segunda-feira, 18 de abril de 2011

Inocêncio quer manter a estabilidade política e projectar Cabo Verde no mundo

 

Manuel Inocêncio Sousa, natural do Mindelo onde nasceu em Junho de 1951, define-se como um homem “muito reservado e muito discreto” mas com uma “alegria imensa” no seu interior. O candidato à Presidência da República, que conta com o apoio do PAICV, diz que está a terminar de montar a estrutura de campanha e nos próximos dias vai começar um périplo pela Europa e América, para mais tarde seguir até às comunidades em África. A ser eleito, diz que, “inevitavelmente”, será um fiscalizador do governo mas, mais do que isto quer ser um Presidente com “espírito de cooperação” entre os órgãos de soberania trabalhando para garantir a estabilidade política do país, um bem fundamental para Cabo Verde. Quer um arquipélago desenvolvido, sem desemprego e onde os cabo-verdianos vivam com dignidade. Não teme os adversários, independentemente de quem sejam, e assume a máxima: quantos mais melhor. Afinal, “é muito melhor estar numa competição forte do que estar numa competição morna”.

Inocêncio quer manter a estabilidade política e projectar Cabo Verde no mundo
Não se viu ainda na história de Cabo Verde, o Norte a ocupar cargos de soberania. Sente-se especial por ser candidato à Presidência?
Não, de forma nenhuma. Tenho tido uma participação política de âmbito nacional, para além de ter tido, sem dúvida, uma experiência de liderança regional em São Vicente. Mas de há muito que a minha actividade política ganhou uma dimensão nacional. Estive no governo durante 10 anos, estou habituado à actividade política de âmbito nacional. É a continuação de um percurso.
Se for eleito, fará história.
Penso que sim. Se merecer a confiança dos cabo-verdianos, e for eleito, será sem dúvida um momento marcante, na medida em que será a primeira oportunidade de termos na Presidência um político que vem da região Norte do país e isso, com certeza, a acontecer será um sinal de que Cabo Verde é mesmo uma nação e não um somatório de regiões, vai mostrar que os cabo-verdianos, do ponto de vista político, têm uma visão integrada e unitária da sua nação.
Mas ainda existe um regionalismo, certos sentimentos bairristas, que podem prejudicar a sua candidatura?
Não, não acredito, isso dá-se em algumas elites. O cabo-verdiano é cabo-verdiano onde quer que ele esteja, de onde quer que ele venha, ele é essencialmente cabo-verdiano e isso tenho sentido ao longo deste processo que me está a dizer isto mesmo: que o cabo-verdiano é essencialmente mais cabo-verdiano, do que regionalista.
Já fala badio?
(Risos) Não, não falo badio, porque o meu crioulo de origem é o de São Vicente.
Como tenciona convencer o eleitorado do sul?
(Risos) Falando o meu crioulo como tenho falado sempre. Tenho falado o meu crioulo e discursado em todas as ilhas, e tenho podido comunicar com os cabo-verdianos de todas as ilhas com o meu crioulo da mesma forma que vejo cabo-verdianos de todas as ilhas a comunicar entre si cada um com o seu crioulo. É normal.
Mas é precisamente na região Sul que lhe faltam manifestações de apoio, nomeadamente da Comissão Política Regional de Santiago Sul.
As estruturas partidárias não têm de manifestar regionalmente apoio à minha candidatura. O PAICV já manifestou. O órgão dirigente máximo entre os congressos é o Conselho Nacional. É o CN que tem as competências para decidir e já manifestou e já decidiu. As estruturas regionais não são obrigadas e não têm de o fazer. Houve tomadas de posição de algumas que, entretanto, se reuniram no quadro dos seus próprios programas, e aproveitaram as ocasiões para se regozijarem com a minha candidatura e reforçar o apoio que já tenho do PAICV.
A sua estrutura de campanha já está montada?
Estou em processo de montagem. Isto é um trabalho esforçado, na medida em que temos de montar não só a estrutura nacional mas também todas as estruturas regionais da candidatura. E é nesse processo que estou, com relativo avanço.
Está a ser consensual o apoio nas estruturas?
Sim. As estruturas nacionais e regionais do PAICV estão, e vão estar, alinhadas, como é do timbre do PAICV. Há todo um trabalho de todas estas estruturas, um esclarecimento de todo este processo, porque existem alguns equívocos no ar. Há um trabalho de esclarecimento do processo e de federação de todas as vontades do PAICV à volta do objectivo do partido que é o de apoiar a minha candidatura. Nesta matéria não encontrei, até agora, nenhuma dificuldade. Por outro lado, tenho estado, naturalmente, a contactar com personalidades da sociedade civil, nas diversas ilhas, pessoas que estou a convidar para pertencerem à estrutura da minha candidatura, nomeadamente para meus mandatários, personalidades que gostaria de ver envolvidas em comissões da minha candidatura. Este processo está em curso e tenho recebido e encontrado uma grande abertura das pessoas com quem tenho conversado e a quem tenho dirigido convites. A montagem da minha estrutura está a correr aceleradamente.
Quem é o mandatário nacional da sua campanha?
Ainda não. Vou dizer no momento próprio. Vamos apresentar a minha candidatura, não temos interesse em lançar nomes assim.
Disse que está a dialogar também com a sociedade civil. Quer reunir apoio para além do partido?
Naturalmente. As candidaturas presidenciais, como já foi vastas vezes repetido, não são candidaturas partidárias. Tenho o apoio do PAICV mas desde o princípio, quando comecei a trabalhar, o que fiz foi exactamente contactar personalidades da sociedade civil. Encontrei-me com grupos de pessoas, com cidadãos, não envolvi as estruturas partidárias, porque a minha primeira intenção era verificar se havia condições e receptividade a nível da sociedade civil. Antes de pensar no apoio do PAICV, quis verificar se havia receptividade na sociedade para a minha candidatura. Foi, e é, a minha primeira condição. A segunda era efectivamente conseguir o apoio partidário que era mais um objectivo do ponto de vista pragmático para dar suporte, digamos, a todo um trabalho que estou e terei de desenvolver para fazer uma candidatura de sucesso. Verifiquei a receptividade da sociedade civil, durante o ano de 2010, e foi isso que me levou a decidir avançar. Foi através do jornal A Semana que, em Novembro, confirmei a minha intenção mas, na altura afirmei que era candidato e que só prosseguiria se conseguisse mobilizar o apoio do PAICV.
Nessa altura já tinha indícios de que o partido o viria a apoiar?
Não, não tinha. Estava a trabalhar para isso, para mim era objectivo essencial, porque sem isso não me candidataria. Foi com muito trabalho, muitos contactos com muitos dirigentes nacionais e regionais do PAICV que consegui reunir as condições, ter a maioria do Conselho Nacional e o apoio do PAICV.
O seu trabalho, enquanto ministro, deu-lhe visibilidade a nível nacional e é conhecido em todo o território. E na diáspora sabem quem é Manuel Inocêncio Sousa?
Na diáspora também porque, hoje em dia separar os cabo-verdianos que residem no país e fora dele, é artificial. As pessoas estão a acompanhar permanentemente, no dia-a-dia, o que acontece em Cabo Verde. Quando comecei no governo, em 2001, como ministro dos Negócios Estrangeiros, tive oportunidade de percorrer esse mundo todo e encontrar-me com todas as comunidades cabo-verdianas que existem no mundo.
Mas já lá vão 10 anos.
O que quero dizer é que nessa altura, uma das grandes preocupações que tínhamos, quando visitávamos as comunidades, era a de informar os cabo-verdianos na diáspora de como estava o país, as suas perspectivas, como evoluía, como encarávamos as soluções dos problemas, etc. Hoje, quando circulamos pela diáspora, já não temos essa preocupação, porque estão informados. Neste espaço de tempo houve uma grande evolução na utilização das tecnologias de informação e comunicação em Cabo Verde. Os jornais online, nomeadamente o vosso que deu, e dá, uma grande contribuição na informação dos cabo-verdianos que estão por esse mundo. Hoje, os cabo-verdianos têm acesso online a todos os meios de comunicação de Cabo Verde e portanto estão a acompanhar o dia-a-dia do país, como um cabo-verdiano em Cabo Verde acompanha. Não há diferenças. As pessoas estão informadas e sabem o que é que cada um faz e não há problema. Tive a oportunidade de percorrer a diáspora inteira, há cerca de oito anos, mas nunca mais parei de visitar uma e outra comunidade cabo-verdiana no exterior. E no quadro deste processo preparatório da candidatura já estive em alguns países, mas vou iniciar agora uma nova agenda de visitas a todas as comunidades.
Vai começar por onde?
A minha próxima deslocação será a Portugal e à França e a seguir Estados Unidos. Depois virá Holanda, Luxemburgo.
Vai ser Europa e Américas?
Sim, as primeiras viagens serão à Europa e América e a seguir às comunidades em África. Vou visitá-las todas nesta fase, ainda antes da pré-campanha.
E como está a sua imagem perante a comunidade internacional? Que ligações tem?
(Risos e pausa) Penso que a minha candidatura é bem recebida pela comunidade internacional. Tive oportunidade de conversar sobre ela com várias figuras. Algumas são representantes de alguns países parceiros de Cabo Verde, que estão cá, mas também falei com gente de outros partidos políticos e de outros países e penso que a minha candidatura será bem recebida na comunidade internacional.
Tem alguma estratégia para chegar a esta elite?
Vamos conversando naturalmente.
Quais são as principais prioridades do seu programa de candidatura?
Para já tenho de concluir a montagem organizativa da candidatura e, paralelamente, vou desenvolvendo contactos com os cabo-verdianos nas ilhas todas que vou visitando, com a sociedade civil que tenho vontade de envolver, pessoas influentes, vou fazendo encontros com jovens. A minha intenção, nestes meses, é falar mais com os cabo-verdianos, ao mesmo tempo que vou montando todo o sistema organizativo da minha candidatura.
Está a dar-se a conhecer a quem, eventualmente, tem uma imagem errada de si?
Não, não é dar-me a conhecer, porque o que verifico é que as pessoas me conhecem. Saio aqui, num bairro da Praia, para contactar com pessoas e, praticamente, toda a gente me conhece. Mas uma coisa é uma pessoa me conhecer através da televisão e outra é o contacto pessoal. É esse contacto olhos nos olhos que estou a fazer agora, porque não tive oportunidade de o fazer com tanta gente assim. Já percorri este país, já contactei e conversei com muita gente ao longo destes anos mas, num processo desta natureza, precisamos de chegar às pessoas e conversar com elas sobre as nossas ideias e intenções. Mas posso dizer que, normalmente as pessoas se dirigem a mim e me conhecem.
Tem ideia de que há quem o julgue um pouco antipático ou mesmo arrogante?
Não. O Manuel Inocêncio não é nem antipático nem arrogante. (Risos) Não é. Se tiver o cuidado de escolher uma amostragem de pessoas que me conhecem e falar com elas vai verificar que nenhuma delas lhe vai dizer que sou antipático ou arrogante. Sou uma pessoa muito reservada, muito discreta, e isso faz com que as pessoas que não têm contacto directo comigo vejam em mim uma pessoa com, enfim, alguma arrogância ou antipatia. Não tem nada a ver, é a minha personalidade, uma simples atitude de discrição e reserva. Não sou uma pessoa muito aberta, muito eufórica. Não, não sou. Sou muito tranquilo e reservado mas sou uma pessoa muito alegre, tenho uma alegria interior enorme. Não me lembro de estar com tristeza. Sou uma pessoa com uma alegria enorme mas tranquila, no meu lugar, com algum recato. E isto pode parecer antipatia para algumas pessoas.
Algumas pessoas que serão a maior parte do eleitorado.
Isso quebra-se naturalmente com os contactos que vou fazer.
Vai mudar a sua imagem?
Não vou mudar a minha imagem, porque acho que é uma boa imagem. (Risos).
Ganhando as eleições, que PR os cabo-verdianos podem esperar?
O que me motiva para a candidatura à Presidência é, no essencial, continuar a trabalhar para a realização da visão que eu tenho para o desenvolvimento deste país.
Que visão é essa?
A visão de um país desenvolvido em que os cabo-verdianos tenham condições de vida e dignidade, em que haja emprego e rendimentos para todos os cabo-verdianos. Esta é a visão para a qual tenho trabalhado ao longo de toda a minha vida, e em várias etapas, com participações das mais diversas: no parlamento como deputado e, nos últimos anos, mais intensamente na governação, que nos dá outra possibilidade de intervir, conhecer e envolver na solução dos problemas da Nação. É essa visão para a qual contribuo há muitos anos. Agora, fechado o ciclo de governação, pensei que estava chegado o momento para um outro projecto político, de outra envergadura, como é o caso de um projecto presidencial ou de um regresso à actividade profissional. Acabei por reunir as condições para avançar com o projecto político presidencial e é nessa perspectiva que avanço. Não tenho nenhuma grande apetência pessoal por altos cargos, não é um projecto pessoal de poder para mim, é a continuação da participação na realização de um desígnio que é nosso, que é um desígnio nacional. É essa a minha perspectiva e na Presidência da República estarei dentro dessa perspectiva, fazendo tudo o que estiver ao meu alcance e que esteja dentro das competências que a Constituição confere ao Presidente da República. E dentro desse quadro, farei o máximo e o melhor que puder para que Cabo Verde continue a progredir e a avançar no seu desígnio colectivo, de nós todos, o do desenvolvimento do país. Vou trabalhar pela garantia da estabilidade política, que é fundamental para Cabo Verde. Os progressos que tivemos, ao longo dos anos todos, têm muito a ver com o facto de termos tido sempre governos estáveis, de legislatura, o que tem dado condições para programarmos, planearmos a médio e longo prazo e para mobilizarmos a comunidade internacional no sentido de trabalhar em permanência connosco na realização dos nossos objectivos. Esta estabilidade política também nos tem permitido ambiente social para trabalharmos, para as instituições públicas trabalharem, para o sector privado também ter confiança e investir em Cabo Verde. A estabilidade política é essencial, é fundamental para que Cabo Verde continue a progredir. Na Presidência farei tudo o que estiver ao meu alcance para continuar a garantir esta estabilidade política que temos tido no país. Também precisamos de estabilidade social. O diálogo entre os parceiros sociais deverá continuar e aprofundar-se, sobretudo num ciclo de governação em que antevemos maiores dificuldades do que nos ciclos anteriores. O nível dos desafios do país que temos hoje de vencer, nomeadamente o desafio do emprego num contexto difícil, exige que, efectivamente, haja ainda maior diálogo entre os parceiros sociais.
E o que pode fazer o Presidente da República?
Pode contribuir incentivando, mobilizando, motivando todas as forças sociais para uma visão colectiva dos objectivos, para congregar todas as forças sociais na linha da consecução dos objectivos da Nação. Esse é um papel que o Presidente da República pode ter desígnios para os quais deve contribuir. A estabilidade social será também uma das minhas grandes preocupações. Por outro lado, penso que o Presidente da República, no contexto mundial em que vivemos, também tem que, conjuntamente com o governo, ter uma acção muito forte na arena internacional, muito forte mesmo. Num contexto internacional tão móvel, como o que temos hoje, com mudanças tão rápidas e repentinas e sendo Cabo Verde um país que ainda vai continuar a precisar do suporte, da parceria, da comunidade internacional para conseguir os seus objectivos. O Presidente da República também deve, e muito, contribuir para encontrarmos novas parcerias, consolidar as existentes, abrir novas linhas de relacionamento e de cooperação com outros países do mundo. Precisamos de novos paradigmas para motivar a comunidade internacional, convencer os nossos parceiros de que vale a pena trabalhar com Cabo Verde, vale a pena investir em Cabo Verde. Portanto, são papéis que o Presidente da República pode, no quadro das suas prerrogativas constitucionais, desempenhar, e que pretendo desempenhar. Por outro lado vou interessar-me pela política interna do país. Vou procurar estar presente nas comunidades, com os jovens, com os mais desfavorecidos. Vou estar atento às questões ambientais. Enfim, vou estar atento às grandes questões nacionais para contribuir positivamente para a sua solução.
Depreendo das suas palavras que será um Presidente mais parceiro do governo que fiscalizador.
Inevitavelmente terei de ser fiscalizador na medida em que um dos poderes constitucionais de um Presidente da República é, precisamente, garantir o cumprimento da Constituição. Terei de exercer os poderes que estão previstos, da promulgação e da garantia da constitucionalidade de todos os diplomas que são de iniciativa governamental mas também de iniciativa parlamentar. Portanto os poderes de fiscalização irei exercê-los, inevitavelmente, irei cumprir com as minhas obrigações constitucionais. Mas não quero só fazer isso. Quero ser um Presidente que traga um espírito de cooperação com os outros órgãos de soberania, um contributo activo para a solução dos grandes problemas da Nação.
De que forma tenciona posicionar Cabo Verde em África, nomeadamente na Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) e na União Africana (UA)?
Cabo Verde vai continuar a desempenhar o papel que tem procurado desempenhar nos últimos anos. Quando lançámos a ideia da parceria especial com a União Europeia, ao mesmo tempo procurámos aprofundar o nosso relacionamento com a União Africana e, nomeadamente, com a nossa sub-região da África Ocidental. Isso, numa perspectiva de sermos úteis no diálogo entre a Europa e África. E temos procurado ser referência, temos trabalhado no sentido de mostrar ou de ser um exemplo na nossa região, de que é possível termos democracia, consolidarmos a democracia e governar bem, com transparência, com políticas para o benefício dos cidadãos. São exemplos que valem só pelo facto de existirem. Sem demasiadas pretensões, queremos efectivamente ser um exemplo de sucesso, e de desenvolvimento em África. Com outros países africanos, como nós, que têm seguido a mesma linha, queremos dizer que África pode desenvolver-se e que vale a pena investirmos no aprofundamento da democracia, nos direitos dos cidadãos, da boa governação, porque isso resulta sempre em progresso para os nossos povos, para o nosso continente. Na nossa sub-região defendemos estes valores, procuramos e devemos continuar cada vez mais a aprofundar a defesa desses valores da paz, da democracia, da boa governação, das boas estratégias para o desenvolvimento dos países, etc.
A África tem potencial económico. Cabo Verde poderá virar-se mais para o continente?
Cabo Verde, como tem sido visão dos governos de Cabo Verde, deve explorar a sua localização nesta sub-região, nas relações económicas, comerciais entre África Ocidental e o resto do Mundo – África Ocidental/Europa/Américas. Temos procurado fazer isso e é nesta linha que temos de continuar a trabalhar. Todos os poderes em Cabo Verde têm a mesma visão. Há um largo consenso, não há diferenças neste objectivo, podemos encontrar diferenças de metodologia mas a visão é partilhada e o Presidente da República deve trazer a sua contribuição para a realização desta visão, no seu relacionamento com os seus homólogos africanos e a nível dos países europeus, Brasil, América, etc.
Pedro Pires participou na mediação de alguns conflitos no continente. Manuel Inocêncio Sousa está preparado para ter também um papel activo ou será mais reservado?
Com a ponderação e os cuidados que se deve ter no envolvimento em processos desta natureza, tendo em conta a dimensão de Cabo Verde e o seu nível de influência, com essa ponderação penso que não podemos perder oportunidades de projectar Cabo Verde no mundo. Onde houver oportunidades e interesse do envolvimento de Cabo Verde em processos de paz, estaremos, com certeza, disponíveis e vamos fazê-lo no sentido de projectar Cabo Verde no mundo.
Os críticos à sua candidatura dizem que, por ser engenheiro, não tem o perfil ideal para Presidente da República. Que comentário tem a fazer?
(Risos) Não sei qual é a formação ideal para ser Presidente da República, porque se observar os outros países do mundo encontro na Presidência pessoas com as mais diversas formações. Nunca ouvi falar de um perfil do ponto de vista académico para a Presidência da República, não existe. Para Presidente da República é preciso um político maduro, experiente, que seja capaz de representar e defender bem os interesses da Nação cabo-verdiana. Alguém que pelo seu exemplo possa motivar, mobilizar a Nação para os seus desígnios. Estes são os requisitos que penso que deve ter um Presidente da República. Ser engenheiro, jurista, economista é uma questão irrelevante, porque o que vale é a vontade, a força anímica e as cumplicidades que o PR tem que construir com a Nação. Qualquer formação académica de base serve desde que tenha, de facto, de base esta experiência, esta vivência da realidade do país e a capacidade de interpretação. Quanto à questão do engenheiro, só lhe falo da minha experiência de ministro dos Negócios Estrangeiros. Quando em 2001 fui convidado pelo Primeiro-ministro para assumir a pasta das relações exteriores de Cabo Verde, muita gente fez essa interrogação: um engenheiro na diplomacia? No final de dois anos de exercício da função já ninguém se lembrava que Manuel Inocêncio Sousa era engenheiro. As pessoas que falaram comigo sempre me falaram bem do meu desempenho nos Negócios Estrangeiros. E foram dois anos cruciais para a nossa diplomacia.
A abstenção tem sido alta nas eleições presidenciais. Tem algum projecto específico para a combater?
Nas presidenciais tivemos uma elevada abstenção, em 1996, porque tínhamos um único candidato. Mas, nas outras, a taxa da eleição tem rondado os 75 por cento.
Não deixa de ser a eleição que tem mais abstenção.
É natural. A ideia que o cabo-verdiano tem das eleições legislativas e presidenciais é que as legislativas é que determinam quem governa. E as pessoas mobilizam-se mais, porque nas legislativas joga-se mais o futuro de Cabo Verde do que nas Presidenciais. Mas as pessoas dão muita importância às eleições presidenciais. Tenho participado e verifico que há uma grande mobilização, salvo esse caso particular, de um único candidato. Ao contrário desta, que conta com vários candidatos. Vai haver mais mobilização?
Creio que sim. Já há três candidatos, eventualmente poderá aparecer um quarto, quem sabe. Não está fora de questão. E quanto mais competição mais gente se mobiliza, se motiva e portanto há mais participação. Acredito que estas eleições vão ser muito concorridas e competitivas. E quando é assim, há forte mobilização e participação – e isso é bom.
É também um desafio maior?
É um desafio maior para nós candidatos, mas é muito melhor assim. É muito melhor estar numa competição forte, que motiva, que mobiliza, que interessa à cidadania do que estar numa competição morna.
Esta quarta candidatura poderá ser a de David Hopffer Almada, mais uma personalidade da sua ala partidária?
Não sei, não estou a antever nenhuma em especial, estou a dizer que, eventualmente, pode aparecer. Tudo está em aberto ainda.
A entrada na corrida de Aristides Lima já mexeu com a sua candidatura?
Não. A minha candidatura tem as condições que eu precisava de reunir para avançar com ela. Com essas condições estou a trabalhar e vou fazer o melhor para ter sucesso.
Não exige mais esforço da sua parte?
Um pequeno esforço suplementar para contribuir para a federação de todas as vontades do PAICV. Um pequeno esforço. O PAICV é um partido que, normalmente, se congrega facilmente à volta dos seus objectivos, não é preciso um grande esforço.
Se David Hopffer Almada, também, entrar na corrida o partido vai ficar ainda mais dividido. Será mais um pequeno esforço?
Não sei se essa possibilidade se coloca.
É uma possibilidade que existe.
Não sei, não vi ainda nenhum sinal nesse sentido.
Manifestou-lhe algum apoio à sua candidatura?
Sim, no dia da reunião do Conselho Nacional. A declaração dele foi no sentido do apoio.
Como vê esta possível impugnação do apoio do MpD à candidatura de Jorge Carlos Fonseca?
É difícil opinar sobre isso, na medida em que é um processo que não conheço.
Não teme, como já foi dito, que Carlos Veiga avance com uma candidatura à Presidência?
Se Carlos Veiga avançar será um novo adversário. Será mais um. Como já lhe disse, eu já reuni todas as condições que considerava essenciais e fundamentais para o avanço da minha candidatura e ela vai avançar com toda a força. Os adversários serão aqueles que aparecerem.
Houve sondagens a apresentar Carlos Veiga como o candidato do Mpd mais bem posicionado para ganhar. E com essas “rachas” no PAICV, o terreno é propício à sua aparição.
Será um adversário. Quando decidi candidatar-me, havia a perspectiva da candidatura do Dr. Carlos Veiga e portanto não me decidi candidatar porque o Dr. Carlos Veiga decidiu não se candidatar. Quando decidi assumir um projecto desta envergadura ponderei tudo. Sou uma pessoa que toma decisões com cautela e ponderação. Portanto quando decidi entrar, contava com todos os cenários possíveis. Estou preparado para enfrentar qualquer adversário neste processo. Não escolho os adversários.
As últimas sondagens colocam-no um pouco mais abaixo dos outros candidatos assumidos. Dá importância às sondagens?
Não, essas sondagens foram publicadas numa fase muito prematura. De qualquer maneira devo registar que, através do jornal A Semana, tomei conhecimento de uma sondagem realizada, há cerca de um mês, que me colocava numa evolução muito interessante. Estamos em movimentos de sentido contrário, eu estou a subir e os restantes candidatos estão a descer, e isto para mim já é um sinal. Acredito que será esta a tendência futura, vou trabalhar para isso. Uma leitura estática, e tirar conclusões, de uma sondagem num determinado momento é muito arriscada. As sondagens só podem ser lidas de uma forma dinâmica. A dinâmica das sondagens no processo é que nos pode dar indicações do que se pode esperar no futuro.

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