Pronto, está resolvido: o Benfica quebrou o enguiço na Alemanha vencendo neste país pela primeira vez. Dois balázios deixaram o Estugarda KO e confirmaram que a equipa de Bruno Labbadia não tinha pedalada para o campeão luso. No primeiro, Salvio aproveitou uma bola perdida e, à entrada da área, desferiu um remate rasteiro; no segundo, já com nota artística, Cardozo apontou um livre directo de forma irrepreensível. Os encarnados seguem para os oitavos-de-final da Liga Europa, onde vão defrontar o Paris Saint-Germain, com o qual Jorge Jesus tem contas a ajustar, pois foi eliminado pelos franceses quando estava no Braga. E, coincidência do destino, tal aconteceu nos oitavos-de-final.
O treinador do Benfica tinha avisado que "há dias em que a história muda", e ontem, frente ao Estugarda, ela mudou mesmo. Jesus venceu o braço-de-ferro com o homólogo alemão porque a sua equipa é muito melhor. Em todos os aspectos do jogo. Aliás, ficara a ideia de que na Luz, na última semana, a eliminatória poderia ter ficado logo resolvida.
Sem Saviola, indisponível à última hora, Jesus chamou Jara ao ataque, e a primeira consequência desta mudança forçada foi uma maior intensidade na pressão sobre os defesas contrários; Jara nem sempre tomou as opções mais felizes, mas ajudou Cardozo, Gaitán e Salvio a empurrar o adversário para a sua zona defensiva. E foi por aí que a defesa alemã começou a falhar. A pressão exercida pelos atacantes do Benfica retirou espaço ao opositor e, como a qualidade técnica também não é abundante por aqueles lados, tudo se tornou mais simples para os homens da Luz. Gaitán deu o primeiro sinal de que desta vez poderia mesmo ser feita história com um remate em jeito: Ziegler, esse mesmo, ao qual o treinador deu a titularidade porque estava farto de ouvir críticas, fez uma defesa estrondosa aos 7'. Coentrão voltou a obrigar o guardião contrário a um esforço suplementar pouco tempo depois, mas foi Salvio a colocar praticamente um ponto final na eliminatória aos 30', num remate rasteiro de fora da área.
Percebeu-se a partir desse momento que o triunfo estava nas mãos dos encarnados. Mas para a festa ser completa, faltava um pequeno toque de magia, e ele chegou por intermédio do pé esquerdo de Cardozo na marcação de um livre directo. O Tacuara satisfez a vontade dos muitos emigrantes presentes no Mercedes-Benz Arena e respondeu ao apelo do coração, bailando como uma galinha na hora da celebração.
O Estugarda não apresentava qualidade para invadir com perigo o sector mais recuado das águias. Pelo contrário, Gaitán continuava a dar um verdadeiro recital à esquerda, com os acompanhantes do costume. Só Airton destoava um pouco, sobretudo na fase de construção do jogo ofensivo. O jovem brasileiro foi importante na recuperação, utilizando muito músculo, mas perdia-se depois, quando surgia como primeiro organizador. Esse papel ficou por inteiro para Aimar, que, reagindo às insuficiências do colega, recuou sempre muito no terreno para pegar, e bem, no jogo. O Benfica jogou, impôs a velocidade e amarrou o adversário como quis.
O Estugarda limitava-se a ver o carrocel da águia em acção permanente. As suas principais unidades (Okazaki, Hajnal e Harnik) estavam presas ao meio-campo, porque a pressão era intensa e não havia espaço para nada. E ficou sempre a sensação de que, se apertasse mais um bocadinho, o Benfica poderia ter tido uma nota artística bem mais elevada. As oportunidades sucederam-se, os lances de bom futebol também. Os encarnados marcavam um novo ciclo no seu percurso em solo germânico vencendo um adversário que, curiosamente, até foi mais consistente no Estádio da Luz do que ontem, diante dos seus adeptos. O Estugarda ficou pelo caminho e demonstrou que não tem andamento para esta competição.
Ficha de jogo
Estugarda 0 | Benfica 2Mercedes-Benz Arena
Assistência: Cerca de 40 000 espetadores
Árbitro: Mike Dean (Inglaterra)
Estugarda: Marc Ziegler (Sven Ulreich, 52), Khalid Boulahrouz (Timo Gebhart, 61), Georg Niedermeier, Matthieu Delpierre, Cristian Molinaro, Christian Träsch, Zdravko Kuzmanovic, Martin Harnik, Tamás Hajnal (Élson, 79), Shinji Okazaki e Sven Schipplock
(Suplentes: Sven Ulreich, Stefano Celozzi, Ermin Bicakcic, Timo Gebhart, Patrick Funk, Élson e Daniel Divadi).
Benfica: Roberto, Maxi Pereira, Luisão, Sidnei, Fábio Coentrão, Airton, Salvio, Aimar (Carlos Martins, 73), Gaitan, Jara (Alan Kardec, 90+2) e Cardozo (Felipe Menezes, 89)
(Suplentes: Júlio César, Luís Filipe, Roderick, Felipe Menezes, Carlos Martins, Nuno Gomes e Alan Kardec)
Ao intervalo: 0-1
Golos: 0-1, Salvio, 30 minutos; 0-2, Cardozo, 78
Amarelos para Sidnei (44), Matthieu Delpierre (46), Shinji Okazaki (76), Timo Gebhart (80), Carlos Martins (80) e Élson (90+2)
Vermelho directo para Zdrzvko Kuzmanovic (90+7)
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