segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Cristina Fontes fora do governo e atirada para as presidenciais 21 Fevereiro 2011

O nome de Cristina Fontes, atirado ao vento esta semana como mais um candidato do PAICV às eleições presidenciais, criou algum desassossego aos homens em presença que também sabem que Cristina alimenta esse sonho há anos. E o facto de ela recusar até agora todos os postos que lhe foram oferecidos aumenta ainda mais esse “fru-fru”. Sim, Cristina não quer nada. Negou ser deputada, não vai para o governo e já descartou a hipótese de ser candidata do PAICV às autárquicas de 2012.

Cristina Fontes fora do governo e atirada para as presidenciais
As fontes de A Semana dizem que ela quer ser Presidente da República, mas parece que para isso já vai tarde. A não ser que num cenário de empate entre os presidenciáveis, ela apareça como a solução de recurso, a última cartada neste imbróglio que ainda promete muitas surpresas. Por agora, Cristina Fontes parece apoiar Manuel Inocêncio Sousa e participou, junto com Ilídio Cruz, na elaboração dos regulamentos que devem escolher o candidato apoiado pelo PAICV. Diz que é tarde para entrar nesta disputa, mas nada é ainda definitivo até porque o PAICV só decide quem vai apoiar na corrida presidencial no próximo dia 10 de Março, na reunião do Conselho Nacional.
Na entrevista que deu ao A Semana, na última edição, o reeleito primeiro-ministro, José Maria Neves, quando instado a falar do seu próximo governo, sem razão aparente lembrou que Cristina Fontes Lima, está com ele no governo desde 2001. Mais, num tom muito parecido a uma despedida disse que fazia uma avaliação “muito positiva” do desempenho da mesma nos vários ministérios por onde passou. E como a confirmar o “requiem”, esta semana uma fonte avançou a este jornal que a actual ministra da Reforma do Estado não vai integrar o próximo governo de José Maria Neves, para poder cuidar do filho.
Primeiro Cristina não aceita entrar na lista do PAICV por Santiago Sul, onde o seu terceiro lugar estava mais que garantido, logo a seguir ao presidente do partido e a Felisberto Vieira. Na altura disse ao A Semana que não entrou nas listas para “dar espaço a caras novas”, já que durante 20 anos integrou as listas tambarinas na cidade da Praia. Mas também não deixou de salientar que continuará “a lutar pelas causas por que sempre lutou”.
Na verdade, não integrou a lista para as legislativas, mas participou activamente na campanha eleitoral. Perante o empenho na campanha, alguns analistas crêem que a “nega” ao governo não significa que Fontes Lima perdeu motivação para entrar em lutas políticas ou ocupar cargos públicos. Pelo contrário. “Fora do parlamento e do executivo, ela pode preparar o seu caminho para concretizar um sonho antigo: que é o de se candidatar à Presidência da República. Depois de 10 anos de governo onde comandou ministérios importantes, como os da Justiça, Administração Interna, Defesa, Reforma do Estado, adquiriu um capital político e um domínio de matérias vitais do Estado de Direito que lhe permitem aspirar concorrer ao Palácio do Plateau. Além do mais, é uma mulher de causas e nunca vira costas a lutas políticas e sociais”, pontua um interlocutor deste jornal.
 De resto, a ideia de Cristina Fontes candidatar-se à Presidência da República é cada vez mais acarinhada por pessoas de diversas classes sociais e sensibilidades políticas, que vêem na ministra um contrabalanço à ala dos três presidenciáveis tambarinas do sexo masculino: Manuel Inocêncio, Aristides Lima e David Hopffer Almada. E nesta família política nada está decidido quanto à questão presidencial, mesmo porque o regulamento que estabelece as regras para a escolha do candidato que o partido vai apoiar nas presidenciais do próximo Verão deixa tudo em aberto. Serão os membros do Conselho Nacional (CN) a decidir, no dia 10 de Março, quem o partido vai apoiar na corrida ao Palácio do Plateau. Tudo pode acontecer na reunião do CN, pelo que ninguém descarta a hipótese dos conselheiros decidirem apoiar outra pessoa que não seja um dos três nomes que já se posicionaram claramente como pretendentes à cadeira de Presidente da República.  
Há quem acredite mesmo que no CN do PAICV pode acontecer um fenómeno idêntico ao de Dilma Rousseff, que, com amparo de Lula da Silva, se elegeu presidente do Brasil enfrentando “barões” bem refastelados na política daquele país. Cristina Fontes, com o apoio dos conselheiros nacionais e do líder tambarina, poderia transformar-se numa espécie de “Dilma cabo-verdiana”, até porque muita gente vê na possível candidatura da ministra uma forma de equilibrar a questão do género nos órgãos de soberania, quanto mais não seja porque o lobby pela equidade, por altura da composição das listas para as legislativas, não fez o eco desejado.
Constitucionalista – já foi professora de Direito Constitucional na Universidade de Lisboa – boa comunicadora, de verbo fácil, na linha das mulheres modernas empenhadas em defender causas políticas e sociais, Cristina Fontes enquadra-se no perfil que se desenha para o cargo de Presidente da República. Mais, ao longo dos 10 anos no governo e da sua carreira como jurista e consultora em alguns países africanos, adquiriu competências que lhe permitem dominar matérias como relações internacionais, segurança do Estado, administração interna, defesa, justiça e segurança social do país. Competências essenciais para quem aspira ao mais alto cargo da nação, promotor do diálogo a nível interno e interestadual.  
 De maneira formal ou informal, o nome da ainda ministra tem sido atirado ao vento, quanto mais não fosse pelo desejo de fazer história neste nosso continente onde apenas uma mulher conseguiu eleger-se presidente de um país (Ellen Johnson Sirleaf, da Libéria).
 Mas, colocada diante da hipótese de se candidatar ao Palácio do Plateau já nas presidenciais do próximo Verão, Fontes Lima prefere a prudência ao entusiasmo. Por ora, diz que é tarde para forjar uma candidatura, quanto mais não seja porque a sua família política já tem “três bons candidatos”.
 De todo o modo, Fontes Lima confirmou ao A Semana que tem sido abordada por pessoas de diversas classes sociais e sensibilidades políticas, dentro e fora do PAICV, sobre uma possível candidatura à Presidência da República. “Recebo com apreço este tipo de desafio, já que são sinais de reconhecimento de um trabalho que terei feito. Mas essas coisas têm de ser feitas com responsabilidade e, neste momento, na nossa família política há três bons candidatos”, pontua Fontes.
 Mesmo entendendo que este talvez não seja o timing certo para entrar na corrida presidencial, a ideia fica, e não parece desgostar essa dirigente de primeira linha do PAICV. Tanto assim é que não descarta a possibilidade de se candidatar a um cargo electivo nos próximos tempos, porque “as pessoas têm sido generosas” para com ela. Portanto, ainda que não seja em 2011, Cristina Fontes Lima é um nome a ter em conta na hora de escolher os candidatáveis à cadeira do Presidente da República nos próximos ciclos eleitorais.
O certo é que, mesmo que a candidatura à Presidência da República seja de iniciativa individual, na realidade cabo-verdiana poucos encaram um “empreendimento” do tipo sem apoio da “máquina” de um dos maiores partidos políticos: PAICV ou MpD. As experiências mal sucedidas de David Hopffer Almada e Jorge Carlos Fonseca, em 2001, serviram para demonstrar isso mesmo.

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