quinta-feira, 23 de junho de 2011

Candidato defende um modelo idêntico ao americano, mas os socialistas encaram com reservas a proposta do ex-líder parlamentar do PS

 
 
O candidato à liderança do PS, Francisco Assis, defende a realização de eleições primárias dentro do partido, mas a ideia está longe de ser consensual entre os socialistas. Assis, que divulgou ontem a sua moção "A Forças das Ideias", defende um modelo idêntico ao americano, em que o líder do partido, os candidatos a deputados e os autarcas passariam a ser escolhidos em eleições abertas à sociedade.

"Queremos que este aprofundamento democrático se faça com a introdução de eleições primárias, em que participem militantes, simpatizantes e eleitores, para o efeito registados. Iniciaremos este processo com a escolha dos presidentes de câmaras municipais nas já próximas eleições autárquicas", diz o documento.

Assis, que ontem entregou a moção na sede nacional do PS, defendeu que o processo de escolha através de eleições primárias, com "a participação de cidadãos não-militantes do PS que queiram registar-se e participar", funcionaria como "um primeiro grande teste à capacidade de aplicação do modelo na vida política portuguesa".

"Isso significa uma grande abertura à sociedade, significa um passo em concreto, não é apenas uma proclamação retórica, é um passo em concreto no sentido de abrir os partidos à sociedade."

A proposta foi recebida com algumas reservas pelos socialistas. O líder do PS-Setúbal, Vítor Ramalho, não simpatiza com a ideia. "Antes de o PS alterar profundamente os estatutos para evitar os sindicatos de voto, que de facto existem, não pode nem deve fazer qualquer modificação nesse sentido, porque é uma concepção populista que repudio", diz o dirigente.

O ex-porta-voz do partido, Vitalino Canas, diz que gostaria de conhecer melhor a proposta, mas releva que encara com "reserva" a intenção de Assis. "Não há na Europa nenhum exemplo de um país em que se realizem eleições primárias", diz Canas.

A realização de eleições primárias no PS tem sido defendida internamente pela corrente de opinião esquerda socialista, mas o grupo que está com António José Seguro nas eleições internas contesta o modelo apresentado por Francisco Assis. "O modelo americano na Europa dificilmente funcionaria", diz o coordenador da única tendência socialista. Outro apoiante de Seguro, Miguel Freitas, defende que "nesta altura pode não ser a melhor solução" fazer eleições primárias.

Na moção, o ex-líder parlamentar do PS admite que faltou "mais debate" no partido nos tempos em que era liderado por José Sócrates e faltou "outra capacidade de ouvir os militantes". Assis admite mesmo que a derrota nas últimas eleições legislativas "não se explica apenas por factores internacionais" e tem também "causas políticas". "O PS nem sempre soube fazer a pedagogia da crise."

Outra das ideias defendidas por Francisco Assis, na moção que entregou ontem mas que só vai apresentar publicamente na próxima semana, é a "suspensão da comparticipação nacional na aplicação de fundos europeus durante o período de resgate".

Laboratório de ideias Também o candidato à liderança António José Seguro entregou ontem a sua moção, mas apenas avançou as linhas gerais à comunicação social. O candidato, que entregou o documento na sede do partido, tenciona criar um laboratório de ideias e adoptar um programa de modernização e reorganização do partido até ao primeiro trimestre de 2012.

A moção dá especial atenção às questões internas do partido e Seguro propõe uma modernização e reorganização do PS. "Queremos mudar os métodos com o envolvimento dos militantes", diz o documento.

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