No último comício, o dr. José Neves foi, porém, longe de mais. A coisa foi de uma gravidade sem limites. Acusou a tropa fandanga de “intriguista” (lá saberá porquê…) e afirmou que Amílcar Cabral foi morto pelos camaradas do partido. Registe-se: o PAIGC-CV é, assumidamente, um partido de cúmplices e criminosos
Exactamente como no grande livro de A. Huxley (sobre a Utopia? Distopia?), o sr. José Maria Neves e a facção rival do PAICV (o grupo dos “ratos” ou “intriguistas”, na nova versão do “grande líder”!) querem transformar a sociedade cabo-verdiana numa eficiente “linha de montagem”, em que os Engenheiros das Almas e os Progressistas de outrora programam o presente e o futuro da nação à medida dos seus sonhos hegemónicos e de poder absoluto. Nada escapa à sua voracidade.
Aristides Raimundo Lima, da sua parte, é aquilo que se sabe. Conhecedor da “doublespeak” e da estratégia de desinformação, apresenta-se, hoje, como o candidato da “cidadania”, ao mesmo tempo que mantém a sua condição de dirigente fiel do PAICV e as funções de deputado (este ponto é fundamental, porque o dr. Aristides, astuciosamente, apenas SUSPENDEU o seu mandato, quando devia RENUNCIAR, mostrando, aí sim, alguma independência e equidistância, como é exigível num cargo constitucionalmente suprapartidário).
No debate televisivo, acossado por um Jorge Carlos Fonseca acutilante, e mais inteligente, fez o que pôde para negar o óbvio: nunca gostou da actual Constituição da República e não votou a carta magna que fundou a II República.
Lá veio com a esperteza totalitária, brandida antes por uma certa ministra, de que o MpD “impediu”, na altura, a participação do PAICV e “excluiu” propositadamente a oposição, razão pela qual ficaram tristes (ó que pena!!!) e, como justo protesto, decidiram não votar a Constituição. O argumento é giro, mas tem um problema: é falso! Absolutamente falso e patético.
O MpD não excluiu ninguém. Acontece que o PAICV caiu na própria armadilha, vertida na Constituição de 1980, cujo art. 97.º, n.º 2, era taxativo. Um partido que não tivesse 1/3 dos deputados não podia apresentar qualquer projecto de revisão constitucional. E o PAICV, por vontade popular, não preenchia este requisito. Tinha apenas 23 deputados, num total de 79. É só fazer as contas. A verdade é que a malta não queria, do ponto de vista material, dos valores, uma ruptura com o legado da “democracia nacional revolucionária”. Esta é a única razão que motivou a recusa do novo texto constitucional.
Aristides, ao contrário da fanfarra de Júlio Correia, Filú e companhia, nunca assumiu um compromisso sério com a Constituição, sem a qual não há nenhuma “magistratura de influência”. Sempre que pôde, ajudou o PAICV, o seu partido de sempre, a violá-la, entre sorrisos e afagos que só enganam desatentos e inocentes úteis. É o porta-estandarte da ala mais radical do PAICV, que está, em peso, a tratar da sua propaganda e imagem, a ver se consegue, ante o descuido geral, vender um produto que não existe.
Manuel Inocêncio, o “nice”!, é o desastre assumido. Não sabe qual é a função de um Presidente numa democracia constitucional e promete, com todas as letras, uma “vitória”…ao PAICV!!! A Presidência seria, então, a continuação das negociatas por outros meios.
Acredita na ignorância e julga que os cabo-verdianos também acreditam.
O “slogan” de campanha não podia ser mais ridículo: “MI ê Cabo Verde”, versão kitsch do velho e prepotente “O Estado, sou eu”! É a aparição do evangelista do betão, do homem “providencial”, embora imprevidente, como já vimos. Sem comentários.
Vendo que o despreparo do seu candidato atinge tais culminâncias, José Maria Neves resolveu, o quanto antes, entrar em liça, ameaçando uns, substituindo outros, jogando, enfim, com o poder dos tachos e das prebendas. É a política da chantagem e o apelo subliminar ao voto cabresto. Ao rubro…
No último comício, o dr. José Neves foi, porém, longe de mais. A coisa foi de uma gravidade sem limites. Acusou a tropa fandanga de “intriguista” (lá saberá porquê…) e afirmou que Amílcar Cabral foi morto pelos camaradas do partido. Registe-se: o PAIGC-CV é, assumidamente, um partido de cúmplices e criminosos.
Ouçamo-lo em discurso directo: “Amílcar Cabral foi assassinado por dirigentes do PAIGC, por causa das intrigas, da sede de poder e da falta de respeito pelos valores. Dia 7 pensem no sangue derramado por Amílcar Cabral, morto por causa da intriga. Por pessoas que não foram leais com os seus camaradas." (in http://www.expressodasilhas.sapo.cv/pt/noticias/detail/id/26118).
É claro que, no actual contexto político, a acusação é claramente dirigida à ala do Pedro Pires (que opera na sombra, minando a autoridade, já frágil, do primeiro-ministro…) e Aristides Lima.
Haverá algum jornalista cabo-verdiano, digno deste nome, para pedir explicações ao dr. José Maria Neves, investigando o assunto mais a fundo? Sei que é pedir demais, numa atmosfera de subserviência e bajulação. Ou não será?!
É neste ambiente de lama e acusações graves, na guerra louca das gentes do PAICV, que Jorge Carlos Fonseca trabalha.
Tranquilamente, ganha a confiança e a estima dos cabo-verdianos. O seu trunfo? A competência, a verticalidade, a indiscutível independência de espírito e pensamento.
Não há mancha que se lhe possa apontar, sendo, aliás, detentor de um carácter honesto, aprumado, incapaz de corromper ou ser corrompido. Fonseca é um gentleman.
Com ele, teremos uma voz séria e autorizada na Presidência da República, um fino intérprete das regras constitucionais e do seu elevado simbolismo.
Ao contrário dos outros, ele não postula uma estabilidade fácil, culturalmente atrasada, do baixar a cerviz, do “sim, senhor” permanente ao Governo.
A verdadeira estabilidade, que interessa ao país, é outra. É a estabilidade do Estado de Direito, da legalidade, da protecção rigorosa dos direitos fundamentais, da justiça justa (J. Guasp) e do bom funcionamento das instituições políticas. É isso que ele defende, e nada mais. A estabilidade dos “checks and balances”, como nos Federalist Papers de Alexander Hamilton et al..
Esta é, aliás, a única forma de evitar, introduzindo algum equilíbrio no sistema, a contínua degradação das instituições. A única forma de evitar que os “intriguistas” e os megalómanos (“MI ê Cabo Verde) transformem isto num jogo de soma nula, em que eles, por artes e trapaças mil, vencem a batalha eleitoral enquanto o país, sob uma rede de falácias, perde a guerra do desenvolvimento, com dívidas, desemprego galopante, corrupção e elefantes brancos…
Ainda vamos a tempo de suspender a opaca “linha de montagem”!
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