segunda-feira, 11 de abril de 2011

WIKILEAKS: Células terroristas em Cabo Verde

 Há indícios sérios de haver células terroristas instaladas em Cabo Verde. Novos ficheiros secretos da diplomacia americana, divulgados na semana passada pelo Wikileaks, revelam conversações entre Portugal e os EUA para uma intervenção mais pragmática no combate ao terrorismo no arquipélago. Tanto Washington como Lisboa achavam na altura que era crucial envolver as autoridades cabo-verdianas antes que o país se transforme numa nova Guiné-Bissau. Al-Qaida, GIA e Hezbollah são os grupos suspeitos de manterem bases de recrutamento nas ilhas para treinos no Iémen.

WIKILEAKS: Células terroristas em Cabo Verde  
 
Portugal e Estados Unidos desconfiam que há células terroristas a operar em Cabo Verde. Novos “cables” da Wikileaks, recuperados por A Semana, dão conta de um encontro ocorrido a 30 de Julho de 2008 em que o director-central da PJ portuguesa, Pedro do Carmo, alertou a embaixadora dos EUA na Praia, Maryanne Myles, para a probabilidade de grupos fundamentalistas islâmicos estarem instalados em Cabo Verde, de onde partem para realizar as suas actividades pelo mundo fora.

As suspeitas, segundo os documentos secretos da diplomacia americana (Confidential Lisbon 001887), ganharam peso quando em meados de 2008 a polícia internacional deteve um cidadão de origem árabe acusado de perpetrar um ataque terrorista que matou seis franceses no Saara. Assim que foi apanhado, o indivíduo falou fluentemente o “crioulo” de Cabo Verde, o que, para a polícia portuguesa e americana, significa que terá estado no arquipélago durante um longo período. Segundo Do Carmo, da PJ portuguesa, esta seria “a primeira ligação oficial entre Cabo Verde e actividades terroristas”, pois a seguir “vieram a descobrir armamento escondido numa ilha desabitada de Cabo Verde”.

O então DG da Judiciária portuguesa manifestou a Maryanne Myles a sua preocupação quanto ao crescimento vertiginoso do número de cidadãos muçulmanos em Cabo Verde, sobretudo libaneses e sírios, daí sugerir “uma cooperação e intervenção pragmática” para conter eventuais células terroristas no arquipélago. Até porque, disse então Pedro do Carmo, Cabo Verde não dispõe de equipamentos de escuta para combater esse fenómeno. Aliás, aquele investigador disse acreditar que a aquisição do interceptor de chamadas só não acontecera porque havia pessoas no sistema judicial ligadas ao narcotráfico.

Nesses “cables” da Wikileaks lê-se ainda que o director de Cooperação Internacional do Ministério da Justiça cabo-verdiano justificou a fraca intervenção das autoridades nacionais no combate ao crime organizado com o facto, por exemplo, de o país só dispor de dois navios patrulha, um dos quais inapropriado para operar em alto mar. Esse dirigente cabo-verdiano mostrou-se ainda preocupado com o facto de, apesar do mercado financeiro nacional ser reduzido (quatro bancos e duas seguradoras), o governo não conseguir combater transacções ilícitas, sobretudo depois que começaram a surgir bancos off-shores e propostas para a abertura de casinos.

Diante desses dados, os EUA concordaram em encetar uma cooperação forte com as autoridades portuguesas em Cabo Verde, “antes que o país, um caso de sucesso em África, se transforme numa nova Guiné-Bissau”. Na verdade, as suspeitas de Portugal sobre células terroristas em Cabo Verde não eram surpresa para as autoridades dos EUA. Washington há muito vinha alertando Cabo Verde para o perigo de estar a eclodir nas ilhas grupos fundamentalistas islâmicos com conexões à Al-Qaida, GIA (Grupo Islâmico Armado, com sede em Argélia) e mais recentemente o Hezbollah libanês. Aliás, foram os EUA a apressar o governo para adquirir o interceptor de comunicações (telefone, telemóveis, e-mails), o qual foi feito em finais do ano passado.

As autoridades nacionais também despertaram há já algum tempo para o fenómeno do terrorismo e para a eventualidade de o país estar a servir de refúgio e zona de recrutamento de terroristas. É que, depois da detenção o ano passado de Okoly Onyekwelu Aka – o cidadão nigeriano que foi expulso do país sob a acusação de pertencer à Al-Qaida – as autoridades da Praia puseram-se em sentido perante a possibilidade de haver mais terroristas no arquipélago, dando assim real importância aos alertas de serviços secretos internacionais (EUA, França, Holanda, Espanha, etc.).

A PJ, de acordo com as nossas fontes, abriu uma investigação exaustiva para não só apurar se tais suspeitas se confirmavam, como também descobrir se há cabo-verdianos envolvidos. Consta que algumas mesquitas islâmicas na cidade da Praia estarão a servir de base de recrutamento de cidadãos estrangeiros e nacionais para a Gâmbia, de onde partem para campos de treino da Al-Qaida no Iémen, e para o Norte de África onde aprenderão tácticas terroristas utilizadas pela GIA e o Hezbollah.

Este jornal soube que no ano passado dez pessoas, duas das quais de nacionalidade cabo-verdiana, foram levadas para a Gâmbia pensando que iam para uma escola Acorânica, quando, ao que consta, era um recrutamento para treino militar. Eles terão retornado à base por “inadaptação”. Isso depois de muitos problemas e, pois os seus documentos terão sido confiscados e não tinham como regressar. Um deles está agora com problemas psiquiátricos, perdido no álcool e nas drogas, supostamente, por causa da perturbação mental que sofreu. Mas uma coisa é certa, nunca mais quis saber do Islão, de mesquitas e muito menos de Iman. Esse caso já está sob investigação da PJ. HS

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