segunda-feira, 25 de abril de 2011

António Neves vai deixar TACV

António Neves vai deixar de ser PCA da TACV já no próximo mês e, com ele, devem cair os demais membros do Conselho de Administração da nossa companhia aérea de bandeira. É o fim de um ciclo turbulento, marcado por muitos conflitos entre dirigentes e trabalhadores da TACV. O ministro das Infra-estruturas e Recursos Marinhos, José Maria Veiga, não abre o jogo mas vai deixando escapar que “o PCA disse não estar interessado em continuar na TACV”.

António Neves vai deixar TACV  
 
O contrato de gestão de António Neves, que já tinha sido prorrogado, expira em Maio e não será renovado. Tudo leva a crer que o governo resolveu fazer uma mudança total na equipa dirigente do CA da TACV que há muito está de costas voltadas para todo o mundo – não só trabalhadores, sindicatos, ASA, mas também várias empresas com as quais uma empresa como a TACV é obrigada a lidar e a negociar quase de forma permanente. Os processos que a companhia perdeu nos tribunais e que motivaram o pagamento de avultadas indemnizações, bem como, o congelamento das contas bancárias da empresa também pesaram nesta decisão do executivo.

Confrontado com esta informação, o ministro das Infra-estruturas e Recursos Marinhos, José Maria Veiga, afirma que nada está decidido, mas garante que a questão será analisada em breve no Conselho de Ministros. “No nosso primeiro encontro, o PCA disse não estar interessado em continuar a gerir a TACV. Vamos fazer uma discussão interna e ver se é o momento certo para isso acontecer”, frisa Veiga.

António Neves tomou posse a 1 de Julho de 2008, substituindo Gilles Filiatreault, que esteve 19 meses à frente da TACV. Em Março de 2009, Neves escreveu uma longa carta aos trabalhadores alertando-os que a empresa estava “muito doente” e corria sérios riscos. E para não continuar a definhar, dizia, a Administração precisava tomar decisões sérias, que passavam pela harmonização do regime de trabalho com a prática internacional. Em simultâneo, o PCA suspendeu o pagamento das horas extras, reajustou os subsídios vigentes. Os trabalhadores frente às medidas “restritivas dos seus direitos” não as aceitaram de ânimo leve e, desde então, travam uma guerra surda dentro da TACV, em prejuízo da empresa.

Mas o caso mais gritante envolveu os pilotos. Em Novembro de 2010, estes anunciaram que a sua paciência tinha esgotado, em reacções aos pronunciamentos de António Neves que debitava na classe a responsabilidade dos problemas da companhia. Na altura, Neves chegou a perguntar o quê alguns desses pilotos faziam ainda na TACV se podiam estar na “Air France ou Singapore Airlines”.

Respondendo ao repto, estes diziam que, ao contrário de Neves, um piloto cabo-verdiano pode trabalhar em pé de igualdade com qualquer outro profissional do mundo. “Nós, os pilotos, consideramo-nos desvinculados de todos os acordos e memorandos que ele encontrou na TACV e a que não deu sequer seguimento”. E prometiam lutar: “Cada piloto tem direito a quatro folgas por mês, podendo ceder até três à companhia. A partir de agora, vamos deixar de voar nos períodos da nossa folga. Portanto, não contem da nossa parte com qualquer esforço extra. Está no regulamento e vamos cumpri-lo”, radicalizava Luís Semedo, presidente da Associação de Pilotos.

O conflito com os novos pilotos e a consequente “dispensa” de muitos deles só serviu para levar ao rubro um clima já no vermelho.

Mas para quem pensava que já tinha visto tudo, a situação tornou-se insustentável em Fevereiro de 2011, logo após as eleições, com António Neves a dar por findas as comissões de serviço de vários directores de serviços que entraram nas listas do MpD ou apoiaram esse partido nas legislativas. E o caldo entornou com a veiculação da notícia sobre a compra dos novos aparelhos, que motivou uma resposta violenta, inclusive com ataques pessoais, do PCA contra o jornal A Semana.

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