Mercados mostraram ontem não acreditar numa solução para a crise
A crise da dívida soberana não dá sinais de abrandamento e, pior do que isso, está a ir além do seu raio de acção convencional - a periferia europeia.
Depois dos resgates à Grécia, Portugal e Irlanda e do crescente receio de que a Itália e a Espanha sigam o mesmo caminho, o efeito de contágio também voltou a perturbar a França e a Bélgica e está mesmo a ameaçar economias até agora intocáveis, como a Áustria e a Holanda.
Numa altura em que a zona euro se abeira da recessão (ver texto em baixo), os mercados mostram-se cada vez mais desconfiados da capacidade de os líderes europeus responderem de forma concertada à crise da dívida. A ampliação do fundo de resgate do euro - o Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF), que foi acordada na cimeira europeia do mês passado, deveria ser a grande arma para proteger a Itália e a Espanha dos ataques dos mercados e travar a crise da dívida. Mas, em mais um caso de "déjà vu" nesta crise, o acordo para salvar a zona euro está a ser ultrapassado pelos acontecimentos.
Na Itália e na Espanha, as taxas de juro da dívida estão em níveis recorde no mercado secundário. Na terceira maior economia europeia, nem mesmo a saída de Silvio Berlusconi e a formação de um Governo tecnocrata liderado por Mario Monti (ver págs. 18/19) parecem ter aliviado o preço que os investidores pedem para comprar dívida italiana. Na dívida a dez anos, as taxas de juro voltaram ontem a passar a barreira dos 7%, um nível considerado insustentável. A Espanha também já anda perto deste patamar: ontem, os juros nos mercados bateram novo recorde (6,3%) e, numa emissão de dívida a 12 e 18 meses, o país vizinho teve de pagar a maior taxa desde 1997. O spread (diferença) entre as taxas de juro das obrigações espanholas a dez anos e das alemãs (que são consideradas a referência para os investidores) voltou a atingir um novo recorde histórico desde a criação do euro.
Além da periferia
Mas as inquietações já não se dirigem apenas ao chamado grupo dos PIIGS (Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha). A segunda maior economia europeia, a França, viu ontem disparar os preços dos credit default swaps (seguros contra o risco de incumprimento) e o spread da sua dívida face à alemã atingiu o valor mais alto desde a criação da zona euro. Um sinal de que os investidores mostram pouca confiança numa economia praticamente estagnada, com uma elevada exposição à dívida italiana (os bancos franceses são os maiores detentores de títulos italianos) e com uma dívida pública que atingirá os 91,7% em 2013, em parte devido às contribuições da França para os resgates grego, irlandês e português.
Um estudo divulgado ontem pela organização Lisbon Council, chamado Euro Plus Monitor, dizia que a situação da França deveria estar a fazer soar os alarmes na zona euro, devido à incapacidade do país de fazer ajustamentos rápidos à sua economia - algo que, defende este think-tank, não está de acordo com o actual rating máximo da França.
Mas não é só a segunda maior economia europeia que está debaixo de olho nos mercados. As taxas de juro da dívida da Bélgica, que, no início da crise soberana, tinha sido dada como uma das potenciais vítimas, voltaram agora a divergir das obrigações alemães e essa diferença está a um nível recorde desde a entrada no euro.
O mesmo aconteceu com a Holanda e a Áustria que, até agora, tinham conseguido manter-se dentro do grupo privilegiado da Alemanha. O Governo austríaco apressou-se a reagir e anunciou ontem que vai acelerar os cortes na despesa e introduzir um travão à dívida na Constituição, à semelhança do que existe na maior economia europeia. Reflectindo o agravamento da crise da dívida, os mercados accionistas acentuaram ontem as quedas e o euro perdeu força face ao dólar e ao iene.
Com os investidores a mostrarem-se cada vez menos desconfiados da dívida soberana da zona euro, o próprio plano europeu para reforço do FEEF vê-se em apuros. A subida dos juros torna não só mais caro o plano de garantir uma parte da dívida emitida por um Estado do euro, mas também dificulta o objectivo de atrair contribuições de outros países fora da Europa. Além disso, mesmo com a alavancagem do FEEF para 1 milhão de milhões de euros, a capacidade do fundo parece ser insuficiente para resolver uma crise que está a ir muito mais além dos países periféricos.
Numa altura em que a zona euro se abeira da recessão (ver texto em baixo), os mercados mostram-se cada vez mais desconfiados da capacidade de os líderes europeus responderem de forma concertada à crise da dívida. A ampliação do fundo de resgate do euro - o Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF), que foi acordada na cimeira europeia do mês passado, deveria ser a grande arma para proteger a Itália e a Espanha dos ataques dos mercados e travar a crise da dívida. Mas, em mais um caso de "déjà vu" nesta crise, o acordo para salvar a zona euro está a ser ultrapassado pelos acontecimentos.
Na Itália e na Espanha, as taxas de juro da dívida estão em níveis recorde no mercado secundário. Na terceira maior economia europeia, nem mesmo a saída de Silvio Berlusconi e a formação de um Governo tecnocrata liderado por Mario Monti (ver págs. 18/19) parecem ter aliviado o preço que os investidores pedem para comprar dívida italiana. Na dívida a dez anos, as taxas de juro voltaram ontem a passar a barreira dos 7%, um nível considerado insustentável. A Espanha também já anda perto deste patamar: ontem, os juros nos mercados bateram novo recorde (6,3%) e, numa emissão de dívida a 12 e 18 meses, o país vizinho teve de pagar a maior taxa desde 1997. O spread (diferença) entre as taxas de juro das obrigações espanholas a dez anos e das alemãs (que são consideradas a referência para os investidores) voltou a atingir um novo recorde histórico desde a criação do euro.
Além da periferia
Mas as inquietações já não se dirigem apenas ao chamado grupo dos PIIGS (Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha). A segunda maior economia europeia, a França, viu ontem disparar os preços dos credit default swaps (seguros contra o risco de incumprimento) e o spread da sua dívida face à alemã atingiu o valor mais alto desde a criação da zona euro. Um sinal de que os investidores mostram pouca confiança numa economia praticamente estagnada, com uma elevada exposição à dívida italiana (os bancos franceses são os maiores detentores de títulos italianos) e com uma dívida pública que atingirá os 91,7% em 2013, em parte devido às contribuições da França para os resgates grego, irlandês e português.
Um estudo divulgado ontem pela organização Lisbon Council, chamado Euro Plus Monitor, dizia que a situação da França deveria estar a fazer soar os alarmes na zona euro, devido à incapacidade do país de fazer ajustamentos rápidos à sua economia - algo que, defende este think-tank, não está de acordo com o actual rating máximo da França.
Mas não é só a segunda maior economia europeia que está debaixo de olho nos mercados. As taxas de juro da dívida da Bélgica, que, no início da crise soberana, tinha sido dada como uma das potenciais vítimas, voltaram agora a divergir das obrigações alemães e essa diferença está a um nível recorde desde a entrada no euro.
O mesmo aconteceu com a Holanda e a Áustria que, até agora, tinham conseguido manter-se dentro do grupo privilegiado da Alemanha. O Governo austríaco apressou-se a reagir e anunciou ontem que vai acelerar os cortes na despesa e introduzir um travão à dívida na Constituição, à semelhança do que existe na maior economia europeia. Reflectindo o agravamento da crise da dívida, os mercados accionistas acentuaram ontem as quedas e o euro perdeu força face ao dólar e ao iene.
Com os investidores a mostrarem-se cada vez menos desconfiados da dívida soberana da zona euro, o próprio plano europeu para reforço do FEEF vê-se em apuros. A subida dos juros torna não só mais caro o plano de garantir uma parte da dívida emitida por um Estado do euro, mas também dificulta o objectivo de atrair contribuições de outros países fora da Europa. Além disso, mesmo com a alavancagem do FEEF para 1 milhão de milhões de euros, a capacidade do fundo parece ser insuficiente para resolver uma crise que está a ir muito mais além dos países periféricos.
Sem comentários:
Enviar um comentário