de Khadafi, disse hoje numa entrevista a uma estação televisiva turca que não permitirá que um “punhado de terroristas” controle parte do país e que a sua família permanecerá na Líbia, custe o que custar. "O plano A é viver e morrer na Líbia. O plano B é viver e morrer na Líbia. O plano C é viver e morrer na Líbia", afirmou.

13h17 As forças leais a Khadafi estão a disparar contra pessoas que tentam agrupar-se em vários bairros de Trípoli, após saírem das mesquitas no final das orações da manhã, para a manifestação convocada para a Praça Verde, descrevem várias testemunhas ouvidas por telefone pela AFP.

13h12 O ferry que vai retirar o grupo de 56 portugueses de Bengasi atracou há minutos, confirmou ao PÚBLICO uma fonte da secretaria de Estado das Comunidades. A previsão é que dentro de quatro horas o barco grego, fretado pela empresa brasileira Queiroz Galvão, parta com destino à Grécia.

13h07 A televisão estatal líbia está a mostrar imagens da Praça Verde, em Trípoli, numa transmissão “directa”. Vêem-se cerca de 50 manifestantes, empunhando fotografias de Khadafi e ouve-se alguém no grupo gritar slogans pró-regime e cânticos em coro dizendo “revolução popular” e “nós somos os líbios”.13h06 A Save the Children anunciou que já enviou uma equipa de resposta a emergências para o Médio Oriente, em antecipação a uma possível crise de refugiados da Líbia.

13h00 A televisão estatal líbia transmitiu um sermão das orações de sexta-feira, em que um imã disse: “Aqueles que apelam ao caos não serão perdoados no Dia do Julgamento. Afastem-se das guerras internas. Temos de ficar longe de todo o mal e das acções erradas. Todos aqueles que desobedecem ao líder estão a desobedecer a Deus.”

12h45 Diz Hugo Chávez, o feroz anti-americano Presidente da Venezuela, no Twitter: “Viva a Líbia e a sua independência! Khadafi enfrenta uma guerra civil!”

12h35 As forças leais a Khadafi desertaram de Misurata, a terceira cidade líbia, mas muitas pessoas morreram em confrontos numa base aérea nas proximidades da cidade, contou um morador ao correspondente da AFP em Bengasi: “Há cerca de trinta mártires entre os nossos combatentes.”

12h29 Em Adjabiya, uma cidade da Líbia oriental, a polícia e o exército ter-se-ão juntado aos manifestantes. “Nós das forças policiais anunciamos que nos juntámos às pessoas na revolução de 17 de Fevereiro”, disse o capitão Hafiz Abdul-Rahim à televisão Al-Jazira.

12h23 “O ambiente é muito tenso. Não sabemos o que vai acontecer após as orações. Estamos com medo. Há filas para o pão e para o combustível. E a minha ligação de Internet está mais rápida hoje do que jamais a vi. Tenho suspeitas. Não fomos atacados pelo ar, mas o terror que vivemos no domingo e segunda-feira é inimaginável”, testemunha um residente de Trípoli à BBC. Um outro habitante da capital, num tweet, precisa que “Khadafi deu ordens para que todas as mesquitas fossem cercadas por guardas armados para impedir manifestações maciças”.

12h21 A França não vê qualquer necessidade de uma reunião da NATO sobre a Líbia, fez saber o Ministério dos Negócios Estrangeiros citado pela Reuters.

12h20 Trípoli acordou mergulhada num silêncio de medo, cercada por um aparatoso dispositivo militar leal a Khadafi e com a revolta popular bem às portas da cidade, vinda de Leste e Oeste do país, ao 11º dia de contestação ao regime. De dentro mesmo da capital, a oposição diz querer tomar a Praça Verde ainda hoje, após as orações da manhã. “É sexta-feira. Khadafi cai hoje”, é a frase que mais corre a boca do movimento de revolta.

12h017 Soldados e mercenários passaram os últimos dois dias a limpar Trípoli. “Eles começaram a limpar as ruas e a pintar as paredes onde havia mensagens escritas contra o regime. Estão a limpar as paredes das marcas dos fogos que houve aqui nos últimos dias, para parecer que não aconteceu nada. Mas se olharmos de perto vemos que pintaram muito mal as paredes... vê-se que estavam a tapar algo”, conta um residente numa mensagem de voz no website Alive in Lybia

12h15 Em Bengasi, a primeira cidade “libertada” na revolta contra o regime autoritário de Khadafi (há 42 anos no poder), foi criado um governo informal com comités que estão a gerir as questões de segurança, de saúde pública, abastecimentos alimentares e deslocação segura dos cidadãos estrangeiros.

12h11 Zauia está rodeada por postos de controlo militares e policiais, mas as forças de segurança fiéis a Khadafi não conseguiram entrar na cidade, a apenas 44 quilómetros de Trípoli.

12h07 “Percorri de carro os vastos desertos da Líbia oriental, desde a fronteira com o Egipto até Bengasi. Cidades como Tobruk e muitas outras vilas no caminho estão calmas. Só se vêem bandeiras antigas do tempo da monarquia, e nenhum sinal das forças pró-Khadafi”, descreve o correspondente da BBC Kevin Connoly.

Os vários nomes do coronel


O ainda líder líbio, Muammar Khadafi, é uma figura enigmática, mas se parece fácil catalogar os diferentes estilos das suas vestes – a revista “Vanity Fair” descreveu-o como "vilão da moda" com influências de Lacroix, Liberace, Phil Spector (no cabelo), Snoopy e Idi Amin (defunto ditador e canibal do Uganda) – já o seu nome permanece um indecifrável mistério.
  
A Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, por exemplo, regista 32 grafias diferentes:
(1) Muammar Qaddafi
(2) Mo'ammar Gadhafi
(3) Muammar Kaddafi
(4) Muammar Qadhafi
(5) Moammar El Kadhafi
(6) Muammar Gadafi
(7) Mu'ammar al-Qadafi
(8) Moamer El Kazzafi
(9) Moamar al-Gaddafi
(10) Mu'ammar Al Qathafi
(11) Muammar Al Qathafi
(12) Mo'ammar el-Gadhafi
(13) Moamar El Kadhafi
(14) Muammar al-Qadhafi
(15) Mu'ammar al-Qadhdhafi
(16) Mu'ammar Qadafi
(17) Moamar Gaddafi
(18) Mu'ammar Qadhdhafi
(19) Muammar Khaddafi
(20) Muammar al-Khaddafi
(21) Mu'amar al-Kadafi
(22) Muammar Ghaddafy
(23) Muammar Ghadafi
(24) Muammar Ghaddafi
(25) Muamar Kaddafi
(26) Muammar Quathafi
(27) Muammar Gheddafi
(28) Muamar Al-Kaddafi
(29) Moammar Khadafy
(30) Moammar Qudhafi
(31) Mu'ammar al-Qaddafi
(32) Mulazim Awwal Mu'ammar Muhammad Abu Minyar al-Qadhafi

Em 1986, o coronel que há mais de quatro décadas governa um país tribal e petrolífero, agora mergulhado numa revolta popular sanguinariamente reprimida, respondeu a uma carta enviada por uma escola do Minnesota (EUA), clarificando que a maneira correcta de escrever o seu nome é Moammar El-Gadhafi. A dúvida ficaria resolvida se o seu “site” oficial não o identificasse como Muammar Al Gathafi.

Perfil: Khadafi voltou a ser um “Mad Dog”

O coronel que governa a Líbia há mais de quatro décadas deixara de ser um revolucionário anti-imperialista para se tornar aliado do Ocidente contra o terrorismo. Com a repressão sangrenta de uma revolta popular, regressou aos tempos tenebrosos que levaram Reagan a chamar-lhe “o cão raivoso do Médio Oriente”
Foi a 1 de Setembro de 1969 que Khadafi derrubou a realeza 
Foi a 1 de Setembro de 1969 que Khadafi derrubou a realeza 

Em 2009, seis dias de extravagantes festividades, que incluíam um "show de mil camelos e 40 balões de ar quente", assinalaram quatro décadas de poder de Muammar Khadafi e a transformação da Líbia de pária em parceiro de europeus e americanos.

Na altura, a analista Molly Tarhuni, do Royal Institute of International Affairs (Chatham House), em Londres, descrevia as cerimónias como “um ponto de viragem", ou “a prova de que Khadafi é um sobrevivente e que muitos o subestimaram”. Ele pode ser um excêntrico, salientava Tarhuni, numa entrevista ao PÚBLICO, por telefone, mas o Ocidente precisa dele. “Porque a Líbia possui reservas confirmadas de petróleo que ascendem a 41,5 mil milhões de barris e de gás natural num total de 1490 biliões de metros cúbicos de gás natural entre as dez maiores do mundo. A sua importância económica, política e de segurança não se alterou em 40 anos.”

Não admira o sentimento de embaraço de um Ocidente com lucrativos contratos com a Líbia perante a sanguinária repressão de milhares de manifestantes que, na sequência das revoluções contra Ben Ali, na Tunísia, e de Hosni Mubarak, no Egipto, se viraram contra o seu tirano. Ao contrário dos tunisinos e dos egípcios, porém, os líbios estão a pagar um preço muito mais elevado pela sua insurreição: o número de mortos ultrapassou os 2000, segundo diversas estimativas. Khadafi prometeu que lutaria até à última bala, e assim está a fazer, com a ajuda dos seus batalhões tribais (o exército, repartido por clãs subornados, nunca foi uma instituição nacional) e dos mercenários africanos que contratou.

“ Khadafi está divorciado da realidade”, disse ao PÚBLICO, numa entrevista por telefone, Diederick Vandewalle, um dos maiores especialistas na Líbia, professor associado da Faculdade de Dartmouth, (New Hampshire, EUA). “Quando se é ditador durante 42 anos, já ninguém nos diz o que é a realidade, com medo de nos contradizer. Os seus últimos discursos mostraram bem o quanto ele está distante da realidade”, acrescentou o autor de Libya Since Independence: Oil and State-building e Qadhafi’s Libya (1969-1994).

Para manter o poder, beduíno do “Livro Verde” (um guia mesclado de socialismo e islamismo) está a massacrar a sua própria população; já perdeu controlo da parte oriental do país (onde estão os poços de petróleo) e de sectores importantes de Trípoli, a capital; deixou também de contar com o apoio de tribos poderosas, como a Warfalla, que o ajudou a derrubar a monarquia em 1969.

O “Guia da Revolução

Foi a 1 de Setembro de 1969 que Khadafi, membro da tribo Kadhadhafa, um capitão do Exército de 27 anos, tratado pelos amigos como “al-jamil” (o bonitão), derrubou a realeza e instituiu uma Jamahiriya (“estado das massas”) Árabe Líbia Popular Socialista. O rei Idris al-Sanussi estava em tratamento na Turquia e não regressou. O príncipe herdeiro, o sobrinho Hassan, foi obrigado a abdicar.

No dia 8, o chefe do novo governo era Sulayman al-Maghribi, um dos oficiais golpistas, mas, no dia 13, Khadafi, formado numa academia militar depois de interrompido um curso de Geografia na Universidade de Bengasi, já era o "Líder Irmão" e "Guia da Revolução", os únicos títulos que reteve, a par da patente de coronel (recusou ser promovido a general).

A "revolução socialista", sem sangue, foi apresentada por Khadafi, filho de pastores nómadas do deserto de Sirta, como reacção contra a corrupção da dinastia Sanussi e a sua "subserviência aos imperialistas" desde a independência, em 1951. Uma das primeiras decisões que tomou foi ordenar o encerramento das bases do Reino Unido e dos EUA, e a retirada das tropas. Seguiram-se expropriações e nacionalizações de outros interesses estrangeiros.

Como uma nova doutrina a que chamou "Terceira Teoria Internacional", nem capitalismo nem comunismo, Khadafi tentou mobilizar os árabes para o sonho de uma união, sob a liderança do seu ídolo, o egípcio Gamal Abdel Nasser. Os árabes, desconfiados das suas ambições, olhavam-no como "um louco" e recusaram segui-lo. Desiludido, ele trocou o pan-arabismo pelo pan-islamismo, competindo com os sauditas pela influência muçulmana em África. Tinha muito dinheiro para gastar, e não só em mesquitas. Foi banqueiro da Organização de Libertação da Palestina, e da Frente Polisário; do Exército Republicano irlandês (IRA) e de grupos rebeldes no Chade (onde travou uma longa guerra depois de anexar, em 1979, a Faixa de Aouzou, rica em urânio) na Libéria e na Serra Leoa; dos mercenários Carlos, “O Chacal”, e Abu Nidal.Berlim, Lockerbie, Al-Qaeda

Os anos 1980 ficaram marcados por uma extrema violência. Entre 1980 e 1982, enviou esquadrões da morte de “comités revolucionários” para assassinar os dissidentes no estrangeiro que renegava como “cães vadios”. Em 1986, ordenou um atentado na discoteca La Belle, em Berlim (três mortos e 200 feridos, alguns soldados americanos) e, em 1988, fez explodir um avião da Pan Am, sobre a cidade escocesa de Lockerbie (270 mortos). O então Presidente dos EUA, Ronald Reagan, amaldiçoou o "Mad Dog of the Middle East" (cão raivoso do Médio Oriente) e ripostou, mandando bombardear Trípoli e Bengasi. Morreram 60 militares e civis, incluindo uma filha adoptiva de Khadafi.

No final da década de ‘90, submetido a quase uma década de sanções internacionais e enfrentando uma oposição islamista, Khadafi mudou de rumo. Em 1998, foi o primeiro a pedir um mandado de captura para Osama bin Laden. Bill Clinton ignorou a sua proposta de cooperação, mas George W. Bush não lhe virou as costas. A 12 de Setembro de 2001, um dia depois dos ataques da Al-Qaeda, o então chefe dos serviços secretos líbios, Musa Kusa, contactou a CIA e disse-lhes: "Esta é a nossa lista de suspeitos." Em troca, teve autorização para os seus agentes interrogarem presos líbios em Guantánamo.

É claro que antes, em 1998, Khadafi já havia concordado em entregar os dois suspeitos de Lockerbie para serem julgados, e aceitara "responsabilidade" (mas não culpa) pelo ataque. Pagou 2,7 mil milhões de dólares em indemnizações às famílias das vítimas. No ano seguinte, após a suspensão das sanções, os investimentos estrangeiros na Líbia atingiram os 8000 milhões de dólares.

A 20 de Agosto, Khadafi conseguiu a libertação do único condenado, Abdel Basset al-Megrahi, membro de uma tribo, a Megraha, profundamente leal ao regime. Os britânicos invocaram "razões humanitárias" para Megrahi não cumprir 27 anos de uma pena perpétua sofre de cancro e tem "menos de três meses de vida", mas especula-se que foi trocado por lucrativos acordos comerciais com o mais próspero país do Norte de África.

A reabilitação

Em 2003, o imprevisível Khadafi tomou a mais inesperada das decisões: anunciou o fim do programa de armas químicas e nucleares. Seguiram-se cimeiras com Tony Blair (e um contrato com a British Petroleum/BP no valor de 90 milhões de dólares); com Nicolas Sarkozy (que assegurou acordos de 10 mil milhões, a maioria no sector da defesa); e com Silvio Berlusconi (que garantiu negócios de 5000 milhões e o controlo da imigração clandestina – entretanto perdido –, após ter pedido perdão pelo período colonial italiano).

A Líbia atrai os europeus porque o custo de transportar o seu petróleo, pelo Mediterrâneo, é inferior ao dos países produtores do Golfo Pérsico. Os líbios, por seu turno, a dar os primeiros passos para uma economia de mercado (reduziram subsídios, privatizaram mais de cem empresas desde 2003 e pediram adesão à Organização Mundial do Comércio/OMC), estão sedentos de capitais para modernizar as suas obsoletas infra-estruturas e fazer face a um elevado desemprego.

Khadafi – o hipocondríaco que ultimamente vinha trocando as suas guarda-costas etíopes por uma enfermeira búlgara, “loura voluptuosa”, que tem medo das alturas e desfigurou o rosto com excesso de botox (dados da WikiLeaks) ¬– estava a colher os frutos de ter mudado de campo. A Líbia chegou a membro não permanente do Conselho de Segurança da ONU – dois anos de mandato iniciado em Janeiro de 2009 –, ano em que assumiu também a presidência da Assembleia Geral das Nações Unidas, tendo ainda integrado o conselho de governadores da Agência Internacional de Energia Atómica.Ter chegado até ali foi mérito do autoproclamado "rei dos reis de África", que tomava “todas as decisões" e tinha “a última palavra”, notou Molly Tarhuni na entrevista ao PÚBLICO. A grande questão que a especialista da Chatam House colocava não era se ele seria alguma vez derrubado – algo que ela considerava “muito improvável” num país com menos de seis milhões de habitantes, politicamente pouco activos e sob controlo rígido das forças de segurança" –, mas “o que vai acontecer assim que ele sair de cena", já que impedira sempre qualquer alternativa à sua ditadura.

Como observou o iraniano-americano Karim Sadjadpour, investigador no Carnegie Endowment for International Peace, nos Estados Unidos, “quando se referem à queda dos regimes, os analistas geralmente dizem antes que ‘é impensável’; e depois acabam por admitir que ‘era inevitável’”. Será assim, no caso de Khadafi?

ONU discute sanções ao regime de Khadafi

Confrontada com o discurso cada vez mais desafiador de Muammar Khadafi, a diplomacia internacional mobiliza-se para forçar o líder líbio a pôr fim à sangrenta repressão das manifestações.
Ban Ki-moon também lembrou a urgência de agir 
Ban Ki-moon também lembrou a urgência de agir 
 
Nas instâncias internacionais, mas também em várias capitais sucederam-se durante o dia de ontem anúncios de sanções ao regime de Trípoli, mas a prometida acção concertada tarda em produzir efeitos.

Ao final da tarde, e coincidindo com a chegada a Malta de um ferry com centena e meia de cidadãos americanos, o porta-voz da Casa Branca anunciou o encerramento da embaixada em Trípoli (suspendendo na prática as relações diplomáticas retomadas em 2004) e a decisão de avançar com sanções unilaterais contra o regime líbio, além das que venham a ser adoptadas "a nível multilateral". A legitimidade de Khadafi foi "reduzida a zero", disse Jay Carney, sublinhando que Washington mantém "todas as opções" em cima da mesa, incluindo uma potencial (mas improvável) acção militar.

Começam, assim, a concretizar-se os avisos feitos pelo Presidente americano quando, quarta-feira, exigiu o fim do "inaceitável banho de sangue" em curso na Líbia. Barack Obama sublinhou, porém, que a responsabilidade pelo fim da repressão "deve ser partilhada" e, nos últimos dois dias, manteve contactos com vários líderes europeus para concertar acções.

Depois disso, o Reino Unido e França apresentaram ao Conselho de Segurança uma proposta de resolução exigindo o fim imediato da violência e a imposição de sanções ao país, incluindo um embargo à venda de armas, o congelamento dos bens e a proibição de viajar aos líderes líbios. Medidas em tudo idênticas às que a União Europeia decidiu entretanto adoptar.

O texto, apresentado numa reunião de emergência do Conselho de Segurança, adianta ainda que os relatos de violência que chegam da Líbia "poderão equivaler a crimes contra a humanidade" e sugere que o caso seja entregue ao Tribunal Penal Internacional (TPI) - instância que Trípoli não reconhece e que, por isso, só pode intervir a pedido da ONU.

emana.

Temendo o arrastar das discussões, o secretário-geral, Ban Ki-moon, lembrou a urgência de agir: "É tempo de o Conselho de Segurança adoptar acções concretas. As próximas horas e dias podem ser decisivos para os líbios." Presente na sala, o embaixador Abdurrahman Shalgham, que entretanto repudiou Khadafi, pediu uma "acção efectiva" do mundo para parar os massacres, antes de irromper em lágrimas e ser cumprimentado pelos que assistiam à reunião.

Mas ainda que a resolução seja aprovada em breve, permanece a dúvida sobre a capacidade internacional para pôr fim à repressão, tanto mais que o texto não refere a imposição de uma zona de exclusão aérea sobre a Líbia. A proposta foi inicialmente feita por Washington, sugerindo que a Itália ou França seriam os países em melhores condições para a impor, com o apoio da NATO. Mas o Guardian adiantou que a medida foi excluída da resolução, "sobretudo porque a Rússia e a China não apoiariam medidas estritamente não-militares".

O assunto esteve também em discussão na reunião, na Hungria, dos ministros da Defesa da UE, mas no encontro foi decidido dar prioridade ao repatriamento dos cidadãos europeus, se necessário recorrendo ao meios militares. Presente na reunião, o secretário-geral da NATO, Anders Fogh Rasmussen, ofereceu a ajuda da Aliança para coordenar a retirada e também ele preferiu não se pronunciar sobre a criação da zona de exclusão aérea - "uma decisão tão grave que exige um mandato claro da ONU".

Fontes diplomáticas, citadas pelas agências, dizem haver um relativo consenso para a imposição de sanções, mas não foi ainda marcada uma data para a votação, que pode não acontecer antes da próxima semana.
A questão voltará, porém, a ser discutida na segunda-feira, quando a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, visitar Genebra para uma nova reunião do Conselho de Direitos Humanos da ONU sobre a Líbia, adiantaram fontes diplomáticas.

No encontro de ontem, aquele organismo decidiu, por unanimidade, suspender a participação da Líbia e anunciou o lançamento de um inquérito internacional à repressão.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

“Só me retirarei da política com a minha morte biológica” 20 Fevereiro 2011

Onésimo Silveira insurge-se contra aqueles que o apelidaram de bairrista durante a campanha. O cabeça-de-lista do PTS por S. Vicente, que não conseguiu eleger-se, afirma que há uma linguagem sociológica que os intelectuais de Santiago não entendem ou fingem não entender, que é a provocação para permitir o debate. E apesar de considerar que o PTS sofreu um grande “desaire eleitoral”, Silveira não entrega os pontos e anuncia que só se retirará da política com a sua morte biológica. Em suma. Para esse veterano da política, o PAICV saiu como o claro vencedor destas eleições enquanto o MpD e a UCID foram os claros derrotados.

“Só me retirarei da política com a minha morte biológica”

Que leitura faz dos resultados das eleições de 6 de Fevereiro último?


Os resultados das recentes eleições não foram substancialmente diferentes dos da legislatura anterior. O PAICV, apesar de uma campanha bem concebida e bem implementada, perdeu um deputado. Quanto ao MpD, vejo uma campanha riquíssima. O seu líder, Carlos Veiga, deu mesmo a impressão de estar a realizar uma campanha sublinhada pelo desespero de chegar ao poder, mas não conseguiu atingir esse objectivo. De maneira que o PAICV é o claro vencedor. É um vencedor histórico, porque, pela primeira vez no nosso país, o mesmo partido foi eleito pela terceira vez consecutiva para formar governo. A UCID já reconheceu a sua pesada derrota, uma vez que contava eleger seis deputados, mas não conseguiu mais do que dois.

Quanto ao PTS, o que falhou?


O PTS foi de facto, como disse o Dr. Corsino Tolentino, o grande desaire destas eleições. Mas isso resulta de uma leitura do poder. O PTS não entrou nestas eleições com o objectivo de ganhar o poder. Os dois grandes partidos, mais a UCID, declararam e trabalharam no sentido de atingir o poder. O PAICV e o MpD lutaram pela via da maioria e a UCID quis funcionar como partido charneira. O PTS entrou com o uniforme da campanha, mas sem ferramentas e armas de campanha. Participou na corrida para atingir o objectivo, que vinha programando desde 1995, que é o da regionalização. Do ponto de vista da ideologia, da qualidade e de política, o PTS teve uma grande vitória. É que a sua mensagem foi ouvida por todos os restantes partidos políticos.
Será que o seu discurso, tido em meios políticos, e não só, como sendo bairrista, terá contribuído para esse desaire do PTS?
De maneira nenhuma. Não tivemos meios para fazer uma campanha para o poder. Fizemos uma campanha nitidamente política. O PTS desembaraçou-se de uma faixa importante da classe média, introduziu na sua equipa pessoas totalmente desconhecidas. Tínhamos candidatos, mas faltava-nos uma equipa. Isto condicionou os resultados que tivemos. Mais ainda: o PTS subiu à cruz pelos próprios meios, quando fez o seu último congresso, que foi, em termos de adesão, um autêntico fracasso. Nenhum partido faz um congresso se não contar com uma boa presença de aderentes e simpatizantes. O referido congresso foi um desaire e o PTS não conseguiu, durante a campanha, superar essa situação. Digo, por isso, que o PTS subiu à cruz e o povo acabou por crucificá-lo.

Mas observadores consideram que o seu discurso “bairrista” também se reflectiu nos resultados eleitorais conseguidos pelo PTS.


Eu gostaria que aparecesse gente com coragem em Cabo Verde, sobretudo intelectuais, para discutirmos seriamente a questão do bairrismo, principalmente aquele bairrismo que aponta para a humilhação do Mindelo. S.Vicente é uma sociedade integradora por natureza e por excelência. Nós fomos os primeiros a integrar todos os cabo-verdianos. Depois dos cabo-verdianos passamos a integrar todos os estrangeiros. Nós não podemos, por isso, ser bairristas. Há, no entanto, um bairrismo que vem, neste momento, da Capital, um bairrismo que deriva de uma política hegemónica. Um bairrismo organizado que pretende reduzir S.Vicente a uma expressão mínima, quer do ponto de vista linguístico, quer do ponto de vista mais abrangente, que é o cultural. É por isso que falamos de colonização, em contraposição com a regionalização. Eu enfatizei, nas minhas intervenções, a questão da cultura, em que os nossos dirigentes, desde a primeira República, não têm brilhado e nem têm dado a devida atenção aos aspectos marcantes do Mindelo, através da sua história.

O seu discurso, nomeadamente o não à colonização de S.Vicente por Santiago, foi pura provocação?


Sim. Há uma linguagem sociológica que os intelectuais da Capital não entendem ou fingem não entender: a pequena provocação, a galhofa, que qualquer sociedade sempre faz, quando em presença de elementos estranhos. Antes do abraço da morabeza, provocamos, tomando pulso àqueles que vamos integrar. É uma forma de avaliação instintiva, um mecanismo de defesa, uma espécie de precaução. Nós aqui em S.Vicente, integramos russos, italianos, cabo-verdianos e africanos da nossa costa. Isto atribui a Mindelo pergaminhos extremamente importantes, tanto do ponto de vista político e cultural, como do ponto de vista sociológico. O meu discurso foi, consequentemente, enfático, a dizer não ao bairrismo. Este vem de outros lados e, cuidado, tomem muito cuidado com S.Vicente. Sobre ela pairam pesadas nuvens de ignorância. A evolução da ilha poderá escapar-nos se não fizermos análises correctas do seu desenvolvimento neste momento. Isto inclui questionar os princípios da boa governação e dos progressos alcançados nos últimos anos. Dizer que nós fomos bairristas é uma maneira de atingir pessoas em vez de atingir alvos. É uma maneira de atirar lama, que poderá voltar àqueles que a atiram.

Alguns analistas conjecturam que as recentes eleições ditaram a morte de dois veteranos da política cabo-verdiana: Onésimo Silveira e Carlos Veiga. O que diz sobre isso?


Quanto ao Dr. Carlos Veiga, ele certamente responderá. Posso emitir uma opinião: em momento algum ele deixou entrever a possibilidade de se retirar da vida política. Ele está, há mais de 20 anos, metido na política e não vejo porquê ele haveria de abandonar a política activa. Quanto a mim, devo esclarecer que sou e continuarei a ser patriota, um filho de S.Vicente que compreende a posição da sua ilha no xadrez político e cultural cabo-verdiano. Para mim, a política só acabará com a minha morte biológica.

Mas vai retirar-se da política activa?


De maneira nenhuma. Como já disse, eu só deixarei de fazer política com a minha morte biológica. Enquanto eu tiver forças para me bater por Cabo Verde e por S.Vicente, não deporei as armas.

Diante dos resultados das recentes eleições, será que o PTS tem futuro?


Isso vai depender do próprio PTS, que é um partido novo e sem meios. A sua continuidade é uma questão de coragem. Mas pela bandeira da regionalização que levantamos, eu não vejo porquê haveríamos de abandonar esta tão importante bandeira que é de todo o Cabo Verde.

Entrevista: Alírio Dias de Pina

Salvio retira os alemães do jogo !


Tratava-se de uma questão de tempo. O Benfica estava galvanizado e preparava-se para colocar o Estugarda no seu lugar, fora da eliminatória seguinte. Gaitán e Coentrão ameaçaram momentos antes, mas foi Salvio a encostar a turma germânica às cordas. Aimar bateu um canto na esquerda, Luisão saltou com Delpierre e a bola sobrou para Salvio, que, à entrada da área, não deixou os seus créditos por mãos alheias, colocando-a no fundo das redes de Ziegler com um remate rasteiro e bem colocado. Este golo deu maior tranquilidade ao Benfica e praticamente retirou o Estugarda do jogo. É verdade que foi numa fase embrionária da partida, havia ainda muitos minutos para se jogar, mas percebeu-se que estava encontrada a chave do sucesso. A equipa de Labbadia ainda tentou encontrar caminhos para as redes de Roberto, mas estes estavam todos fechados. E quando as águias se soltam, é um problema.


A figura: Gaitán 

Este já dá baile de olhos fechados


Terá realizado, muito provavelmente, um dos melhores jogos com a camisola dos encarnados, à semelhança das últimas partidas. Na ausência de Saviola, parecia ser ele que conhecia Pablo Aimar há muitos anos. Com El Mago, jogou quase de olhos fechados; com Fábio Coentrão, fez uma ala esquerda a cem à hora, revelando-se uma permanente dor de cabeça para o adaptado lateral-direito Boulahrouz, que só o conseguia parar recorrendo a inúmeras faltas, muitas que o árbitro nem assinalou. O internacional argentino está cada vez mais afeiçoado à ala esquerda e à função de extremo, e faz com que todos esqueçam que é no centro do terreno, a 10, que se sente bem mais à vontade. Os 8,4 milhões que os encarnados gastaram na sua contratação parecem uma ninharia comparados com o futebol que este argentino demonstra cada vez mais.

Trauma liquidado com dois balázios !




Pronto, está resolvido: o Benfica quebrou o enguiço na Alemanha vencendo neste país pela primeira vez. Dois balázios deixaram o Estugarda KO e confirmaram que a equipa de Bruno Labbadia não tinha pedalada para o campeão luso. No primeiro, Salvio aproveitou uma bola perdida e, à entrada da área, desferiu um remate rasteiro; no segundo, já com nota artística, Cardozo apontou um livre directo de forma irrepreensível. Os encarnados seguem para os oitavos-de-final da Liga Europa, onde vão defrontar o Paris Saint-Germain, com o qual Jorge Jesus tem contas a ajustar, pois foi eliminado pelos franceses quando estava no Braga. E, coincidência do destino, tal aconteceu nos oitavos-de-final.
O treinador do Benfica tinha avisado que "há dias em que a história muda", e ontem, frente ao Estugarda, ela mudou mesmo. Jesus venceu o braço-de-ferro com o homólogo alemão porque a sua equipa é muito melhor. Em todos os aspectos do jogo. Aliás, ficara a ideia de que na Luz, na última semana, a eliminatória poderia ter ficado logo resolvida.
Sem Saviola, indisponível à última hora, Jesus chamou Jara ao ataque, e a primeira consequência desta mudança forçada foi uma maior intensidade na pressão sobre os defesas contrários; Jara nem sempre tomou as opções mais felizes, mas ajudou Cardozo, Gaitán e Salvio a empurrar o adversário para a sua zona defensiva. E foi por aí que a defesa alemã começou a falhar. A pressão exercida pelos atacantes do Benfica retirou espaço ao opositor e, como a qualidade técnica também não é abundante por aqueles lados, tudo se tornou mais simples para os homens da Luz. Gaitán deu o primeiro sinal de que desta vez poderia mesmo ser feita história com um remate em jeito: Ziegler, esse mesmo, ao qual o treinador deu a titularidade porque estava farto de ouvir críticas, fez uma defesa estrondosa aos 7'. Coentrão voltou a obrigar o guardião contrário a um esforço suplementar pouco tempo depois, mas foi Salvio a colocar praticamente um ponto final na eliminatória aos 30', num remate rasteiro de fora da área.
Percebeu-se a partir desse momento que o triunfo estava nas mãos dos encarnados. Mas para a festa ser completa, faltava um pequeno toque de magia, e ele chegou por intermédio do pé esquerdo de Cardozo na marcação de um livre directo. O Tacuara satisfez a vontade dos muitos emigrantes presentes no Mercedes-Benz Arena e respondeu ao apelo do coração, bailando como uma galinha na hora da celebração.
O Estugarda não apresentava qualidade para invadir com perigo o sector mais recuado das águias. Pelo contrário, Gaitán continuava a dar um verdadeiro recital à esquerda, com os acompanhantes do costume. Só Airton destoava um pouco, sobretudo na fase de construção do jogo ofensivo. O jovem brasileiro foi importante na recuperação, utilizando muito músculo, mas perdia-se depois, quando surgia como primeiro organizador. Esse papel ficou por inteiro para Aimar, que, reagindo às insuficiências do colega, recuou sempre muito no terreno para pegar, e bem, no jogo. O Benfica jogou, impôs a velocidade e amarrou o adversário como quis.
O Estugarda limitava-se a ver o carrocel da águia em acção permanente. As suas principais unidades (Okazaki, Hajnal e Harnik) estavam presas ao meio-campo, porque a pressão era intensa e não havia espaço para nada. E ficou sempre a sensação de que, se apertasse mais um bocadinho, o Benfica poderia ter tido uma nota artística bem mais elevada. As oportunidades sucederam-se, os lances de bom futebol também. Os encarnados marcavam um novo ciclo no seu percurso em solo germânico vencendo um adversário que, curiosamente, até foi mais consistente no Estádio da Luz do que ontem, diante dos seus adeptos. O Estugarda ficou pelo caminho e demonstrou que não tem andamento para esta competição.

Ficha de jogo

Estugarda 0 | Benfica 2
Mercedes-Benz Arena
Assistência: Cerca de 40 000 espetadores
Árbitro: Mike Dean (Inglaterra)
Estugarda: Marc Ziegler (Sven Ulreich, 52), Khalid Boulahrouz (Timo Gebhart, 61), Georg Niedermeier, Matthieu Delpierre, Cristian Molinaro, Christian Träsch, Zdravko Kuzmanovic, Martin Harnik, Tamás Hajnal (Élson, 79), Shinji Okazaki e Sven Schipplock
(Suplentes: Sven Ulreich, Stefano Celozzi, Ermin Bicakcic, Timo Gebhart, Patrick Funk, Élson e Daniel Divadi).
Benfica: Roberto, Maxi Pereira, Luisão, Sidnei, Fábio Coentrão, Airton, Salvio, Aimar (Carlos Martins, 73), Gaitan, Jara (Alan Kardec, 90+2) e Cardozo (Felipe Menezes, 89)
(Suplentes: Júlio César, Luís Filipe, Roderick, Felipe Menezes, Carlos Martins, Nuno Gomes e Alan Kardec)

Ao intervalo: 0-1
Golos: 0-1, Salvio, 30 minutos; 0-2, Cardozo, 78
Amarelos para Sidnei (44), Matthieu Delpierre (46), Shinji Okazaki (76), Timo Gebhart (80), Carlos Martins (80) e Élson (90+2)
Vermelho directo para Zdrzvko Kuzmanovic (90+7)

Trauma liquidado com dois balázios !!

Pronto, está resolvido: o Benfica quebrou o enguiço na Alemanha vencendo neste país pela primeira vez. Dois balázios deixaram o Estugarda KO e confirmaram que a equipa de Bruno Labbadia não tinha pedalada para o campeão luso. No primeiro, Salvio aproveitou uma bola perdida e, à entrada da área, desferiu um remate rasteiro; no segundo, já com nota artística, Cardozo apontou um livre directo de forma irrepreensível.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

A família dividida e disfuncional que governa a Líbia

Clã Khadafi controla várias áreas do poder

 


Quando participou no golpe de Estado contra a monarquia líbia, a 1 de Setembro de 1969, Muammar Khadafi tinha apenas 27 anos. Não admira que tenha sentido necessidade de se rodear de familiares em quem confiava. Ainda hoje, o seu clã domina vários aspectos da vida no país.
Saif el-Islam ganhou prestígio com o dossier Lockerbie 
Saif el-Islam ganhou prestígio com o dossier Lockerbie.

"Não há ninguém cuja cara é conhecida da televisão que não seja próximo de Khadafi", disse ao Guardian um antigo responsável líbio.

Mas nem por isso a família do coronel é unida. Aos 68 anos, Khadafi não se poderá gabar de ter criado de forma irrepreensível os seus oito filhos. Os telegramas enviados para Washington em 2009 pelo embaixador americano em Trípoli, conhecidos através do WikiLeaks, falavam num clã familiar "com fama de dividido", poderoso, rico, disfuncional e com lutas internas.

Num país fragmentado por lealdades tribais, o coronel encontrou no nepotismo a resposta para o controlo económico e político, colocando os seus familiares em postos-chave.

Chegou mesmo, em Outubro de 2009, a nomear o seu segundo filho, Saif el-Islam, para lhe suceder na chefia do Estado - aquele que no domingo se dirigiu aos líbios amedrontando-os com uma "guerra civil" e "anarquia", e que, por isso, poderá ter acabado com a hipótese de vir a comandá-los, segundo alguns analistas.

Saif el-Islam (Espada do Islão), de 38 anos, doutorado pela London School of Economics, era até há pouco tempo visto como a face reformadora do regime. Foi uma voz bastante crítica do seu pai, e em 2006 deixou a Líbia, para depois regressar e tornar-se no mais provável herdeiro. A liderança da Fundação Internacional Khadafi para o Desenvolvimento e Caridade, envolvida nas negociações para a libertação de reféns sequestrados por islamistas nas Filipinas, trouxe-lhe prestígio. Tomou conta do dossier Lockerbie e encorajou o desmantelamento do programa nuclear líbio, amenizando a imagem do regime no exterior.

O seu futuro parecia traçado. Mas muita coisa mudou desde domingo. Enquanto a população desafiava as forças de segurança com manifestações na rua - tinham morrido até então mais de 230 pessoas - Saif el-Islam alertou para uma luta "até ao último homem e até à última mulher. Não deixaremos a Líbia para italianos e turcos".

O jornal argelino El Watan considera que Saif el-Islam "mostrou a face de um homem tão impiedoso e conservador como os seus irmãos Mutassim e Hannibal".

Os outros herdeiros

Mutassim, que o El Watan diz invejar a ascensão rápida do irmão, uma vez que antes era ele o provável herdeiro, é coronel do Exército. Fugiu para o Egipto depois de ter arquitectado um golpe contra o seu pai, mas foi depois perdoado e autorizado a regressar, recorda a BBC. É agora seu assessor para a Segurança Nacional - o que lhe permite ter um controlo sobre "tudo o que mexe na Líbia, incluindo as actividades dos seus irmãos e irmãs", segundo o jornal argelino - e lidera a sua própria unidade militar.

O cargo também lhe permitiu negociar contratos de armas com russos e enriquecer pelo caminho. Afastou também generais que acompanharam o pai no golpe de 1969.

Al-Saadi, de 37 anos, nunca quis enveredar pela política, e depois de uma incursão pelo futebol em Itália, como jogador, lidera a Federação Líbia de Futebol. Dedicou-se também ao cinema, criando uma produtora. É casado com a filha de um comandante militar.

Muhammad, o filho mais velho e fruto do primeiro casamento de Khadafi (que durou apenas seis meses), lidera o Comité Olímpico da Líbia. É ainda presidente dos serviços postais e da empresa de telecomunicações.

Hannibal, de 34 anos, costumava trabalhar para a empresa nacional de transportes marítimos, especializada em exportações de petróleo. Ganhou (má) fama por vários episódios de violência. Foi acusado em 2005 de espancar a sua mulher grávida, durante uma estadia em Paris. Em 2008, foi preso depois de ter agredido dois empregados de um hotel em Genebra. Pagou 300 mil euros de fiança e quando regressou à Líbia empenhou-se em criar uma crise diplomática - o Governo de Trípoli chegou a expulsar empresas e boicotar os produtos suíços, e o país foi descrito por Hannibal como "um mundo mafioso" que deveria ser desmembrado.

O diário El País refere que a raiz anti-imperialista do "guia da revolução" está na sua única filha, Aisha (Hanna, adoptada tal como Milad, morreu no ataque americano a Trípoli em 1986 com quatro anos). A advogada de 30 anos juntou-se à equipa de defesa de Saddam Hussein, em Julho de 2004. É casada com um primo do pai.A família está ainda noutros cantos. O cunhado, Abdallah al-Sanussi, "número dois" da Jamahiriya Security Organisation (JSO), agência de espionagem líbia, treinou e armou terroristas da Irlanda à Indonésia. Em 1991, Sanussi foi acusado de ajudar a orquestrar o atentado contra o voo 722 da transportadora francesa UTA, em Setembro de 1989, de que resultou a morte dos 156 passageiros e 14 tripulantes.

Nenhum dos filhos de Khadafi tem a garantia de que seguirá as pisadas do pai, porque, como explicou ao Guardian George Joffé, especialista em Norte de África na Universidade de Cambridge, "Khadafi destruiu qualquer esperança de herdarem o poder, colocando-os uns contra os outros".

Êxodo em massa na Líbia !

Milhares de pessoas atravessam a fronteira

O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) teme pela segurança dos que fogem da violência na Líbia. O Crescente Vermelho fala de um “êxodo em massa”, mais de 5700 pessoas já atravessaram a fronteira para a Tunísia nos últimos dois dias.
Cerca de 5700 líbios já chegaram à Tunísia 
Cerca de 5700 líbios já chegaram à Tunísia 
Ainda esta semana deverá chegar à Tunísia um avião com ajuda humanitária para ajudar os refugiados, disse ao PÚBLICO a porta-voz da ACNUR Sybella Wilkes. A agência das Nações Unidas tem já duas equipas junto à fronteira com a Líbia, mas o fluxo de refugiados não pára de aumentar, a tal ponto que a agência das Nações Unidas não avançou ainda com um número de refugiados.

“A maioria chega a pé, há muitas mulheres com crianças”, adiantou Sybella Wilkes. E há também grandes grupos de jovens. Apesar de ainda não ter chegado ajuda das Nações Unidas, o Crescente Vermelho tem estado a apoiar com medicamentos, tendas e cobertores. Uma das principais preocupações é o bloqueio que se tem verificado do lado líbio da fronteira, adianta Sybella Wilkes. “Um grupo de cerca de 150 egípcios não conseguiu passar”.

Melissa Fleming, a principal porta-voz do ACNUR, disse numa conferência de imprensa em Genebra, na terça-feira, que a agência ainda não tinha tido acesso aos refugiados e que está “muito preocupada” com a situação dos civis sujeitos à violência na Líbia. “Estamos a apelar aos países vizinhos para acolherem os que chegam da Líbia e que fogem da violência e temem pela sua vida”, adiantou. À ACNUR têm chegado relatos de um “êxodo significativo”, está a ser preparado o envio de tendas e hospitais de campanha para o Egipto e a Tunísia.

A Comissão Europeia já manifestou preocupação com o risco de catástrofe humanitária. “Para já não estamos perante uma crise humanitária na Líbia, mas isso não quer dizer que não estejamos preocupados, uma vez que a situação é muito instável e está a evoluir rapidamente”, disse à AFP Raphael Brigandi, porta-voz da comissária europeia encarregue da ajuda humanitária, Kristalina Georgieva.

Segundo o Crescente Vermelho, já fugiram da Líbia cerca de 5700 tunisinos e líbios, mas “muitos continuam a chegar”, disse à AFP Haji Nadri, responsável do Crescente Vermelho em Ben Guerdare, a primeira localidade junto à fronteira com a Líbia. Há milhares a tentar sair da Líbia, e segundo o porta-voz da Organização Internacional para as Migrações, Jean-Philippe Chauzy, muitos tiveram de passar vários postos de controlo, foram-lhes confiscados os telemóveis, os passaportes e alguns bens pessoais.

Em Itália, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Franco Frattini, disse que o Governo teme um “êxodo em massa”, de “proporções bíblicas”, que poderá significar a chegada de 200 mil a 300 mil pessoas. E um dos principais aliados do primeiro-ministro Silvio Berlusconi, o líder da Liga do Norte Umberto Bossi, já se manifestou contra o acolhimento dessas pessoas. “Espero que não venham, e se vierem iremos mandá-los para a Alemanha ou a França”, disse aos jornalistas.

Cerca de 900 cidadãos tunisinos e estrangeiros, entre os quais Egípcios, Turcos e britânicos, chegaram terça-feira ao posto fronteiriço de Dhéhiba, tendo chegado através da região de deserto líbio, segundo a polícia tunisina.

Cidadãos de vários países repatriados

Vários países têm tentado repatriar os seus cidadãos. Na Ásia está a ser preparada uma operação para repatriar 100 mil pessoas, entre eles 60 mil cidadãos do Bangladesh, 30 mil filipinos, 20 mil tailandeses e 18 mil indianos.

A União Europeia também anunciou que está a preparar o repatriamento de 10 mil cidadãos dos Estados-membros. A França já retirou da Líbia 335 cidadãos franceses e 56 estrangeiros, 800 italianos também já foram repatriados, segundo a AFP.

A chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, apelou às autoridades líbias para garantirem “a segurança de todos os cidadãos estrangeiros e a facilitar a partida daqueles que desejem abandonar o país”. Condenando firmemente a violência e o uso da força contra civis, Ashton considerou que “as brutais violações em massa dos direitos humanos são inaceitáveis”.

Também a China anunciou esta quarta-feira que ia repatriar 15 mil cidadãos que se encontram em Bengasi em quatro embarcações que partiram da Grécia.O Egipto anunciou o envio de seis voos comerciais e dois militares para repatriar os seus cidadãos, mas cerca de 5000 egípcios já regressaram a casa por terra, enquanto a Turquia já retirou cerca de 3000 cidadãos da Líbia, por barco.