domingo, 5 de junho de 2011

Lúcio Antunes: “Podemos enfrentar qualquer equipa de igual para igual”

A selecção nacional de futebol defronta a Libéria este domingo, 5, (15 horas de Cabo Verde) em jogo da quarta jornada do Grupo 1, com vista a um inédito apuramento para a CAN 2012. Daí o seleccionador nacional, Lúcio Antunes, considerar o jogo como o mais importante nesta fase. Por uma razão muito simples: Cabo Verde tem que se manter no primeiro lugar do grupo. Numa entrevista exclusiva concedida ao LANCE horas antes de rumar a Monróvia (capital da Libéria), Lúcio mostra-se confiante na vitória, e bom desempenho dos seus pupilos que querem dar mais uma alegria aos cabo-verdianos.

Lúcio Antunes: “Podemos enfrentar qualquer equipa de igual para igual” 
 
Antes do jogo na Várzea, o Lúcio disse que a estratégia para vencer seria a união do grupo. Agora, na Libéria, qual será a fórmula para Cabo Verde continuar na linha da frente na CAN 2012?
Cabo Verde deve voltar a aproveitar o que tem como mais mais-valia: ser inteligente, unido e ambicioso. Só assim vamos conseguir os três pontos. A união do grupo já é um ponto assente, apesar de termos vários jogadores jovens. Mas também há aqueles que se conhecem de várias andanças, o que lhes permite entender a forma de estar e de jogar de uns e outros.
Este é o jogo decisivo nesta fase de qualificação?
Sim. Não só por ser o próximo, mas também porque queremos terminar a quarta jornada na primeira posição. No sprint final, quem estiver mais perto da meta terá mais possibilidades de chegar ao primeiro lugar.
Como é que está a gerir o entusiasmo dos jogadores?
Estão confiantes, apesar de conscientes de que não somos favoritos no grupo. Mas vamos à Liberia dispostos a enfrentar qualquer equipa de igual para igual. Aliás, nós abordamos todos os jogos da mesma forma, com optimismo porque só assim podemos conquistar os três pontos. Ainda não ganhámos nada, e só podemos dar valor ao que já fazemos, se continuarmos a dar uma boa resposta em campo.
Uma das vantagens foi ter aproveitado a base deixada pelo João de Deus?
Naturalmente que sim. O grupo criado por ele tinha muita qualidade e achámos por bem aproveitar essa mais-valia. Mas melhorámos algumas coisas. É assim que as equipas funcionam, juntando o trabalho de outros jogadores e de outras equipas técnicas. A selecção de Cabo Verde não começou nem vai terminar com o Lúcio Antunes. Temos de louvar o trabalho de João de Deus, Alexandre Alhinho, Eduíno, Lima, Toca, Armandinho, entre outros bons treinadores que passaram pela selecção de todos nós.
Tem falado com o João de Deus?
Não falo com ele há muito tempo, mas tenho falado com o Armandinho, Eduíno, Óscar Duarte, entre outros ex-treinadores da selecção. Dizem sempre que a equipa tem valor e que temos que continuar a trabalhar com seriedade porque só assim podemos conseguir os nossos objectivos.
Na sua primeira convocatória para a selecção, o Valdo não respondeu à chamada. Conta com ele nas convocatórias seguintes?
Não. Nem ele nem outros que, anteriormente, mostraram indisponibilidade. Queremos contar com este grupo, que já fez muitas coisas bonitas.
Outro jogador que recusou entrar para a selecção foi o Ricardo. Depois disso, falou com ele?
Por acaso não. A última vez que falámos foi logo após a sua renúncia. Mas elementos da FCF têm falado com ele. Está muito satisfeito com o nosso percurso, envia-nos mensagens a desejar boa sorte. Respeitamos e compreendemos a sua decisão, já que foi tomada com a sua família e depois de pensar muito. O Ricardo sempre deu o seu máximo, mas acho que não há possibilidades de ele voltar a jogar na selecção.
Para o jogo com a Libéria, há sete jogadores com 30 ou mais anos de idade e há muito tempo que a selecção de sub-21 não compete. Isso preocupa-o, tendo em conta a necessária renovação do combinado principal?
Naturalmente, pois são os jogadores dos sub-21 que alimentam a selecção principal. Ainda assim, a equipa está numa fase de renovação. Temos vários jogadores que vieram das camadas jovens e que estão com menos de 25 anos.   E vai observando os jogadores que evoluem no campeonato nacional?
Nas duas primeiras jornadas vi três jogos e vi jogadores com muita qualidade, que temos seguido atentamente. Não vale a pena avançar nomes agora, para não lhes criar expectativa. Certo é que há muita qualidade nos jogadores que actuam em Cabo Verde. Mas para se chegar à selecção é preciso um percurso. Temos elementos da equipa técnica a observar em São Vicente, na Praia, além de colaboradores em todo o país que nos dão informações dos jogadores referenciados.
Uma das apostas do Lúcio tem sido a formação de treinadores…
No projecto da selecção, de 2008 a 2014, há um item sobre a formação para técnicos, a que damos muita importância. Já formamos treinadores em São Nicolau, Maio, Santo Antão, a próxima ilha será o Fogo. Também o staff técnico da selecção já esteve no Egipto e Marrocos para cursos e estágios, que os muniram de ferramentas indispensáveis para quem pretende forjar atletas de alta competição e formar homens. Mais: criamos agora um departamento de observação dos adversários, que começou a funcionar no jogo Mali - Zimbabué. Também fazemos observação dos nossos próprios treinos para posteriormente podermos corrigir algumas lacunas.
O que é que o presidente da Federação Cabo-verdiana de Futebol, Mário Semedo, tem dito aos jogadores e a si?
Confiança total! O presidente, como primeiro mentor, sempre acreditou neste projecto e encontrou muita ambição em todos nós. Mas temos de trabalhar com dedicação, humildade e sempre com os pés bem assentes na terra porque ainda não ganhámos nada.
O facto de poder contar com um salário fixo dá-lhe mais responsabilidades? Melhora o seu desempenho na selecção?
A minha qualidade e a dos outros elementos da equipa técnica não pode ser medida em função de estar a receber ou não. A qualidade tem de vir da formação e do estudo diário. É claro que ao nos dedicarmos a 100% ao futebol cabo-verdiano temos mais tempo para estudar e ajeitar a nossa selecção, observar as outras equipas, comunicar e ganhar experiência. Com isso, temos mais vontade de trabalhar e quem sai a ganhar é o futebol de Cabo Verde.
Alguma equipa já lhe ofereceu mais dinheiro que a selecção para trabalhar para ela?
Não. O meu projecto passa pela selecção. A FCF convidou-me para liderar este projecto e estou aqui de corpo e alma. 
Como é que viu o gesto do Rolando, que levantou a bandeira de Cabo Verde depois da vitória do Porto na Liga Europa?
Foi um gesto bonito, porque ele é cabo-verdiano e sente o seu país. Foi uma grande homenagem à sua família e aos seus amigos. Fiquei contente e gostaria de o ver mais vezes no pódio e com a bandeira nacional.
Acha que com essa manifestação de orgulho pelas suas raízes, Rolando pode levar outros jogadores cabo-verdianos que evoluem no estrangeiro a interessar-se mais pelo seu país e pela sua selecção?
Pode ser, mas queremos contar com os jogadores que sintam Cabo Verde, mesmo não mostrando a nossa bandeira.
O que falta ao futebol cabo-verdiano para crescer mais?
Falta sobretudo mais competitividade nos campeonatos, mais formação para os treinadores. Falta um campeonato mais longo e jogadores com mais tempo para trabalhar nos seus clubes, porque há muita potencialidade no futebol cabo-verdiano.
Este ano os treinadores de Santiago Norte criticaram os seus jogadores pelo uso abusivo do álcool, que pesou na qualidade do futebol praticado nessa região desportiva. Como é que o seleccionador nacional vê esta situação?
O álcool é um mal social em Cabo Verde, não é só no futebol. Como seleccionador, é com alguma apreensão que vejo essas situações no futebol nacional. Mas ainda bem que este mal ainda não chegou à selecção: a maior parte dos jogadores não usa álcool e aqueles que usam, fazem-no com moderação.
Qual é a mensagem que deixa aos cabo-verdianos que irão torcer por uma vitória na Libéria?
Que confiem nos jogadores, porque fazem tudo para representar Cabo Verde dignamente. Vamos lutar com todas as nossas forças para trazer uma vitória, apesar de sabermos que não vai ser fácil. Mas se depender de nós, ultrapassaremos, com certeza, mais este obstáculo difícil.

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