terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Reunião de urgência do Conselho de Segurança


Ban Ki-moon exige a Khadafi que pare já com a violência

O secretário-geral das Nações Unidas falou ontem ao telefone com o líder líbio, Muammar Khadafi, o qual instou “veementemente a parar com a violência contra os manifestantes” que há nove dias consecutivos contestam o seu regime autoritário de mais de quatro décadas.
Ban Ki-moon Ban Ki-moon (Ruben Sprich/Reuters)
“Tenho visto imagens muito perturbadoras, chocantes, em que as autoridades líbias disparam contra manifestantes a partir de aviões e helicópteros. Isto é inaceitável. Isto tem que parar imediatamente”, exigiu Ban Ki-Moon, em declarações feitas em conferência de imprensa em Los Angeles.

Alinhando no mesmo tom, a alta-comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Navi Pillay, apelou já hoje à condução de uma investigação internacional aos ataques "sistemáticos e generalizados [das autoridades líbias] contra a população civil" , avaliando que os mesmos configuram "crimes contra a humanidade". Pillay ilustrou esta argumentação com os relatos de que os manifestantes anti-regime estão a ser atacados pelas forças de segurança com metralhadoras, atiradores furtivos e aviões militares.

A condenação das acções violentas das forças de segurança líbias na repressão dos protestos em várias cidades do país – que terão causado já mais de 230 mortos só nos últimos cinco dias – foi reiterada ontem à noite também pela secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton.

“É altura para pôr fim a este derramamento de sangue inaceitável”, afirmou, engrossando o coro de vozes no palco internacional que criticam cada vez mais furiosamente a forma de actuar do regime líbio face à presente convulsão popular no país, inspirada pelas revoltas que conduziram à deposição dos regimes na Tunísia e no Egipto e mantêm em ebulição vários outros países do Norte de África e golfo.

Já na véspera, os ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia tinham aprovado uma declaração em que condenavam a “repressão em curso contra manifestantes pacíficos” anti-Governo, ainda “deplorando a violência [usada] e a morte de civis”. “A liberdade de expressão e o direito de manifestação pacífica são direitos fundamentais do ser humano que têm que ser respeitados e protegidos”, sublinharam os chefes da diplomacia dos Vinte e Sete.

Diplomatas nas Nações Unidas revelaram, entretanto, que vai realizar-se hoje mesmo em Nova Iorque (pelas 14h00 em Lisboa) uma reunião de urgência e à porta fechada do Conselho de Segurança, a pedido do vice-embaixador líbio na ONU, Ibrahim Dabbashi. Este diplomata – como outros do regime líbio – tinha na véspera anunciado o seu apoio aos manifestantes anti-Governo, reclamando também a queda de Khadafi.

A Liga Árabe – cujo secretário-geral, Amr Moussa, descreveu já as reivindicações dos manifestantes como "legítimas" e instou também ao fim da repressão por parte das autoridades líbias – vai também hoje reunir-se de urgência, no Cairo, para discutir a revolta popular contra Khadafi. Todos os 22 representantes permanentes do organismo reúnem-se pelas 15h00 de Lisboa.

Deserção de diplomatas e militares líbios
“A deposição de Khadafi é a exigência das pessoas nas ruas”, sublinhou o embaixador líbio na Índia, Ali al-Essawi, o qual se demitiu ontem em “protesto” contra a violenta acção das autoridades contra os manifestantes. O diplomata denunciou já hoje que mercenários africanos foram recrutados pelas autoridades de Trípoli para participarem nas acções repressivas contra os protestos que estão a varrer todo o país.

Entre outras demissões de topo no regime de Khadafi – que se encontra já por um fio – estão a do enviado líbio à Liga Árabe, Abdel Moneim al-Honi, e do ministro líbio da Justiça Mustafa Mohamed Abud al-Jeleil, todos apresentando as mesmas razões para esta dissidência. Demitiram-se também os embaixadores líbios no Reino Unido, na China e na Indonésia.

A estes juntou-se já hoje o embaixador líbio nos Estados Unidos, Ali Aujali. Numa entrevista ao programa "Good Morning America", do canal ABC, o diplomata anunciou que se demitiu, não servindo mais "o actual regime ditatorial" de Trípoli. "Mas jamais me demitirei de servir o nosso povo, até que as suas vozes cheguem ao mundo inteiro, até que os seus objectivos sejam atingidos", sublinhou, instando Khadafi a "partir e deixar o povo em paz".Um grupo de oficiais do exército líbio emitira por seu lado uma declaração em que instam todos os militares do país a “juntarem-se ao povo” nos esforços de deposição do coronel Khadafi, no poder desde o golpe de 1969. Pelo menos dois pilotos da Força Aérea líbia desertaram ainda ontem, tendo levado os seus jactos para Malta, depois de terem recebido ordens para bombardear os manifestantes.

Entretanto, também os diplomatas das Nações Unidas na Líbia pediram ao exército que ajude a combater o “tirano” Muammar Khadafi, declarando expresso apoio aos manifestantes anti-regime. O representante da missão da ONU no país, Ibrahim Dabbashi disse que os diplomatas estão dispostos a continuar a servir o povo líbio, vítimas de um “massacre”, e urgiu todas as embaixadas de todos os países com representação na Líbia a juntarem-se ao coro de vozes que exigem a retirada imediata de Khadafi do poder.

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