sexta-feira, 30 de março de 2012

(P)articipação (A)fricana nos (I)nvestimentos de (C)abo (V)erde – PAICV Com uma OPA (Oferta Pública de Aquisição) hostil sobre a Cabo Verde Investimentos e utilizando o SLOGAN (POR AMOR a TERRA) os terrenos das ZDTIs e terrenos pertencentes a privados, bem como uma vasta e extensa hectares de terrenos municipais e estatal foram ilegitimamente retirados aos seus donos e depois VENDIDOS, REVENDIDOS, CONTRAVENDIDOS pelos militantes pertencentes e afectos a (P)articipação (A)fricana nos (I)nvestimentos de (C)abo (V)erde – PAICV, e cujo lucro já se estima por baixo e no mínimo em seis 6 milhões de dólares. Acontece que as expropriações foram ilegítimas prejudicando vários cidadãos americanos e cabo-verdianos na terra e na diáspora em que dai se resultou a necessidade da criação do MOVIMENTO PRÓ TERRA na América, para defender e reaver com justiça o valor dos seis 6 milhões de doláres americanos já facturados com a VENDA, REVENDA, CONTRAVENDA de extensas e grandes parcelas de terrenos SEM AMOR a TERRA. Constata-se que o SLOGAN – POR AMOR A TERRA da (P)articipação (A)fricana nos (I)nvestimentos de (C)abo (V)erde – PAICV, foi utilizado ás riscas e bem executado de forma que hoje em dia CABO VERDE, foi viu as suas terras totalmente vendidas POR AMOR A TERRA, pela (P)articipação (A)fricana nos (I)nvestimentos de (C)abo (V)erde – PAICV. Isaura Gomes a Presidente da Camâra Municipal de São Vicente afirmou no face to face o seguinte: “espero que todas as outras denúncias feitas há anos, de carácter nacional, de entre os cometidos por anteriores gestores da CABO VERDE INVESTIMENTOS na venda de milhares e milhares de metros quadrados de terrenos, ou oferecidos aos amigos ou simpatizantes do PAICV, sem o dinheiro ter entrado nos cofres do Estado, sejam objecto de investigações próximas, como forma de responsabilizar os gestores da CABO VERDE INVESTIMENTOS ou os responsáveis superiores de que depende e canalizar para os cofre do ESTADO, os milhões de contos que nele deviam ter dado entrada, o que muito jeito daria não só ao ESTADO como aos MUNICÍPIOS, principalmente neste momento difícil de crise”. Na sua opinião, todas as denúncias veiculadas no famoso email correspondem a verdade? IG: Já agora vou lhe dar uma notícia em primeira mão. Eu estou a concertar com o meu advogado no sentido de levar o governo ao tribunal, precisamente porque o governo não está a cumprir os seus compromissos com as Câmaras. Porque nas vendas das ZDTIs temos direito, no grosso, a 24,25%. Ou seja, para cada 100 escudos da venda de terrenos, temos direito a quase 25 escudos. E isso nunca aconteceu. E informação de gente responsável, nomeadamente numa delegação com o director geral do património, a dizer que o dinheiro dos terrenos vendidos como ZDTis não entrou no Tesouro. Acho que isso é uma situação muito grave porque é gente responsável que esteve na Cabo Verde Investimentos e que está a lesar os interesses do Estado. Porque você não pode estar a vender mil e tal hectares (10mil metros quadros) que foi vendido ao pessoal do Dubai sem que o dinheiro entre nos cofres do Estado. Em São Vicente deram ao filho do Nelson Atanásio que é um grande militante do PAICV, há quem diga mesmo que ele vai ser o próximo candidato do PAICV à Câmara Municipal de São Vicente e agora deve apanhar com as suas próprias mãos se for lá (risos), deram-lhe uma ZDTis de 90 hectares…Deram a quem? IG – A Carlos Santos(kiko). 90 vezes 10 mil dá 900 mil metros quadrados e não pagou nada. Ao Belarmino Lucas deram também uma ZDTis na Baía das Gatas. Ao Almada também deram e o dinheiro não entrou na Câmara porque se esse dinheiro tivesse entrado nas Câmaras Municipais… estou a falar da minha realidade, mas há outras ZDTIS em outras paragens…, eu teria aproximadamente milhões de contos. Com esses milhões de contos ia desenvolver São Vicente, criaria mais postos de trabalho. É uma matéria que eu vou…, já disse, tenho cá os documentos com todas essas áreas que eu vos posso dar uma cópia com todas essas áreas já vendidas e o dinheiro não entrou. Isso é um negócio do Ti Lobo e do Xibinho porque não é muito normal. Alguma coisa está-se a passar. Quando não se toma dinheiro em cima da mesa, toma-se debaixo da mesa o que é muito grave.: Consultar a fonte: http://www.forcv.com/articles/post/2009/08/05/Em-Face-a-Face-Isaura-Gomes-Considera-Mandato-de-Jose-Maria-Neves-Um-Desastre.aspx Terreno para “RESTAURANTE ENSEADA”De acordo com a decisão unilateral do Conselho do Ministros que viola a autonomia municipal pois a concessão do terreno municipal incluindo a orla marítima da cidade é da estrita competência da edilidade …A decisão do Governo de autorizar o Município a fazer a concessão de um lote de terreno para a implementação do projecto “Restaurante Enseada” na zona da Praínha e que deveria pertencer a Veríssimo Pinto. A decisão unilateral do Conselho do Ministros viola a autonomia municipal pois a concessão do terreno municipal incluindo a orla marítima da cidade é da estrita competência da edilidade que apenas necessita de uma autorização da Assembleia Municipal para o efeito.“Desde o cais de São Januário até ao porto de Palmarejo, a orla marítima da Cidade da Praia passou para o domínio público municipal por transferência dominial feita através da Portaria 10.117/71 de 18 de Setembro”, diz uma nota do gabinete do Presidente da CMP, podendo o Governo nos termos da referida portaria, “reservar – em condições a acordar com o município – os terrenos de que venha a carecer para fins de interesse público”.A nulidade do negócio em que estão envolvidos o Governo de Cabo Verde, Veríssimo Pinto (Presidente da BVCV) e Felisberto Vieira, o ex-autarca da Praia -, “a administração e gestão de bens do domínio público municipal é atribuição municipal (art. 27.1 do Estatuto dos Municípios) e, quanto à sua alienação ou oneração, competem, com plena independência, à câmara municipal precedendo autorização da assembleia municipal (Cfr arts 7, 81.2 h) e 92.2 i) e 6 do referido Estatuto)”.RESOLUÇÃO VIOLA AUTONOMIA LOCAL Pelo que a Resolução do Conselho de Ministros nº 22/2009, publicada no dia 10 de Agosto de 2009, no Boletim Oficial, “viola, pois, a autonomia local, invadindo a esfera de atribuições própria do Município da Praia, pelo que, por esse prisma é inconstitucional”.A Câmara da Praia adianta igualmente que nenhum preceito legal permite ao Governo autorizar o município a conceder a um determinado particular terrenos do domínio público municipal: nem o Estatuto dos Municípios, nem a Lei de Solos, nem o regime jurídico dos bens do domínio público marítimo do Estado, nem qualquer outra”, e por isso mesmo, “à luz do princípio da legalidade, a Resolução do Conselho de Ministros é ilícita e inválida. Recorde-se que o Governo de José Maria Neves autorizou a Câmara Municipal da Praia a fazer a concessão de 782 metros quadrados de terreno, na zona da Prainha, cidade da Praia, a favor do presidente da Bolsa de Valores de Cabo Verde, Veríssimo Pinto, de forma a que possa aí implementar o projecto “Restaurante Enseada”, cuja planta de localização foi aprovada a 16 de Junho de 2008, pelo ex-presidente da Câmara da Praia, Felisberto Vieira, depois de este ter perdido as eleições autárquicas, a 18 de Maio de 2008. Uma máfia antiga que vem do consulado de João Baptista Freire desencadeou um sistema de venda e compra de terrenos com elevado “grau de inteligência” capaz de driblar qualquer autoridade deste País. Uma informação conseguida junto de fonte bem colocada no Ministério Público e que vai dar muito que falar Segundo uma fonte bem colocada no Ministério Público, a máfia de terrenos em Santa Catarina de Santiago “é antiga” e remonta à anterior gestão camarária, dirigida pelo ex edil João Baptista Freire. Durante o seu consulado, diz a fonte, foi desencadeado um sistema de venda e compra de terrenos feito com elevado “grau de inteligência” capaz de driblar qualquer autoridade. E a nossa fonte garante conhecer bem o esquema a que alguns responsáveis da então Câmara utilizavam para vender parcelas e mais parcelas de terreno. E explica: “o esquema consistia em comprar terrenos em nome de afilhados, compadres, filhos, enfim, de familiares”.Muito simples, “tudo era processado de forma legal, pois só a posteriori é que passam esses mesmos terrenos para o nome do verdadeiro dono ou, se calhar, jamais serão passados, pois estando o terreno em nome de uma rede familiar a questão é gerida em família”. Por isso garante a nossa fonte que “o caso de Santa Catarina é para esquecer”.O que não compreende, confessa, “como é que os holofotes da justiça estejam apontados para S. Vicente afrontando o Poder Local, quando em Santa Catarina ninguém levanta um dedo, a não ser as “bocas da rádio praça”.Estranha ainda mais porque garante que a edilidade actual tem as provas. Quem perde somos todos nós que somos prejudicados através desses expedientes que foram prática no consulado do ex- edil João Baptista Freire”.É, caso para dizer que de 2001 a 2010 a (P)articipação (A)fricana nos (I)nvestimentos de (C)abo (V)erde – PAICV, enriqueceu de uma forma estrondosa pela via ilícita e ilegal usurpando seis 6 milhões de doláres aos contribuintes, proprietários, municípios e Fazenda (tesouro público do Estado) cabo-verdiano. Os seis milhões de doláres estão muito bem depositados e movimentados com alta segurança na diplomacia do S. LUZ, que deu origem ao “…BAI, BAI, CRIOLUA MI DJAN CREBO TCHEU.BAI, BAI my love…”Letra e composição do GIL SEMEDO. O curioso é que os americanos estão atentos a toda essa tramóia porque os seus cidadãos estão a ser altamente lesados pela (P)articipação (A)fricana nos (I)nvestimentos de (C)abo (V)erde – PAICV, e estão a dar suporte territorial, jurídico e legal ao MOVIMENTO PRÓ TERRA na América, e os tugas de PT só estão com “graça” e a acharem imensa “graça” pelo slogan POR AMOR A TERRA porque foram literalmente e sem “graça” ultrapassados neste negócio político da terra dos milhões. Mais, isto não é nada surpreendente visto que o ex. e falecido (extinto) M.D. (de cuja companhia natural os membros e gentes da (P)articipação (A)fricana nos (I)nvestimentos de (C)abo (V)erde – PAICV irão em breve ter por terem efectuado maldades monstruosas aos caboverdianos (as), publicava no seu ex. PARALELO 14, que existia em Cabo Verde de 1991-2001 o Movimento Democrático Português(MPD). Só que de 2001 e até 2010 a (P)articipação (A)fricana nos (I)nvestimentos de (C)abo (V)erde – PAICV, tomou as rédeas do poder POR AMOR A TERRA, eliminando sem diplomacia e sem “graça” o ex, e nunca não reconhecido e legalizado juridicamente o Movimento Democrático Português (MPD) e de uma sentada numa jogada de mestre bem típica dos africanos a (P)articipação (A)fricana nos (I)nvestimentos de (C)abo (V)erde – PAICV, lucrou e tem uma riqueza de seis 6 milhões de doláres americanos nas suas contas bancárias estando-as distribuídas por várias gentes pertencentes à nomenclatura militante da (P)articipação (A)fricana nos (I)nvestimentos de (C)abo (V)erde – PAICV. Seis (6) milhões de Dólares.

COMO ROUBAR LEGALMENTE…

Augusto Barbosa Mendes (Bela), uma velha glória do futebol cabo-verdiano, anda, desde há anos, a lutar na Justiça por um terreno que pertence à sua família desde 1892. Jorge e Herculano Pires – irmãos do anterior PR – estão metidos ao barulho… O primeiro, avalizou uma suspeitíssima escritura; o segundo, é procurador de um dos envolvidos
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Praia, 20 de Março 2012 – Dez anos atrás, em 20 de Abril de 2002, Jorge Pedro Barbosa Rodrigues Pires – irmão do anterior PR Pedro Pires – não imaginaria o vendaval que viria a seguir à escritura – por si avalizada na qualidade de notário – de uns terrenos agrícolas sitos na localidade de São Tomé, ali mesmo nesse deslumbre infindável de verde e azul, mesmo a seguir ao aeroporto da Praia.

Não imaginaria, isto é… Documentos, na posse de Liberal, põem em causa a legalidade da referida escritura, só se podendo deduzir uma de duas situações: ou o notário agiu por ingenuidade e excesso de confiança; ou agiu por objectiva má-fé e intenção dolosa. De qualquer modo, esta é uma questão difícil de esclarecer pela voz do próprio, porquanto duas solicitações efectuadas junto de um familiar de Jorge Pires, rogando a amabilidade de um contacto, tiveram como resposta o mais absoluto silêncio. Idem aspas para o pedido de contacto de um outro irmão do notário, Herculano Pires – “procurador” de uma das partes em litígio -, omissões que impedem o exercício do contraditório, mas que, ainda assim, não ferem a objectividade da substância.

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O caso que, desde há dez anos, se arrasta num mar de indolências e omissões judiciais aparentemente injustificáveis e num clima de alarde social - que já levou, inclusive, um dos que reivindicam a posse de parte da propriedade a ocupar o sítio durante várias semanas, corria o ano de 2008 - e fazer dali palco de denúncia pública -, quando, aparentemente, tudo indica ter-se tratado de um “expediente” para despojar legítimos proprietários – e colocar as terras na posse de uma tal “Africatur”, detida, entre outros, por um obscuro cidadão espanhol de nome Rafael Cabrera -, deveria já ter merecido decisão definitiva da juíza do tribunal da Comarca da Praia que tem à sua guarda o processo.

E, como, mesmo recorrendo a excelsa capacidade de síntese, difícil seria de um só jorro, em artigo único, contar toda a história, iremos nas próximas semanas escalpelizar um a um todos os elementos constantes deste caso e, já em próxima peça, dar voz ao principal autor da litigância e maior proprietário de parcela de terra dessa propriedade, Augusto Barbosa Mendes, mais conhecido por Bela, um emigrante cabo-verdiano residente em Marselha (França).
A série de peças jornalísticas a editar, tomando por base o emblemático caso dos terrenos de São Tomé, comporta, quanto mais não fosse, a utilidade de dar a conhecer os expedientes, as tramóias e os desmandos utilizados nesta terra para roubar de legítimos proprietários a posse de terrenos, principalmente quando, “convenientemente”, eles se encontram na estrangeiro a ganhar o pão de cada dia.
UMA VIGARICE “LEGAL”
Como se dizia, a história triste do esbulho começa em 2002 no Cartório Notarial da Região de 1ªClasse da Praia - era então notário o irmão do ex-presidente Pedro Pires. Os pormenores do acto, que em próxima matéria serão escalpelizados por Augusto Bela, resumem-se ao seguinte: um tal Carlos Moreno Moniz (Minésio) – a quem mais ninguém pôs a vista em cima – ter-se-á apresentado como “cabeça” de um conjunto de supostos “proprietários” e vendido o referido terreno uma tal “Africatur – Empreendimentos Industriais e Construções, Limitada” os 125 mil metros quadrados de terrenos ao preço de – imagine-se!… - 1500 (mil e quinhentos) contos, quando avaliações feitas por agentes imobiliários indicam valores entre 1 (um) e 2 (dois) milhões de contos. Enfim, provavelmente uma distracção do notário Jorge Pires…
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Ora, para Augusto Mendes (Bela) o preço avançado para a transacção não lhe causa qualquer estranheza: “o terreno não é deles, portanto, vendê-lo a mil e quinhentos ou a 500 contos é rigorosamente a mesma coisa, é tudo lucro”… Bela é um dos herdeiros da família Cabral de Barros, que agora reivindica a posse da terra na Justiça, encabeçando um conjunto de outros proprietários e assumindo, por sua conta e risco, as despesas da litigância.
UMA ENIGMÁTICA EMPRESA…
A “Africatur” é uma sociedade por quotas canário-cabo-verdiana e com sede na cidade da Praia. Os seus sócios são os espanhóis Rafael Cabrera, Artur González e Ginés Parrilha Curbelo, com quotas iguais de 1500 contos; bem, ainda, a cabo-verdiana Esther Spencer, com uma quota de quinhentos contos, e oficialmente sócio-gerente da firma, tendo sido ela a representar a empresa no acto de compra do terreno a Minésio.
Curiosamente, Cabrera, ao que parece, ou é mesmo quem manda na empresa, ou será um “testa de ferro” de interesses cabo-verdianos…, tem como procurador um outro irmão do antecessor de Jorge Carlos Fonseca, o engenheiro Agrónomo Herculano Pires que, aliás, ocupa parte considerável do terreno com viveiros de plantas que comercializa no mercado nacional.
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Livro sobre angolanos presos no Tarrafal é lançado em Luanda 29 Março 2012

“O Processo dos Cinquenta, Tempo e Memória (19400-1962) - Considerações Históricas” foi apresentado em Luanda nesta nesta quarta-feira, 28, em homenagem aos nacionalistas de Angola desterrados no Tarrafal.

Escrita por Edviges Chasse, pseudónimo literário de Fernando Correia, a obra assinala o 52º aniversário do “Processo dos 50”, lembrado nesta quinta-feira, 29 de Março. O livro faz um resgate histórico do nacionalismo angolano e do movimento panfletário que defendeu a independência política no país.
Em 374 páginas, a obra traz relatos sobre a Polícia Internacional de Defesa do Estado (PIDE), os inquéritos e depoimentos de presos. O “Processo dos 50” é o nome dado ao julgamento de nacionalistas angolanos acusados de conspirar contra o regime colonial português.
O processo resultou numa vasta onda de detenções efectuadas pela PIDE entre 29 de Março e 24 de Agosto de 1959.

Japão empresta seis milhões de contos a Cabo Verde para reforço de energia 30 Março 2012

O projecto “Reforço da Capacidade de Produção, Transporte e Distribuição de Energia em seis ilhas de Cabo Verde”, co-financiado pelo governo cabo-verdiano e pelo Banco Africano para o Desenvolvimento (BAD) recebe, esta sexta-feira, 30, um reforço financeiro de seis milhões de contos cabo-verdianos do Japão que assinou o empréstimo com o Ministério das Relações Exteriores (MiRex).

Japão empresta seis milhões de contos a Cabo Verde para reforço de energia
O Japão vai emprestar ao nosso país seis biliões de escudos cabo-verdianos, para que a Cidade da Praia possa financiar o projecto de “Reforço da Capacidade de Produção, Transporte e Distribuição de Energia em seis ilhas de Cabo Verde”.
Para além do financiamento japonês, outorgado pela JICA (Japanese International Cooperation Agency), o projecto tem o co-financiamento do Banco Africano para o Desenvolvimento e do Governo de Cabo Verde.
Este projecto visa aumentar a capacidade de produção, transporte e distribuição de energia eléctrica e, por conseguinte, o aumento da taxa de acesso à electricidade em Cabo Verde. E isso "repercutirá na qualidade da prestação de serviço e na competitividade da economia nacional" pontua o MIREX..
Na cerimónia de assinatura, que acontece esta tarde, Cabo Verde far-se-á representar pelo ministro das Relações Exteriores e pela ministra das Finanças e do Planeamento de Cabo Verde. O Embaixador do Japão em Cabo Verde, e o representante da JICA, ambos residentes no Senegal rubricam o acordo em nome do Governo japonês.

Revista inglesa coloca Kriol Jazz entre os melhores 25 festivais do mundo 30 Março 2012

A revista inglesa Songlines acaba de colocar o Kriol Jazz Festival entre os melhores 25 festivais do mundo. Esta grande marca cultural da Câmara da Praia, cuja 4ª edição acontece este ano entre 12 e 14 de Abril, está ao lado de grandes festas da música dos EUA, França, Marrocos, Mali, Polónia, entre outros países.

Revista inglesa coloca Kriol Jazz entre os melhores 25 festivais do mundo
Na lista elaborada pela revista inglesa constam ainda grandes festivais do mundo como o África Festival ( Alemanha), Chicago World Music Festival (USA), Druga Godba ( Eslovénia), FMM Sines (Portugal), Essaouira Gnawa & World Music Festival (Marrocos), Ethno Port (Polónia), Festival on the Niger ( Mali), e Jodhpur RIFF, Índia.
O site recomenda ainda festivais de outros países, como França (Musiques Metisses), Bélgica (Sfinks Festival), Hungria (Sziget), Austrália (WOMADelaide), entre outros.
E para promover e exportar ainda mais a música cabo-verdiana, o Ministério da Cultura, em parceria com a Harmonia, pretende trazer para Cabo Verde grandes eventos culturais, e com eles os promotores e experts da área, que reconhecem o valor do evento.
Assim, de 10 a 14 de Abril acontece, na cidade da Praia, o Fórum Internacional da Música - MusiCaboVerde, um evento que contará com a presença de vários profissionais nacionais e experts internacionais. Serão 5 dias e 5 noites de actividades como workshops, showcases, encontros e concertos. O ponto alto será o Kriol Jazz Festival, organizado pela Câmara Municipal da Praia, e que este ano acontece entre 12 e 14 de Abril.

quinta-feira, 29 de março de 2012

Portugal: Crise faz disparar exportação de ouro para Cabo Verde 29 Março 2012

Cabo Verde está entre os países que recebeu maior exportação do ouro bruto de Portugal, no ano de 2011. Segundo os dados do Instituto Nacional de Estatísticas (INE) daquele país, as exportações de outro em bruto de Portugal aumentaram 140 por cento, uma cifra explicada pela crise económica que assola o país.

Portugal: Crise faz disparar exportação de ouro para Cabo Verde
Entretanto, desses números, a TVI digital avança que estão excluídas as vendas de jóias ou outras peças valiosas deste metal, bem como o ouro vendido para fins monetários.
No ano passado, os portugueses venderam cerca de 519 milhões de euros de ouro em bruto, semifaturado ou em pó. Este valor corresponde a uma exportação de 13,7 toneladas de ouro, um valor recorde desde o ano 2000. Cabo Verde, Bélgica, Espanha, Itália, Alemanha, França, Suíça, Reino Unido, Luxemburgo e Angola foram os países que receberam maior parte dessa exportação.
O portal digital considera ainda que dado que Portugal não é um país produtor do metal precioso, tudo indica que a forte subida das vendas esteja a ser impulsionada pela crise, supõe-se que através das lojas de compra e venda de ouro que proliferam pelo país.
“Muitas das famílias sobre-endividadas já recorreram a esse negócio da venda do ouro (...). As pessoas vendem por valores muito mais baixos do que sentem que é o valor justo”, comenta Graça Cabral, da DECO, argumentando que o ouro é vendido como mercadoria e não pelo seu valor acrescentado.

quarta-feira, 28 de março de 2012

China doa 15 viaturas e envia sete médicos para Cabo Verde 28 Março 2012

A China reforça as ligações com Cabo Verde, uma cooperação que “tem vindo a aumentar nos últimos anos”. Desta vez são oito especialistas para o Hospital Agostinho Neto, 15 viaturas -10 ligeiras e cinco autocarros para o serviço do protocolo do Estado-, e ainda um complexo educativo no Sal, anunciou o embaixador chinês em Cabo Verde, Li Chunhua.

O protocolo foi assinado na tarde desta terça-feira, 27, e abrange três áreas: saúde, educação e logística. Ainda este ano chega a Cabo Verde a 15ª equipa de médicos, no âmbito da cooperação e, desta vez vêm três cirurgiões, dois gineco-obstetras, um acupunctor, um anestesista e ainda um tradutor. Um grupo de médicos especialistas que vai prestar serviços no Hospital Agostinho Neto, na Praia, nos próximos dois anos.
A pedido do governo cabo-verdiano, a China vai financiar e construir na ilha do Sal, um complexo educativo. “Este complexo educativo engloba escola secundária e de formação técnica. O projecto está pronto a iniciar a construção e acredito que até ao final do ano começará a obra. No final penso que poderá contribuir activamente para melhorar as condições dos alunos, nomeadamente na área da formação técnica do Turismo”, diz o embaixador chinês.
Li Chunhua destacou ainda a doação de 15 viaturas, 10 ligeiras e cinco mini-autocarros, ao governo cabo-verdiano. “Todos são fabrico e marca chinesa e todas têm boa qualidade e estou em crer que esta doação poderá diminuir algumas dificuldades do governo cabo-verdiano quando organiza conferências regionais ou internacionais”, garantiu o embaixador.
Uma doação material no valor de 100 mil contos cabo-verdianos que o ministro das Relações Exteriores, Jorge Borges, disse estar “destinada ao reforço e eficiência dos serviços do protocolo do Estado”. O asemanaonline sabe que as viaturas não deverão ficar todas na Praia, há a possibilidade de algumas irem para o Sal e São Vicente, todas ao serviço do protocolo.
“Estamos num período difícil, por causa da crise internacional, mas a China nunca diminuiu a nossa cooperação com Cabo Verde, pelo contrário, foram aumentadas. E a nossa relação vai alargar e reforçar cada vez mais, através dos esforços entre os dois governos e povos”, rematou o embaixador Li Chunhua.

Carlos Lopes preside Comissão Económica das ONU para África 28 Março 2012

O economista e sociólogo Carlos Lopes vai assumir em Julho o cargo de secretário executivo da Comissão Económica para África. Lopes foi nomeado por Ban Ki-moon, secretário-Geral da Organização das Nações Unidas, na sexta-feira, 23. Este bissau-guineense, filho de cabo-verdianos da ilha do Fogo, vai acumular esta função com os cargos de secretário-geral adjunto da ONU e de director executivo do UNITAR (United Nations Institute for Training and Research), facto que já mereceu louvores do governo de Cabo Verde.

Carlos Lopes preside Comissão Económica das ONU para África
 
Carlos Lopes garante que a sua prioridade será transformar a CEA, cuja vocação principal é apoiar as estratégias de desenvolvimento do continente, no maior “núcleo de pensadores” de África. Ele que é o africano-lusófono que mais alto subiu na hierarquia da ONU e o primeiro a ocupar o cargo de SG-Adjunto e chefe da CEA –, órgão que se dedica ao continente, com mais de 300 economistas entre os seus cerca de 800 funcionários.
Ao longo da sua carreira, Lopes criou já várias instituições, incluindo o Famoso instituto de pesquisa da Guiné Bissau, destruído pela guerra de 1998 tido como um especialista em desenvolvimento institucional, esteve sempre associado a grandes processos de reforma no sistema das Nações Unidas.
Trabalhou no Instituto Nórdico de Estudos Africanos, foi representante da ONU no Zimbabué e no Brasil, responsável pelo departamento de políticas de desenvolvimento do PNUD, director político do secretário-geral Kofi Annan. Hoje dirige duas instituições de formação e pesquisa da ONU: a UNITAR, em Genebra, e o UN Staff College, em Turim.
Lopes também foi o artífice dos sofisticados programas de Knowledge Systems do PNUD. Liderou a reflexão sobre o reforço de capacidades, incluindo a co-organização do livro referência “Capacity for Development”, que contou com a contribuição do Prémio Nobel de Economia Joseph Stiglitz. Durante mais de quatro anos dirigiu um portfolio de projectos do PNUD no valor de mil milhões de dólares. Desde 2006 é sub-secretário geral da ONU.
A sua formação em estudos do desenvolvimento foi obtida no conhecido Graduate Institute for International and Development Studies, em Genebra. Possui também um doutoramento em História da África pela Universidade de Paris 1 Panthéon-Sorbonne. Tem publicados mais de 20 livros, como autor ou organizador, e cerca de 180 artigos académicos. Criou e faz parte de comités editoriais de várias revistas académicas.
Foi o impulsionador do primeiro Relatório de Desenvolvimento Humano da África Austral, que contou com um prefácio de Nelson Mandela. Recebeu vários prémios e reconhecimentos, incluindo duas comendas brasileiras (Cruzeiro do Sul e Mérito Cultural), um Doutorado Honoris Causa da Universidade Cândido Mendes, do Rio de Janeiro, e a nomeação vitalícia para a Academia de Ciências de Lisboa.
É membro de instituições e redes africanas como o CODESRIA, Conselho para o Desenvolvimento das Ciências Sociais em África, onde continua a trabalhar como membro do Comité Científico. Faz parte do Conselho do Instituto Africano da Governança, apoiado pela Comissão Económica para a África. Também integra a direcção das revistas Géopolitiques Africaines, African Sociologial Review e African Identities e a rede brasileira “Crises e Oportunidades”.
É constantemente solicitado para funções directivas, fazendo parte de doze órgãos de direcção, incluindo a presidência do Conselho Geral do ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa. É organizador de vários fora de alto nível, nomeadamente os Encontros Mundiais de Genebra, que já tiveram vários Prémios Nobel, incluindo o nigeriano Wole Soyinka.
Já foi orador principal em eventos como a Aula Magna da Politécnica de Maputo ou o Congresso Nórdico de Estudos de Desenvolvimento, só para citar os casos mais recentes. Já deu aulas em Universidades de ponta de mais de duas dezenas de países, da França ao Japão, do México à China, passando por vários países africanos.

Saravá Criola!* 28 Março 2012

“Ce qu’il y a de plus beau chez un homme, c’est sa femme”
Por: David Leite

Saravá Criola!*

1. Igualdade desigual
Março, para nós, é mês da Mulher. Muita coisa mudou, mas a igualdade entre os sexos levou tempo: só na década de noventa do século passado, que arrancou sob o signo da abertura política e económica, saiu verdadeiramente do ideário político para a luz do dia. Desde então temos mulheres no Governo e empresárias de sucesso! Saravá criola !
Mas nem todas as mulheres tomaram o seu destino em mãos! E não devemos perder de vista as graves dissimetrias que prevalecem nos meios rurais e suburbanos onde os preconceitos, às vezes, pesam mais do que o bom senso. A violência exercida no lar justifica que nos interroguemos sobre a sorte dessas mulheres indefesas e crianças inocentes de quem tanto se fala mas que poucos escutam; dos traumas que carregam enquanto a culpa morre solteira!
Do mesmo modo, merecem debate os impactos sócio-familiares do machismo endémico que se enraizou entre nós desde os mais recuados tempos. Mas debate sério! Que não embarque “de boleia” em feminismos folclóricos e “revanchistas” que nos desviam do essencial, nem na tentação de “virar do avesso” o machismo que ao longo da história subverteu o equilíbrio e a sanidade da relação homem/mulher. Quem imita não condena! Saúdo a mulher conselheira, “juiz de paz” nas querelas de família, conciliando pais e filhos e irmãos desavindos, semeando harmonia num mundo de brutos! Rendo homenagem às mães desveladas que ficaram sem amparo porque seu “príncipe encantado” partiu “pai incógnito” sem honrar os seus deveres parentais! Saravá criola, carregadeira de cais, “criada d’quintal d’gent”, que criaste teus filhos vendendo peixe ou semeando em terra de morgado! Saravá criola que esperaste, perseverante, teu crêtcheu na terra-longe, na angústia de o perder no mar ou nalgum aconchegante “fundo de ladeira”!
Saravá criola! i
2. Uma história de homens?
Dou comigo a pensar: a história da mulher é uma história de homens! Em Cabo Verde e não só. Por respeito às nossas primeiras mães, e porque o passado é a chave do presente, não temos o direito de fazer tabula rasa da falocracia que durante séculos as sujeitou aos desígnios do “sexo forte”.
Meu pensamento vai longe: vai para a jovem escrava de alcova do seu amo e senhor, vivendo na angústia de ser raptada ou violada pelos escravos “vadios”! E recua de cinco séculos e meio até aos primeiros portugueses, genoveses e outros pioneiros que vieram em cata de fortuna ou aventura, e cedo foram possuídos pelo desânimo: como prosperar (ou ao menos sobreviver) nestas ilhas de natureza avara e de chuva rara? Se era para trabalhar a terra com as suas próprias mãos, pensavam, teriam ficado lá onde estavam! Com os olhos postos em África e as expectativas em Lisboa, lá escreveram a el-rei D. Afonso V que atendeu às suas súplicas, outorgando-lhes, em 1466, a “Carta Real de Privilégios”, valendo licença de livre comércio nos “Rios da Guiné”. E armaram navios e navegaram para o continente, e de lá regressaram com escravos.ii
Assim começou a história humana destas ilhas: sob o signo da mestiçagem. Exceptuando as raras famílias “de condição”, não deviam ser muitos os mancebos do Reino que traziam ou mandavam buscar a sua amada para a África no século XV! Muito menos aqueles que viraram donos e senhores de graciosas escravas... Até padres e missionários sucumbiram, corpo e alma, ao “pecado da carne”! Em 1591, o corregedor Gomes Raposo recebia de Lisboa este aviso à intenção dos homens que haviam abandonado esposa e filhos no Reino: ou mandavam sustento ou iam recambiados à força para Lisboa!iii
Quem não queria saber dos mulatos eram os puristas da raça na corte de Filipe II. Uma carta real de 1620 recomendava a deportação para Cabo Verde (como já se fazia para o Brasil) de raparigas de vida airada condenadas pela justiça... a fim de “acabar com a proliferação dos mulatos”!iv Tarde demais, o “mal” já estava feito!
Entretanto, o machismo endémico e visceral trazido da Europa só podia exacerbar-se nas ilhas com a escravatura, dando lugar a uma poligamia de facto, não obstante a influência da igreja católica. Salvo excepções (já lá vamos), os concubinatos ou matrimónios mistos mais não fizeram senão transformar a mulher (livre ou escrava) em “ esposa” obediente, submissa a um marido infiel e autoritário, às vezes ocioso. De passagem por Ribeira-Grande, em 1690, o francês Robert Challe conta, no seu diário de bordo, o que viu: “Os portugueses (...) casam com mulheres (da terra) que maltratam enquanto elas lhes ganham o pão” . v
Nem mesmo em França brilhou o “século das luzes” para as mulheres! A revolução francesa (simbolizada por um ícone feminino) não lhes deu voz. À Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789), contrapôs Olympe de Gouges, precursora do feminismo francês, a “Declaração dos Direitos da MULHER e da Cidadã”! E mais disse: - “Se a mulher tem o direito de subir ao cadafalso, também deve ter o direito de subir à tribuna”! Demasiado “subversiva” para a sua época, não deixaram Olympe de Gouges subir à tribuna, mas levaram-na ao cadafalso : foi guilhotinada em 1793!
3. O reverso da medalha
Mas a nossa história é também a dessas mulheres de têmpera que conseguiram driblar o seu destino, não obstante as escassas liberdades que a sociedade lhes consentia: a esposa de um rico armador ou latifundiário, morrendo-lhe o marido; a filha única (ou sem irmãos varões), herdeira de títulos e bens. Ser “filha de” ou “viúva de” era um “sésamo” que podia abrir portas, até mesmo no Reino! Sem desprimor para o protagonismo masculino (marido ou pai) como motor de sucesso, pode-se afirmar que a esposa ou “companheira” não só mudou o seu próprio destino como contribuiu para mudar o rumo da sociedade colonial. A sua descendência mulata (os “filhos da terra”) foi o embrião da classe média de Santiago (os chamados “brancos da terra”, título bem equívoco na conjuntura presente).
Importa salientar que da “terra firme” da Guiné não vinham apenas escravos mas também homens livres. Uns, convertidos, faziam-se padres, outros iam para ofícios diversos (Os “línguas” (intérpretes) ganhavam bem a vida nos lucrativos negócios da Guiné).vi Sabe-se que uma jovem de nome Brízida, enviada por seu pai Beca Caia, um régulo da terra dos Sape, para estudar, acabou por se deixar ficar em Santiago.
Devia ser raro, um caso destes! Seja lá como for, muitas mulheres do nosso tempo não têm tanta liberdade! Nem a autoridade de certas matriarcas de Santiago, nem a audácia daquelas que armaram navios nos “Rios da Guiné” no tempo dos “lançados” (séculos XVI a XVIII). [Comerciantes aventureiros e destemidos eram os “lançados (quase todos judeus ou cristãos-novos) que em terras ignotas da Guiné desafiavam as leis do Reino e o monopólio das Companhias comerciais, incorrendo em severas sanções de Lisboa por negociarem com os estrangeiros sem licença real. Até a pena de morte foi decretada contra eles!] Mulher de pulso foi Nha Bibiana Vaz, riquíssima proprietária e negociante de Cacheu, que em 1684-85 dirigiu uma revolta de comerciantes contra a Companhia do Estanco do Maranhão e Pará (luso-brasileira) pelo direito de negociar livremente com os ingleses. (Bibiana Vaz foi trazida para Santiago e fechada na prisão juntamente com outros co-acusados.) vii
Vou lembrando, de passagem, que a influência do catolicismo não deixou que o islão (presente na Senegâmbia desde o século XI e africanizado com as tradições animistas) atravessasse o Atlântico. Assim não foram as nossas mulheres sujeitas a ritos iniciáticos afro-islâmicos como a excisão (ablação de parte dos órgãos genitais), uma tradição ancestral hoje em dia banida por lei em África. Pasmados ficaram uns visitantes franceses ao verem mulheres fumando nas ruas da Ribeira-Grande (Cidade-Velha) em 1699. Tamanha audácia não se via nos salões “branchés” de Paris!
Parece que foi na Boa Vista que se abriram, em 1844, as primeiras escolas privadas para meninas. Nem todos os países como o nosso podem dizer a mesma coisa!viii Também se acredita que Boa Vista é o berço da “morna” e que foi pela voz feminina que ela começou a imperar na nossa música.ix Se na Argentina o tango era dançado entre homens pelos seus passos viris, em Cabo Verde a morna era reservada, dizem os antigos, às mulheres, cantando o amor e a saudade porque ninguém sabe amar nem esperar como elas.
Saravá criola!
4. “Meu apelido não dou!”
De geração em geração foram sendo transmitidos os códigos e costumes no seio da família, com as irmãs ao serviço dos irmãos. Futuras esposas e mães aquelas, deviam zelar pelo bem-estar destes. Nas famílias “ remediadas”, o único esforço dos rapazes era “meter os pés debaixo da mesa” e ir à escola para um dia administrar a sociedade !
Não vai longe o tempo em que o “sexo forte” se agregava todos os direitos, contentando-se as mulheres com os deveres... até mesmo, para algumas, o de criar os “filhos de fora” que os maridos infiéis lhes traziam para casa (quando não eram concebidos ali mesmo, numa dependência dos fundos!) Quantas criadas e serventes expostas aos “assaltos” impetuosos de respeitáveis “senhores” que desprezaram o fruto da sua semente! À vergonha do “pai incógnito” acrescia a injúria da esposa traída e os rancores dos “filhos ilegítimos”.
O direito colonial favorecia este estado de coisas ao condicionar o reconhecimento dos filhos “ilegítimos” ao acordo formal da esposa que, tendo perdido a face, numa coisa podia “vingar-se” : - “Meu apelido não dou, ora essa!” E recusando ela, não podia o marido perfilhar. Excluídos assim do nome e da herança paternos, não tinham os “filhos de fora” os mesmos direitos, nem os mesmos valores, que os “ filhos de casado” ; alguns eram relegados ao quintal e às lides domésticas como se criados fossem!
Resignação ou fatalidade, apetece-me lembrar que, contrariamente ao baptismo e outros sacramentos, casamento, nos tempos idos, era, excepções à parte, coisa de gente “remediada”. Nem todas as famílias pobres resultavam de uma qualquer convenção nupcial, e naturalmente criaram-se outras convenções, bem patentes nas designações “pai de filho” e “mãe de filho”. Não era apenas por razões administrativas que um homem decidia, já no crepúsculo da vida, “dar sacramento” à mãe dos seus filhos - no fundo, era também um reconhecimento pela sua lealdade e companheirismo (não necessariamente porque ela tivesse sido a única, mas a “escolhida”!)
“Mulher casada” era assim um título que se merecia, mas que nem sempre valia mais do que isso: iletrada ou apenas escolarizada, por isso dependente, fechar os olhos à libido adulterina do marido infiel era muitas vezes o preço a pagar pelo apelido que lhe devia ! Mulher ou “mãe de filho” era “formatada” (como um logiciel, dir-se-ia hoje em dia) para procriar, ocupar-se do lar e do seu bem-amado marido ou “pai de filho” (Eu ainda ouvi a velha Nh’Ana tratar seu marido por “ocê”... e “Nhô Jom”!)
5. Do ideário político à realidade
Durante a luta armada na Guiné (1963-1974), as mulheres ajudavam no ensino e na saúde. Em tempo de vacas magras, deram calor e reconforto ao homem que amavam. Mas mudam-se os tempos, mudam-se os amores... Terminado o conflito, muitos “camaradas” viraram as costas à humilde “badjuda” da tabanka, preferindo as “mininas di liceu” de Bissau, Bafatá, Praia ou Mindelo, “ki sabi entra ki sabi sai”!x
Mesmo depois da independência, a tão proclamada igualdade homem-mulher ficou cingida à retórica político-ideológica do Partido, veiculada, em primeira-mão, pela Organização das Mulheres de Cabo Verde. Mas nem por isso se satisfez a OMCV com o “bónus” do dia internacional das mulheres e seus discursos empolgados a dissiparem-se numa realidade injusta. Em boa hora, viu a luz um novo Código da Família, contemplando a união de facto e o divórcio de comum acordo, com a nova lei da filiação a pôr cobro às discriminações entre filhos “legítimos” e “ilegítimos”. “Pai incógnito” acabou-se! Não estavam em causa apenas os direitos das nossas mulheres, mas também a sua dignidade.
Hoje, mais do que nunca, nossas médicas, magistradas, engenheiras, são “novas seivas” num Cabo Verde aberto e competitivo onde o empresariado feminino é um exemplo a seguir.
Saravá criola !
Mantenhas da Terra-Longe, 21 de março de 2012
(modestoleite@facebook.com)

segunda-feira, 26 de março de 2012

Macky Sall é novo presidente do Senegal

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    O opositor Macky Sall (na foto, depositando seu voto em Fatick) derrotou o atual presidente Abdoulaye Wade. Foto: APO opositor Macky Sall (na foto, depositando seu voto em Fatick) derrotou o atual presidente Abdoulaye Wade


    O ex-premiê Macky Sall, 50 anos, tornou-se neste domingo o novo chefe de Estado do Senegal, após vencer no segundo turno o presidente em fim de mandato Abdoulaye Wade, que reconheceu a derrota antes de serem divulgados os resultados das eleições que ocorreram de forma pacífica. O presidente Wade "ligou neste domingo às 21h30 (locais e GMT) para seu rival Macky Sall (...) para felicitá-lo após as primeiras tendências que o apontam como vencedor do segundo turno das eleições presidenciais", segundo a emissora pública RTS.
    A informação foi confirmada por Moussa Diop, conselheiro próximo a Macky Sall, que declarou: "a vitória é oficial, Wade reconheceu sua derrota". Os primeiros resultados oficiais serão divulgados na terça ou na quarta-feira. Sall era o favorito para o mandato presidencial de sete anos após obter o apoio de toda a oposição e de grande parte da sociedade civil.
    Com exceção de alguns homens armados que perturbaram a votação em alguns colégios de Casamance (sul), região que sofre uma rebelião separatista há 30 anos, não houve nenhum incidente grave no restante do país. Macky Sall pediu em várias ocasiões mais vigilância, temendo que os simpatizantes de Wade promovessem fraudes. Candidato à reeleição, Abdoulaye Wade, de 85 anos e no poder havia 12 anos, enfrentava o segundo turno em uma situação delicada diante do que chamava de seu "aprendiz" Macky Sall, que foi seu ministro e primeiro-ministro antes de cair em desgraça em 2008.
    Wade liderou o primeiro turno de 26 de fevereiro com 34,81% dos votos, mas Macky Sall (26,58%) conseguiu o apoio dos doze candidatos eliminados. Macky Sall contava também com o apoio de movimentos de jovens e do célebre cantor Youssou Ndour, que quis se apresentar como candidato, mas não foi autorizado. Para a oposição, a nova candidatura de Wade é "ilegal", pois esgotou os dois mandatos permitidos após sua eleição em 2000. No entanto, seus seguidores sustentam que as reformas da Constituição em 2001 e em 2008 lhe deram direito de voltar a se candidatar.
    A candidatura de Wade a uma nova reeleição provocou importantes movimentos de protesto em todo o país, particularmente em Dakar. As manifestações proibidas foram duramente reprimidasAumentar

  • Imprimir, deixando pelo menos seis mortos e cerca de 150 feridos em um mês. Sall, um engenheiro de 50 anos, foi homem de confiança do presidente Wade, ministro de Minas (2001-2003) e do Interior (2003-2004) antes de ser primeiro-ministro (2004-2007) e presidente da Assembleia Nacional (2007-2008). Em 2008 caiu em desgraça e fundou seu próprio partido, a Aliança para a República (APR).

Cerca de 300 observadores estrangeiros vigiaram as eleições, principalmente da União Africana, da Comunidade Econômica de Estados da África Ocidental (CEDEAO) e da União Europeia (UE).

Senegal: Abdullaye Wade perdeu as eleições presidenciais

Senegal: Abdullaye Wade perdeu as eleições presidenciais

O ex-primeiro-ministro Macky Sall, de 50 anos, tornou-se ontem (Domingo) o novo chefe de Estado do Senegal, após vencer na segunda volta o presidente em fim de mandato Abdoulaye Wade, que reconheceu a derrota antes de serem divulgados os resultados das eleições que ocorreram de forma pacífica.
O presidente Wade "ligou ontem (Domingo) às 21H30 (locais e GMT) para o seu rival Macky Sall (...) para felicitá-lo após as primeiras tendências que o apontam como vencedor da segunda volta das eleições presidenciais", segundo a emissora pública RTS. A informação foi confirmada por Moussa Diop, conselheiro próximo a Macky Sall, que declarou: "a vitória é oficial, Wade reconheceu a sua derrota".
Os primeiros resultados oficiais serão divulgados na terça ou quarta-feira.
Sall era o favorito para o mandato presidencial de sete anos após obter o apoio de toda a oposição e de grande parte da sociedade civil.
Com excepção de alguns homens armados que perturbaram a votação em alguma assembleias de Casamance (sul), região que sofre uma rebelião separatista há 30 anos, não houve nenhum incidente grave no restante do país.
Macky Sall pediu em várias ocasiões mais vigilância, temendo que os simpatizantes de Wade promovessem fraudes.
Candidato à reeleição, Abdoulaye Wade, de 85 anos e no poder havia 12 anos, enfrentava a segunda volta numa situação delicada diante do que chamava de seu "aprendiz" Macky Sall, que foi seu ministro e primeiro-ministro antes de cair em desgraça em 2008. Wade liderou a primeira volta de 26 de Fevereiro com 34,81 porcento dos votos, mas Macky Sall (26,58) conseguiu o apoio dos doze candidatos eliminados.
Macky Sall contava também com o apoio de movimentos de jovens e do célebre cantor Youssou Ndour, que quis se apresentar como candidato, mas não foi autorizado.
Sall, um engenheiro de 50 anos, foi homem de confiança do presidente Wade, ministro de Minas (2001-2003) e do Interior (2003-2004) antes de ser primeiro-ministro (2004-2007) e presidente da Assembleia Nacional (2007-2008). Em 2008 caiu em desgraça e fundou o seu próprio partido, a Aliança para a República (APR).
Cerca de 300 observadores estrangeiros vigiaram as eleições, principalmente da União Africana, da Comunidade Económica de Estados da África Ocidental (CEDEAO) e da União Europeia (UE).

José Maria Neves: “Ganhar 12 câmaras é uma vitória para o PAICV” 25 Março 2012

É inevitável entrevistar o presidente do partido no poder, PAICV, sem que se fale também com o Primeiro-ministro – e vice-versa. Daí esta conversa de José Maria Neves com o A Semana, abordar as diferentes esferas do poder em Cabo Verde: sua governação que vai até 2016, tal como prometeu ao povo cabo-verdiano; as 12 (em 22) Câmaras que o PAICV tem de conquistar para cantar vitória nas eleições autárquicas; e o código de ética que deve ser firmado pelos principais actores políticos do país. José Maria Neves defende ainda, ao longo desta entrevista, “uma profunda reforma do Estado a acontecer em Cabo Verde. Penso que esta reforma também poderá ter reflexos no sistema de governo cabo-verdiano”. Mais, a regionalização “tem de ser muito bem pensada e aprofundada”, tendo em conta os exemplos que já existem noutros países. No fim, aponta o presidente do PAICV e Primeiro Ministro de Cabo Verde, “cada ilha deve ser uma região administrativa”.

Entrevista: Isabel Marques Nogueira Fotos: Eneias Rodrigues

José Maria Neves: “Ganhar 12 câmaras é uma vitória para o PAICV”
Como está a unidade dentro do PAICV, frente a um novo desafio eleitoral?
A escolha dos candidatos, em qualquer eleição, é complexa e intensa. Como diria Norberto Bobbio, “a democracia é subversiva”. Mas nós fizemos o exercício da democracia, buscámos entendimentos e temos candidatos muito fortes em todos os municípios do país.
Quer dizer que não foi consensual a escolha dos cabeças-de-lista?
Todos os cabeças-de-lista resultaram de processos democráticos, com a tensão inerente a estes processos de escolha. Mas posso dizer que o PAICV está coeso, unido, e parte muito determinado para estas eleições autárquicas.
Para esta selecção houve sondagens ou debate nas bases do partido?
Combinámos sondagens e debates nos órgãos próprios e também diálogo com os diferentes candidatos. O PAICV é um partido descentralizado, compete às comissões políticas regionais escolher os seus candidatos. E os estatutos foram integralmente cumpridos nesta matéria.
Que concelhos deram mais dor de cabeça ao PAICV, por não haver tanto consenso?
Houve alguns municípios onde a escolha foi natural, mas houve outros onde tivemos intensos debates, muitas discussões, até chegarmos ao entendimento final. São os casos de São Filipe, Santa Catarina do Fogo, Tarrafal de São Nicolau, Porto Novo e Santa Catarina de Santiago, por exemplo. Há vários casos onde tivemos de fazer debates intensos, sempre seguindo as regras do jogo e o princípio que é de ouro em democracia: o respeito pelas decisões da maioria.
Luís Pires é nosso candidato
Se Eugénio Veiga estava disponível para se manter em São Filipe, no Fogo, porquê a escolha de Luís Pires?
Eugénio Veiga declarou cedo que não ia ser candidato às eleições autárquicas de 2012, ainda antes das presidenciais. E nós, mediante a sua decisão, abrimos as discussões. Fizemos os debates necessários e a proposta do Conselho de Sector de São Filipe foi no sentido de Luís Pires ser o candidato.
Mas a decisão de apoio a Luís Pires ainda não era pública… Não podiam incluir Eugénio Veiga na escolha quando ele se mostrou, entretanto, disponível?
Eugénio Veiga ainda não voltou atrás, está a ponderar…
Mostrou-se disponível para o PAICV…
Quando o Conselho de Sector fez a escolha, Eugénio Veiga não era candidato. Só depois da decisão sobre Luís Pires, tendo discordado desta opção, é que abre a eventualidade de se recandidatar. Mas o partido, mediante a decisão inicial de Eugénio Veiga de não se recandidatar, decidiu abrir um processo de escolha e, agindo democraticamente, escolheu Luís Pires e ele é o nosso candidato. Se Eugénio Veiga tivesse mostrado disponibilidade inicial seria o candidato do PAICV?
Acho que se se mostrasse disponível desde o início teria todo o apoio dos órgãos locais do partido, e dificilmente surgiriam outros candidatos.
Caso Eugénio Veiga siga como independente não haverá divisão?
Espero que Eugénio Veiga – pelo seu percurso, pela sua coerência e adesão aos princípios e valores do PAICV – não se recandidate, nesta altura, como independente.
Mas teme uma possível candidatura?
Nunca tememos a democracia e o exercício livre dos direitos e liberdades dos membros do PAICV.
Mas há o risco de Luís Pires perder para Eugénio Veiga, ou seja, o PAICV pode perder São Filipe para um independente.
Sempre que vamos a eleições abrimos a possibilidade de ganhar ou perder. Mas vamos trabalhar com determinação para que o PAICV continue a ganhar em São Filipe. E devo dizer que o PAICV, com a candidatura de Luís Pires, está muito forte, quase imbatível, segundo os dados das últimas sondagens em São Filipe.
Têm feito sondagens todas as semanas?
Não, mas temos alguns indicadores importantes sobre todos os municípios do país.
Curiosamente, também no Fogo, que é bastião do PAICV, há o caso de Mosteiros. Fernandinho Teixeira recandidata-se mas houve disponibilidade de outras candidaturas e há uma, em aberto, para seguir como independente. Não estará o PAICV a desmoronar a sua fortaleza no Fogo?
Não. O PAICV nunca esteve tão forte no Fogo como agora. O PAICV é um partido muito forte e pelo seu desempenho, Fernandinho Teixeira é um grande autarca e está em condições de reforçar a maioria que tem, neste momento, nos Mosteiros.
O facto de Pedro Centeio ter tentado uma negociação com Fernandinho Teixeira para integrar as listas e o seu projecto para o concelho…
Fernandinho Teixeira abriu-se às negociações. Só que, dentro de um partido político há princípios e há valores. Há regras também e não podemos rasgar o nosso catálogo de princípios e valores só para não haver dissenso dentro do partido. Não podendo aceitar determinadas condições impostas, não teríamos outras alternativas senão avançar com a nossa candidatura. E a prova de abertura ao diálogo é que Fábio Vieira, que também era pré-candidato vai agora integrar a lista de Fernandinho Teixeira, após o debate democrático que foi feito dentro do partido.
Pedro Centeio contou ao A Semana que manifestou a vontade de se candidatar aos Mosteiros mas o PAICV nem se interessou em ver o projecto que tinha em mãos. É prática normal do partido decidir sem ver a proposta que existe?
Em todos os municípios, houve uma grande abertura ao diálogo e ao debate democrático que demandam cedências mútuas. Não podemos é considerar que ao apresentarmos uma proposta ela tenha de ser aceite num processo negocial de forma absoluta e total. Não. Temos de ter a perspectiva de abertura, de negociação política, para conseguirmos ter ganhos comuns. Em todos os círculos eleitorais onde surgiram várias candidaturas, sempre houve abertura ao diálogo e ao debate interno, ao respeito das regras do jogo para que as escolhas fossem democráticas. E foi isso que aconteceu.
Mas Pedro Centeio diz que o partido nem viu o projecto.
Houve negociações, segundo os dados de que disponho, mas as condições não eram de todo aceitáveis.
Que condições? O que é que não era aceitável?
Há algumas condições que colidem com a nossa forma de fazer política, e também com alguns princípios e valores do próprio partido.
José Maria Veiga, um amplo consenso no PAICV-Santa Catarina
Falemos de Santa Catarina de Santiago. Um elemento do governo era a única escolha para tentar derrubar Francisco Tavares?
No caso de José Maria Veiga foi quase que um chamamento. Quer dos quadros, quer de várias personalidades e pessoas de vários partidos… Foi uma proposta que emergiu em Santa Catarina e que acabou por permitir um amplo consenso dentro do PAICV, em Santa Catarina. A sua escolha foi unânime no Conselho de Sector.
José Maria Veiga já era falado há muito tempo. Quando assumiu a pasta das Infra-estruturas, já se falava no seu nome para Santa Catarina. Porque é que lhe foi atribuído um ministério? Para o manter na vida activa política e com isso ganhar mais protagonismo para a câmara?
José Maria Veiga já era ministro e na altura, nas últimas legislativas, nem se punha a questão…
Há um ano que se fala nisso.
Mas era uma possibilidade remota, havia outros candidatos. Nos últimos meses é que esta ideia ganhou força e passou a ser mais perceptível para mim. A ida de José Maria Veiga para o governo tem a ver com o seu desempenho, com a sua competência, engajamento e a sua capacidade de liderança.
Quem é que o vai substituir?
Dentro de dias indicarei ao Presidente da República um novo nome.
Na próxima reunião semanal, esta terça-feira?
Eventualmente.
Já que estamos em Santiago... Fernando Moeda foi o último nome que conseguiu para a capital?
Foi o nome consensual que se construiu na Praia, a partir de um debate interno muito forte a nível da Comissão Política Regional de Santiago Sul. Penso que todos os dirigentes, estruturas do partido e militantes devem engajar-se, em força, nesta candidatura.
Mas não era o nome que se falava dentro do partido. Houve, inclusive, a necessidade de Felisberto Vieira e Janira Hopffer Almada virem a público dizerem que não eram candidatos.
Nas escolhas dos candidatos para as diferentes eleições há sempre muita disputa, muito debate, há preferências de vários segmentos dentro do partido e essas preferências dentro do partido acabam por irromper na esfera pública, provocando também um debate na opinião pública. Mas isso é normal, é natural.
Ao escolher Fernando Moeda, que não tem estado na política activa de forma mediática, é dar a Praia como perdida?
Fernando Moeda é um nome forte. É membro da Comissão Política do PAICV e tem desempenhado cargos importantes nas estruturas partidárias. Já foi, inclusive, candidato em 1996, quando protagonizou a candidatura à presidência da Assembleia Municipal. Em 2008, foi o segundo da lista de Felisberto Vieira para a Praia. É uma figura conhecida e também um dirigente do PAICV.
Em 2008 integrou a lista derrotada e não tem estado politicamente activo…
Pode não ter um grande nível de notoriedade, que terá de ganhar agora, fazendo a campanha eleitoral, apresentando-se nos bairros, debatendo com os diferentes segmentos da sociedade praiense. É um praiense, nasceu cá, estudou aqui na cidade, exerceu sempre aqui a sua profissão de jurista e advogado e tem sido, nos últimos anos, um dos administradores do BCA. Desde o início da década de 90 tem exercido funções de liderança no partido.
Ulisses Correia e Silva tem protagonismo e já foi, inclusive, elogiado por si.
Os presidentes das câmaras acabam por ter sempre algum protagonismo, porque estão no poder. Não nego o bom desempenho do Dr. Ulisses Correia e Silva, mas devo dizer que confio que o PAICV poderá fazer muito mais e melhor pela Praia. E não só. O PAICV vai trabalhar para ganhar em todos os municípios do país, esta é a nossa determinação e vontade. A nossa perspectiva é alcançar um novo momento no poder local de Cabo Verde, assumindo novas ideias, novos projectos, um outro nível de governação local, com as próximas eleições.
Na Brava, o PAICV também teve de travar uma luta entre a candidatura do repetente Camilo Gonçalves e a de Clóvis Silva. Este vai apoiar o candidato escolhido pelo PAICV?
As disputas internas são fermentos que acabam por densificar o processo democrático interno. Na Brava houve debate e possibilidade de candidaturas alternativas a Camilo Gonçalves, mas a Comissão Política Regional decidiu que o candidato devia ser Camilo e é ele o nosso candidato. Feita a escolha democrática, todos devem envolver-se. A democracia é mesmo assim, não estamos todos de acordo, há liberdade de dissenso mas, feita a escolha democrática, esta deve ser respeitada. Tenho dito sempre que o respeito pela maioria é um dos princípios de ouro da democracia e claro, todas as decisões podem ser contestadas internamente, através de mecanismos próprios. Feitas as escolhas e não havendo contestação, todos devem envolver-se e trabalhar para a realização plena dessa decisão. É o que tenho tentado fazer dentro do partido.
Caso os possíveis independentes assumam candidaturas, são excluídos do partido?
Quem decidir candidatar-se como independente entregará, com certeza, o cartão de militante. Deixarão de ser militantes do partido.
E poderão regressar?
Penso que há aqui uma questão ética que deve ser analisada. Julgo que não podemos continuar a ter esse jogo dentro dos partidos políticos. Pessoas que estão nos partidos e não respeitam as escolhas democráticas, que entregam o respectivo cartão para sair e se candidatarem, e depois regressam ao partido como se nada tivesse passado… Temos de estabelecer regras de conduta, temos de ter maturidade individual e organizacional para respeitarmos os princípios e valores do partido, as regras do jogo, e assumirmos, plenamente, a nossa condição de militante com direitos, sim, mas também com deveres e obrigações.
O PAICV entregou o Norte do país a mulheres. Foi propositada a escolha feminina ou é coincidência?
Elas destacaram-se e os consensos convergiram para os nomes delas. São grandes dirigentes do PAICV e também pessoas que já desempenharam cargos importantes no Parlamento e no governo. Filomena Martins, Rosa Rocha e Leonesa Fortes já foram membros do governo. Vera Almeida foi secretária geral do governo e também membro da mesa da Assembleia Nacional. Têm muita experiência política, uma grande capacidade de liderança e são muito fortes. Acho que Santo Antão e São Vicente ganhariam enormemente elegendo estas quatro mulheres para câmaras municipais do Norte de Cabo Verde.
Até à data são as únicas mulheres nas listas. Quando é que são divulgados os líderes para as assembleias municipais e restantes equipas camarárias?
Estamos a fazer um esforço para, onde haja possibilidade, as mulheres liderarem as listas das assembleias municipais. Aqui na Praia, por exemplo, a candidata é uma mulher, Ana Maria Freire. Portanto, estamos a trabalhar para, lá onde for possível, as mulheres terem uma forte participação não só nas listas para as assembleias mas também para as câmaras municipais. Estamos a trabalhar as diferentes estruturas do partido neste sentido.
Tem sido difícil arranjar candidatos para as assembleias ou mesmo para as equipas camarárias?
Não, há muitos candidatos, em quase todos os municípios. Há também um debate interno para se fazerem escolhas consensuais.
Essas escolhas ainda não são conhecidas por excesso ou défice de candidatos?
(Pausa) Há debate interno para a escolha. Neste momento, há vários candidatos para os diferentes cargos que temos para apresentar e é preciso sempre que haja muita ponderação, muito debate interno e o exercício pleno da democracia.
Porquê a escolha de Júlio Correia para liderar o processo das autárquicas, um homem que estava nas presidenciais contra a escolha do PAICV? Uma tentativa de unir o partido?
É membro da Comissão Política (CP) e já foi autarca, tem uma experiência política grande e a CP decidiu escolher Júlio Correia, juntamente com outros camaradas – o secretário-geral do partido e o secretário-geral adjunto –, para liderarem este processo de escolha dos candidatos. Sendo certo que a competência é das comissões políticas regionais, no caso do PAICV. Não é competência da Comissão Política Nacional. Esta Comissão Nacional das Autárquicas funcionou um pouco como facilitador do diálogo e do debate, como garante do cumprimento das orientações dadas pelo Conselho Nacional sobre a escolha dos candidatos e também para incentivar o debate interno, a nível das comissões políticas regionais.
Mas Eugénio Veiga bateu o pé, precisamente, por ser Júlio Correia a liderar este processo. Não poderá ter acontecido o mesmo noutros municípios?
Não tenho essa percepção, até porque já disse que Eugénio Veiga é que decidiu não se recandidatar, desde o início. Quanto ao nível de aceitação em relação a Júlio Correia, não me posso pronunciar, porque será uma questão de relacionamento pessoal que não me compete avaliar.
Limitar autárquicas a três mandatos
É a favor da limitação de mandatos?
Absolutamente, devemos limitar os mandatos.
O PAICV está a repetir todos os candidatos que estão no poder municipal, excepção feita a São Filipe.
A maioria está a fazer o primeiro mandato, com excepção para o Fogo (Mosteiros), a Brava e Santa Cruz, os outros estão a acabar o primeiro mandato. Mas acho que devemos limitar a três mandatos a nível das autarquias locais.
O que é que o PAICV considera uma vitória?
Ganhar a maioria das câmaras. Se ganharmos 12 consideramos que é uma vitória. Ganhando as 10 onde estamos no poder, e mais duas autarquias, consideramos que é uma vitória. Será um bom resultado para o PAICV.
Mesmo que essas 12 câmaras não incluam a Praia, São Vicente ou Santa Catarina…
Neste momento, não falamos especificamente de câmaras, estamos a trabalhar…
Mas são os maiores municípios…
Estamos a trabalhar, igualmente, em todos os municípios para termos bons resultados e, portanto, não diferenciamos nenhuma câmara.
O MpD tem a mesma pretensão, manter as 12 que já tem e tirar algumas ao PAICV, inclusive no Fogo. Esta possível divisão no Fogo poderá dar a vitória ao MpD?
O PAICV no Fogo mantém-se muito forte. Todos os dados indicam isso e temos de continuar a trabalhar com toda a humildade para que o PAICV continue a ser o maior partido, muito consistente e forte, no Fogo.
No caso do PAICV não atingir os limites a que se propõe para que o partido ganhe, qual vai ser a sua atitude?
Espero que o PAICV ganhe as próximas eleições mas teremos de, em função dos resultados, fazer a avaliação e o partido debater e analisar as consequências desses resultados.
Vai colocar o seu lugar à disposição?
(Pausa) Não vejo a ligação entre uma coisa e outra. As eleições são locais, as competências estatutárias são das comissões políticas regionais, as campanhas serão lideradas pelos presidentes destas comissões e não devemos confundir eleições locais com eleições nacionais.
Em caso de derrota, são duas eleições seguidas que o PAICV perde, as presidenciais e as autárquicas. O líder do partido não é posto em causa?
As eleições presidenciais não são partidárias…
O candidato apoiado pelo PAICV perdeu.
Os próprios candidatos fizeram um grande discurso de que são independentes e que as presidenciais não são eleições partidárias. Mas, no caso de derrota, fala-se imediatamente na derrota dos partidos políticos e dos líderes dos partidos políticos. Penso que não devemos confundir as coisas, acho que o PAICV não saiu bem das eleições presidenciais por causa da divisão interna, mas não devemos confundir eleições presidenciais com eleições legislativas ou mesmo eleições locais. Estas eleições são outras, com outros protagonistas e quem estará em causa são os candidatos a presidente de Câmara e não os partidos políticos ou outros actores políticos.
Congresso em inícios de 2013
Portanto, vai manter-se firme até ao final do mandato?
Estou a trabalhar para haver estabilidade legislativa e, nestas circunstâncias, a estabilidade governativa do país depende mais da maioria. Temos o dever político e moral de garantir a estabilidade até 2016. Esta é a minha pretensão e é a orientação que tenho dado ao trabalho do governo e ao trabalho do partido.
E o congresso do PAICV?
Será em inícios de 2013, no término do mandato dos órgãos do partido. Nessa altura, abandona o partido ou recandidata-se à liderança do PAICV? Estamos a discutir mas, independentemente do partido, em 2011 apresentei-me ao eleitorado como candidato a Primeiro-ministro, e acho que devo cumprir o meu compromisso com os cabo-verdianos até 2016. Tenho isso muito presente e não devo fugir às minhas responsabilidades e aos compromissos que assumi com os cabo-verdianos.
Mas abandona a liderança do PAICV, em 2013?
É uma questão que ainda não está sobre a mesa e penso que no quadro de preparação do congresso devemos debater todas as possibilidades, desde que não criem instabilidade a nível do governo e da maioria.
Portanto há a possibilidade de deixar de ser líder do PAICV, em 2013, e continuar a ser Primeiro-ministro até 2016?
Não abro esta possibilidade, neste momento. Não posso peremptoriamente dizer que isto poderá acontecer até porque em Cabo Verde é difícil, separar as duas coisas.
Então recandidata-se à liderança do partido.
O que confirmo, neste momento, é que estou a trabalhar para garantir a estabilidade do governo até 2016 e cumprir, por inteiro, o meu compromisso com os cabo-verdianos até 2016. Risos
Que é quando abandona a liderança do PAICV.
Que é quando vou deixar o governo de Cabo Verde. Risos
Remodelação do governo à vista?
Não tenho qualquer indicação nesse sentido.
Tirando esta mudança de ministro, por causa da saída de José Maria Veiga, não haverá qualquer outra alteração no governo até ao final do mandato?
Não tenho, neste momento, qualquer outra indicação nesse sentido.
O facto de o governo andar um pouco por todo o país em visitas a obras e instituições não é já uma forma encapuzada de fazer campanha eleitoral? Você acha que o Presidente da República está a fazer campanha?
O meu papel é fazer perguntas, não responder. …Risos
O seu governo anda no terreno, de certa maneira, a fazer campanha.
O governo tem de governar normalmente, não pode suspender as suas actividades como qualquer outro órgão de soberania - o Presidente da República e os deputados - senão teríamos de suspender as visitas dos deputados aos círculos eleitorais, teríamos de suspender as actividades governativas e o Presidente da República também teria de suspender as suas visitas. O que acho é que são eleições locais e o governo deve manter-se, enquanto tal, equidistante, e trabalhar com neutralidade para garantir que o trabalho governativo se faça, e que as demandas e exigências das pessoas, da sociedade civil, sejam atendidas.
Para que data defende as eleições?
As eleições serão entre 17 de Maio e 17 de Julho.
Mas qual a data que mais convém ao PAICV?
O PAICV estará preparado para, neste intervalo, a qualquer momento enfrentar as eleições.
Código de ética é proposta do PAICV desde 1991
Quando é que vai se reunir com os partidos políticos?
Estamos a preparar a agenda em função deste intervalo, para ouvir os partidos políticos.
O MpD já veio defender que não seria bom que as eleições coincidissem quer com as festas de Junho, quer com a data da independência de Cabo Verde, 5 de Julho. Poderão ser depois desta data ou ainda em Maio?
Neste momento, não me vou pronunciar sobre esta matéria porque sou também Primeiro-ministro e vou ter de ouvir os partidos políticos e só depois disso é que me vou pronunciar. Devo ter a discrição e o recato para não me imiscuir nesta questão antes dos partidos serem ouvidos e apresentarem as suas opiniões. Só nesse caso é que me poderia pronunciar sobre as eleições.
Era o que, no seu entender, o Presidente da República deveria ter feito?
Não comento também, nem as declarações, nem as posições do senhor Presidente da República relativamente a esta matéria.
O presidente do MpD diz que quer assinar um código de ética com o seu partido. O PAICV vai aceitar este código de ética?
Foi o que Carlos Veiga disse no Parlamento. Estamos disponíveis para, o mais rapidamente possível, aprovarmos um código de ética. Em 1991, o PAICV fez a proposta de um código de ética e o MpD não aceitou. Mas estamos disponíveis para o assinar a qualquer momento, inclusive essa proposta de 1991.
Podem sentar-se à mesa, sem ser no parlamento, para negociar este acordo?
O PAICV sempre defendeu isto, desde 91, que deveremos fazer campanhas eleitorais de forma diferente. Até porque na altura das eleições há uma grande deslealdade institucional, não só da oposição como das câmaras em relação ao governo, há muita falta de respeito também e…
Há sempre exageros de ambas as partes.
Há exageros quase sempre, de ambas as partes. Isto tem a ver com uma cultura política, com a maturidade dos actores políticos e das instituições, e um código de ética pode ajudar. Desde 91, nos temos batido para que haja um na altura das eleições. E chegámos a fazer uma proposta, que o MpD não aceitou e não assinou.
E, agora, vai esperar que o MpD proponha a assinatura ou o PAICV vai avançar com a proposta?
Houve um consenso, no debate parlamentar, que deveríamos ter um código de ética. Portanto, qualquer um dos partidos pode avançar com a proposta e nós estaremos absolutamente disponíveis para isso.
Para avançar ou para esperar?
Para avançar com uma proposta de código de ética para as próximas eleições autárquicas.
E o estatuto especial para a cidade da Praia é para avançar quando?
O governo já levou a proposta por duas vezes ao Parlamento. Nas duas ocasiões, o MpD chumbou a proposta de Lei. Neste momento, estamos a trabalhar para que haja consenso e o estatuto especial para a cidade da Praia seja aprovado o mais rapidamente possível. Tem de ser agendado novamente.
Quando é que isso pode acontecer?
Quando os grupos parlamentares chegarem a um entendimento. Nestas questões devemos agir fora dos ciclos político-eleitorais e é por isso que, antes como hoje, estamos de acordo que se deve aprovar o mais rapidamente quanto possível o estatuto administrativo especial, conforme o comando constitucional.
O MpD diz que é o PAICV que está a entravar o processo.
Se já levámos o estatuto duas vezes ao Parlamento e o próprio MpD chumbou, porque não estava de acordo… Mas não apresentou propostas alternativas, limitou-se a chumbar. Tivemos a preocupação de destacar no último debate no Parlamento, que por duas vezes foi apresentado um projecto substituto e, sem apresentar alternativas ou propostas de alteração, a oposição limitou-se a chumbar, por duas vezes, a proposta do governo.
O estatuto pode ser alargado a São Vicente?
Essa questão deve ser discutida. Em todos os momentos eleitorais essa proposta surge em São Vicente. Aliás, o primeiro a fazer essa proposta foi o Dr. Mário Matos, em 2004, agora é retomada pelo actual presidente da Câmara e é apoiada por outros sectores em São Vicente. Acho que o mais importante para a ilha é haver uma autarquia de nível supra municipal, uma região administrativa com os seus órgãos próprios, eleitos directamente, com mais poderes, mais recursos e mais capacidade de governação para liderar a dinâmica de desenvolvimento e de transformação da ilha de São Vicente.
Mas defende isso só para São Vicente, ficando a Praia com um estatuto especial, ou defende essa proposta para todas as ilhas?
Sim, é o que defendemos. Devemos evoluir para que cada ilha seja uma região administrativa, ou seja, uma autarquia supra municipal com os seus órgãos próprios eleitos por sufrágio universal, directo e secreto.
Mas, na prática, vai funcionar como?
São órgãos do poder local autárquico, de nível supra-municipal, com autonomia, órgãos próprios eleitos directamente, e competências próprias no quadro do Estado de Direito Democrático que temos em Cabo Verde.
“Regionalização envolve aumento considerável dos custos de funcionamento do Estado
Nesse sentido, Praia, São Domingos e Ribeira Grande de Santiago integrariam uma região metropolitana, o Norte de Santiago integraria uma outra região?
O que nós defendemos é que Santiago deve ter duas regiões: a região Sul com Praia, São Domingos e Ribeira Grande de Santiago; e a região Norte que englobaria os municípios do Norte. Em relação às outras ilhas, cada uma seria uma região administrativa. É um debate que deve ser feito, assim como o tempo para a implementação de tudo isto, que envolve um aumento considerável nos custos de funcionamento do Estado, porque teríamos dez regiões com os seus governos locais próprios e com as assembleias deliberativas regionais.
Quando é que isto poderá ser real?
É o debate que temos de fazer agora.
Mas será a curto prazo? Tendo em conta a crise, o aumento de custos…
Defendo que deve haver um período de transição em que avançaríamos, num primeiro momento, com regiões-plano que depois evoluiriam para regiões administrativas.
Essa distribuição regional vai ao encontro da proposta do MpD.
Desde o início que temos essa ideia, de que deveríamos avançar para regiões administrativas mas num processo gradual, começando por regiões-plano. As nossas contribuições, desde 2002, anotam esta nossa ideia.
Profunda reforma do Estado – três níveis de autarcas
É um processo para durar quantos anos?
Vai depender dos debates e dos consensos obtidos. Trata-se de uma profunda reforma do Estado a acontecer em Cabo Verde, e penso que esta reforma também poderá ter reflexos no sistema de governo cabo-verdiano. Teríamos um sistema semipresidencialista com eleição directa do Presidente da República, e depois teríamos o governo, o Parlamento, as assembleias deliberativas regionais, as juntas administrativas regionais, ou seja, o executivo das regiões. Depois teríamos as câmaras municipais, as assembleias municipais, teríamos de analisar se haveria juntas de freguesia, autarquias infra-municipais. Temos de pensar em tudo isto.
Estamos a falar de um aumento considerável de custos e também de mais eleições…
De custos, de muitas eleições e de vários níveis de poder num território exíguo…
Exacto. Cabo Verde não é pequeno para tudo isso?
São questões que devem ser debatidas e aprofundadas. Temos o exemplo dos Açores, que é uma região autónoma e tem o governo da região e as autarquias municipais. Temos a experiência das Canárias onde há o governo regional, os ‘Cabildos’, que são as autarquias supra-municipais, temos os municípios e ainda temos o governo do Reino da Espanha. O que me dizem é que, se fosse hoje decidiriam diferente porque há muitos níveis de poder e conflitos – e muitas vezes esses conflitos são corrosivos para o processo global de desenvolvimento. São questões que devemos ponderar muito bem e discutir, sendo certo que lá onde haja espaço para mais democracia e descentralização devemos trabalhar nesse sentido, independentemente dos custos. É nessa linha que devemos abrir esse debate de forma descomplexada. Um debate democrático para construir os melhores consensos.
Tendo esse exemplo das Canárias, e sendo Cabo Verde um país pequeno, ao criar todas estas estruturas não se cai no mesmo erro? Não será construir uma estrada demasiado longa quando o percurso deve ser mais directo?
É nessa linha que deveremos trabalhar para se fazer um debate aprofundado sobre todos esses aspectos, para que as pessoas estejam mais conscientes do que se está a propor. Acho que, em Cabo Verde, deveremos aprofundar o Estado de Direito Democrático com uma forte participação das pessoas. É claro que o conceito de Estado de Direito Democrático integra a descentralização e, em Cabo Verde, deveremos continuar a descentralizar. Não só a descentralização administrativa mas também a transferência para a sociedade civil de um conjunto de poderes e de responsabilidades, desenvolvendo mais a democracia participativa, a democracia directa.
Essa descentralização não pode passar por dar mais poderes aos autarcas?
O reforço do municipalismo faz parte deste processo, sendo certo que em Cabo Verde teríamos sempre três níveis de autarcas. O supra-municipal, que poderiam ser as regiões administrativas, a municipal e a infra-municipal.
Os autarcas queixam-se que o próprio governo não faz as transferências, que constam do Orçamento de Estado, para os municípios. Vai continuar a transferir por parcelas ou vai fazê-lo na totalidade?
Essa tensão e esse discurso encontramo-lo em todos os países. É natural essa tensão entre as autarquias locais e o governo central. Temos de trabalhar no sentido de aumentar consideravelmente os recursos que são transferidos aos municípios. Nós aumentámos de sete para dez por cento a participação dos municípios nas receitas do Estado e a nossa proposta, neste momento, é aumentar de 10 para 17 por cento.
Financiamento Municipal ronda 3 milhões de contos
E esse valor é transferido na totalidade para as autarquias? Legalmente, o Estado é obrigado a transferir para as autarquias locais estes recursos que estão estabelecidos na Lei das Finanças Locais. E a lei é cumprida?
A lei é absolutamente cumprida. Em relação às transferências do Fundo de Financiamento Municipal, cerca de 2,8 milhões de contos, não há reclamação neste momento. Há reclamação em relação a algumas outras taxas e alguns outros impostos por parte dos municípios mas, aqui, também há dívidas enormes dos municípios em relação ao Estado. É preciso negociar e discutir e fazer o encontro de contas entre os dois níveis de poder. Mas esta reclamação existe sempre. Agora, queremos aumentar o volume das transferências do Estado para as autarquias locais mas também é preciso que as próprias autarquias locais modernizem os seus sistemas de contribuições e impostos, aumentem a sua capacidade de arrecadação e mobilizem, através da cooperação descentralizada, recursos para criarem mais riquezas, mais dinâmicas de crescimento e competitividade das comunidades municipais e, sobretudo, participarem mais na criação da riqueza nacional.
Mas os autarcas queixam-se, precisamente, que estão de mãos atadas porque o governo limita o poder municipal e dizem mesmo que são tratados como políticos de segunda.
O governo não pode limitar o poder local. O poder local tem as suas competências próprias que vêm da própria Constituição da República. O Estado de Direito Democrático em Cabo Verde implica a existência de um poder local democrático, forte, com autonomia e competências fortes, que não podem ser limitadas por nenhum governo, por nenhum Estado, sob pena de violar a Constituição da República. Há o estatuto dos municípios, estão absolutamente respeitados; há a lei das finanças locais e outras leis que são feitas e aprovadas pelo Parlamento, para regular as relações entre o Estado e os municípios.
Mas uma coisa é ter a lei e outra é cumpri-la.
Mas a lei é absolutamente cumprida, porque, caso contrário, os municípios poderiam ir aos tribunais, ao Tribunal Constitucional e, nesse caso, o governo e o Estado seriam penalizados.