Já se faziam apostas para adivinhar quando chegaria o fim, e o fim chegou bem depressa: a cantora britânica Amy Winehouse, de 27 anos, morreu ontem, na sua residência em Camden, no norte de Londres, Inglaterra. Apesar de a polícia, chamada ao local para confirmar o óbito às 11h00, não ter adiantado as causas, não é difícil imaginar que foram os excessos que mataram Amy Winehouse e calaram uma voz e um talento únicos.
A Universal, editora que a representa, apressou-se a lamentar o desaparecimento de uma cantora que em muito pouco tempo teve um impacto brutal no mundo da música - pelas boas e pelas más razões. "Estamos profundamente tristes com a perda de uma artista tão talentosa. As nossas orações estão com a família, os amigos e os fãs de Amy, nesta hora tão difícil para todos", lia-se no comunicado. Isto enquanto centenas de pessoas se juntavam já frente à casa de Amy Winehouse para prestar uma última homenagem à intérprete de ‘Back to Black' e ‘Rehab'.
A cantora, que em Junho passado tinha protagonizado mais um momento triste na sua carreira, actuando sob efeito de drogas em Belgrado, na Sérvia, naquele que foi considerado "o pior concerto de sempre", viu-se obrigada a cancelar a sua tournée europeia, que incluía Portugal.
Amy deveria voltar ao nosso país em Agosto para o festival Sudoeste, depois de ter cá estado no Rock in Rio Lisboa 2008.
Amy Winehouse começou a fazer história em 2003, quando, com 20 anos, lançou o seu álbum de estreia, ‘Frank', marcado pelas influências jazz. Três anos depois acontecia a explosão mundial com ‘Back to Black', que misturava sons R&B com soul e a pop dos anos 1950 e 60.
Os números começaram a falar: cinco Grammy, quase dois milhões de cópias vendidas num só ano. Mas Amy não sobreviveu à fama e ao tremendo sucesso.
PERFIL
Amy Jade Winehouse nasceu no seio de uma família judaica a 14 de Setembro de 1983, filha de um motorista de táxi e músico amador e de uma farmacêutica. Começou a compor aos 13 anos, entre os 20 e os 23 gravou dois discos (‘Frank' e ‘Back to Black') que a catapultaram para a fama. Em 2007 casou-se com Blake Fielder-Civil, de quem se divorciou em Agosto de 2009.
EX-MARIDO DE AMY NÃO QUIS DINHEIRO
O casamento com Blake Fielder-Civil alimentou os tablóides britânicos durante meses. Segundo as más-línguas, terá sido ele quem introduziu Amy à cocaína e à heroína, mas no processo de divórcio recusou receber dinheiro.
TERCEIRO DISCO ESTAVA PRONTO A SER LANÇADO
Há cinco anos que os fãs esperavam pelo sucessor do multipremiado ‘Back to Black'. O terceiro disco está completamente gravado e esperava-se apenas que a artista recuperasse para ser lançado.
TANTO TALENTO QUANTO LOUCURA À MISTURA
O interesse de Amy Winehouse pela vida artística manifestou-se cedo - tão cedo quanto o seu carácter rebelde. Com 14 anos, foi expulsa da escola de teatro, a Sylvia Young Theatre School, por "não se esforçar" e por ter posto um ‘piercing' no nariz. Já adulta, confessou que em adolescente se automutilava e que sofria de distúrbios alimentares, mas foram as drogas e o álcool que assinaram a sentença de morte de Amy Winehouse, que, aos 23 anos, estava completamente dependente.
Ficarão para a história as fotos da cantora seminua, a deambular sozinha por Londres em Dezembro de 2007. Nos dois anos seguintes não se falou de outra coisa senão dos sucessivos internamentos da cantora em clínicas de desintoxicação.
Em 2010, Amy declarou-se "completamente curada", mas antes de um concerto na Sérvia, já neste ano, tinha feito novo tratamento na Priory Clinic.
CANÇÃO 'REHAB' FOI QUASE UMA CONFISSÃO PÚBLICA
A morte de Amy Winehouse apanhou o pai, Mitchell Winehouse, prestes a embarcar para os Estados Unidos, onde ia actuar com a sua banda de jazz, que ganhou novo impulso desde que a filha se tornou famosa. Amy até já tinha escrito a pensar na figura paternal: o tema ‘Rehab' (diminutivo de ‘reabilitação') foi inspirado nos conselhos do progenitor.
"Se o meu pai diz que estou bem/Ele tentou levar-me para a reabilitação/Mas eu não vou, não não." No estado de dependência em que se encontrava, de nada lhe serviram os conselhos.
SABIA QUE IA MORRER AOS 27 ANOS
A maldição cumpriu-se: Amy Winehouse entra para a trágica lista de músicos talentosos que morreram aos 27 anos. E a cantora de ‘Rehab' suspeitava disso: ao ‘The Sun', uma amiga da artista confessou que Amy sabia que estava em risco e que se podia juntar a Kurt Cobain, dos Nirvana, Jim Morrison, dos The Doors, Janis Joplin ou Jimi Hendrix. Todos famosos, todos mortos prematuramente, aos 27 anos.
Os excessos foram tão frequentes que em 2007 o pai da cantora anunciou que já tinha escrito o discurso de funeral da filha, na sequência de um novo internamento de Amy por abuso de drogas, influenciada pelo ex-marido Blake Fielder--Civil: "Quando descobri que Blake lhe tinha dado mais drogas, não quis acreditar. Era tão mau como se alguém tivesse apontado uma pistola à cabeça da minha filha", comentou Mitchell Winehouse na altura.
O ‘Clube dos 27', que gerou teorias no universo da pop, começou com Brian Jones, dos Rolling Stones, afogado numa piscina em 1969.
Um ano depois, o mago das guitarras Jimi Hendrix engasgou-se no próprio vómito, num hotel londrino, depois de misturar vinho e drogas.
Seguiu-se Janis Joplin, também em 1970, que terá sucumbido a uma overdose de heroína. O líder dos The Doors, Jim Morrison, morreu numa banheira em 1971, em Paris, e, em 1994, Kurt Cobain, também viciado em drogas, matou-se com um tiro. A música pop nunca mais foi a mesma.
APOSTAS PARA ADIVINHAR MORTE
Com a ameaça de overdose em 2008, foi criado um site de apostas em que se convidava os utilizadores a preverem a data precisa da morte da cantora. Intitulado ‘When Will Amy Winehouse Die?' (traduzível por ‘Quando Vai Morrer Amy Winehouse?'), o portal prometia oferecer um iPod Touch da Apple ao vencedor.
RIHANNA E MOBY REAGEM ON-LINE
Várias estrelas da música e não só reagiram nas redes sociais à morte de Amy Winehouse. A cantora Rihanna disse estar "genuinamente devastada" com o óbito, ao passo que o músico Moby pediu desculpa "por não ter ajudado mais" a cantora. Já a modelo Kate Moss disse no Twitter: "Estou triste por ver aquele talento esvanecer-se."
"MAIORIA DAS OVERDOSES É DE HEROÍNA" (João Goulão, Presidente do Instituto da Droga e Toxicodependência)
- Que droga provoca mais overdoses?
- A maioria está relacionada com heroína, mas muitas vezes há mistura de substâncias. No entanto, hoje morre-se menos de overdose.
- Numa overdose de heroína o que sucede ao organismo?
- Há depressão do centro respiratório, morre-se por asfixia.
- De nada lhe valeu aceder aos melhores tratamentos...
- Se calhar nunca quis. Imagino que a pressão a levasse a consumir substâncias de sinal contrário, algo para acalmar, algo para trabalhar. Um cocktail terá levado à morte.
- Como analisa o impacto desta notícia?
- É mau pela vida que se perde mas pode ajudar a passar uma mensagem de alerta.
SÓSIA VAI ESTAR HOJE NO T CLUB
O projecto musical ‘The Amy Winehouse Experience', liderado por uma sósia de Amy Winehouse e que interpreta músicas da cantora falecida, vai estar hoje no T Club, na Quinta do Lago, Algarve. A organização garantiu ontem ao CM que o espectáculo, marcado há algum tempo, vai realizar-se, apesar da súbita notícia, ontem, da morte da artista.
Além de canções como ‘Rehab', ‘Back to Black', ‘Me and Mr. Jones' ou ‘Valerie', da cantora, o projecto de tributo promete interpretar também clássicos de 1960.
REACÇÕES
RUI VELOSO (Músico)
"Há pessoas que arriscam muito e outras que não arriscam nada - ela foi das que arriscaram. Infelizmente a história da música faz-se muito disto."
RITA GUERRA (Cantora)
"É uma péssima notícia e fico muito triste. Ela era tão jovem e tinha uma voz maravilhosa. Sucumbiu aos vícios, e é bom que os jovens pensem nisto."
ÁLVARO COVÕES (Promotor)
"A música fica mais pobre, sem dúvida, mas quem acompanhou a carreira da Amy percebia que não podia ir longe. Era uma pessoa muito doente."
ANTÓNIO MANUEL RIBEIRO (Músico)
"A Amy há muito tempo que tinha traçado o fim da sua vida. Faz lembrar o Hendrix, a Janis Joplin... Vidas velozes que não têm a capacidade para travar."
MIGUEL ÂNGELO (Músico)
"Não é nada que não se pudesse prever. Agora poucas pessoas queriam trabalhar com ela. Os excessos levam a isto: ou se tornam adultos ou perecem."
JORGE PALMA (Músico)
"O que se pode dizer sobre Amy Winehouse que não seja previsível? Teve sucesso demasiado cedo na sua vida e não conseguiu lidar com isso."
LUÍS MONTEZ (Promotor)
"A primeira vez que vi Amy Winehouse ao vivo, em 2007 em Austin, Texas, a sua actuação deixou toda a gente emocionada. Pôs todos a chorar."
PAC (Músico)
"Não tenho afinidade com a sua música, mas tenho pena porque acho que ela tinha talento. Infelizmente é um cenário que conheço relativamente bem."