Quando participou no golpe de Estado contra a monarquia líbia, a 1 de Setembro de 1969, Muammar Khadafi tinha apenas 27 anos. Não admira que tenha sentido necessidade de se rodear de familiares em quem confiava. Ainda hoje, o seu clã domina vários aspectos da vida no país.
Saif el-Islam ganhou prestígio com o dossier Lockerbie.
"Não há ninguém cuja cara é conhecida da televisão que não seja próximo de Khadafi", disse ao Guardian um antigo responsável líbio.
Mas nem por isso a família do coronel é unida. Aos 68 anos, Khadafi não se poderá gabar de ter criado de forma irrepreensível os seus oito filhos. Os telegramas enviados para Washington em 2009 pelo embaixador americano em Trípoli, conhecidos através do WikiLeaks, falavam num clã familiar "com fama de dividido", poderoso, rico, disfuncional e com lutas internas.
Num país fragmentado por lealdades tribais, o coronel encontrou no nepotismo a resposta para o controlo económico e político, colocando os seus familiares em postos-chave.
Chegou mesmo, em Outubro de 2009, a nomear o seu segundo filho, Saif el-Islam, para lhe suceder na chefia do Estado - aquele que no domingo se dirigiu aos líbios amedrontando-os com uma "guerra civil" e "anarquia", e que, por isso, poderá ter acabado com a hipótese de vir a comandá-los, segundo alguns analistas.
Saif el-Islam (Espada do Islão), de 38 anos, doutorado pela London School of Economics, era até há pouco tempo visto como a face reformadora do regime. Foi uma voz bastante crítica do seu pai, e em 2006 deixou a Líbia, para depois regressar e tornar-se no mais provável herdeiro. A liderança da Fundação Internacional Khadafi para o Desenvolvimento e Caridade, envolvida nas negociações para a libertação de reféns sequestrados por islamistas nas Filipinas, trouxe-lhe prestígio. Tomou conta do dossier Lockerbie e encorajou o desmantelamento do programa nuclear líbio, amenizando a imagem do regime no exterior.
O seu futuro parecia traçado. Mas muita coisa mudou desde domingo. Enquanto a população desafiava as forças de segurança com manifestações na rua - tinham morrido até então mais de 230 pessoas - Saif el-Islam alertou para uma luta "até ao último homem e até à última mulher. Não deixaremos a Líbia para italianos e turcos".
O jornal argelino El Watan considera que Saif el-Islam "mostrou a face de um homem tão impiedoso e conservador como os seus irmãos Mutassim e Hannibal".
Os outros herdeiros
Mutassim, que o El Watan diz invejar a ascensão rápida do irmão, uma vez que antes era ele o provável herdeiro, é coronel do Exército. Fugiu para o Egipto depois de ter arquitectado um golpe contra o seu pai, mas foi depois perdoado e autorizado a regressar, recorda a BBC. É agora seu assessor para a Segurança Nacional - o que lhe permite ter um controlo sobre "tudo o que mexe na Líbia, incluindo as actividades dos seus irmãos e irmãs", segundo o jornal argelino - e lidera a sua própria unidade militar.
O cargo também lhe permitiu negociar contratos de armas com russos e enriquecer pelo caminho. Afastou também generais que acompanharam o pai no golpe de 1969.
Al-Saadi, de 37 anos, nunca quis enveredar pela política, e depois de uma incursão pelo futebol em Itália, como jogador, lidera a Federação Líbia de Futebol. Dedicou-se também ao cinema, criando uma produtora. É casado com a filha de um comandante militar.
Muhammad, o filho mais velho e fruto do primeiro casamento de Khadafi (que durou apenas seis meses), lidera o Comité Olímpico da Líbia. É ainda presidente dos serviços postais e da empresa de telecomunicações.
Hannibal, de 34 anos, costumava trabalhar para a empresa nacional de transportes marítimos, especializada em exportações de petróleo. Ganhou (má) fama por vários episódios de violência. Foi acusado em 2005 de espancar a sua mulher grávida, durante uma estadia em Paris. Em 2008, foi preso depois de ter agredido dois empregados de um hotel em Genebra. Pagou 300 mil euros de fiança e quando regressou à Líbia empenhou-se em criar uma crise diplomática - o Governo de Trípoli chegou a expulsar empresas e boicotar os produtos suíços, e o país foi descrito por Hannibal como "um mundo mafioso" que deveria ser desmembrado.
O diário El País refere que a raiz anti-imperialista do "guia da revolução" está na sua única filha, Aisha (Hanna, adoptada tal como Milad, morreu no ataque americano a Trípoli em 1986 com quatro anos). A advogada de 30 anos juntou-se à equipa de defesa de Saddam Hussein, em Julho de 2004. É casada com um primo do pai.A família está ainda noutros cantos. O cunhado, Abdallah al-Sanussi, "número dois" da Jamahiriya Security Organisation (JSO), agência de espionagem líbia, treinou e armou terroristas da Irlanda à Indonésia. Em 1991, Sanussi foi acusado de ajudar a orquestrar o atentado contra o voo 722 da transportadora francesa UTA, em Setembro de 1989, de que resultou a morte dos 156 passageiros e 14 tripulantes.
Nenhum dos filhos de Khadafi tem a garantia de que seguirá as pisadas do pai, porque, como explicou ao Guardian George Joffé, especialista em Norte de África na Universidade de Cambridge, "Khadafi destruiu qualquer esperança de herdarem o poder, colocando-os uns contra os outros".
Mas nem por isso a família do coronel é unida. Aos 68 anos, Khadafi não se poderá gabar de ter criado de forma irrepreensível os seus oito filhos. Os telegramas enviados para Washington em 2009 pelo embaixador americano em Trípoli, conhecidos através do WikiLeaks, falavam num clã familiar "com fama de dividido", poderoso, rico, disfuncional e com lutas internas.
Num país fragmentado por lealdades tribais, o coronel encontrou no nepotismo a resposta para o controlo económico e político, colocando os seus familiares em postos-chave.
Chegou mesmo, em Outubro de 2009, a nomear o seu segundo filho, Saif el-Islam, para lhe suceder na chefia do Estado - aquele que no domingo se dirigiu aos líbios amedrontando-os com uma "guerra civil" e "anarquia", e que, por isso, poderá ter acabado com a hipótese de vir a comandá-los, segundo alguns analistas.
Saif el-Islam (Espada do Islão), de 38 anos, doutorado pela London School of Economics, era até há pouco tempo visto como a face reformadora do regime. Foi uma voz bastante crítica do seu pai, e em 2006 deixou a Líbia, para depois regressar e tornar-se no mais provável herdeiro. A liderança da Fundação Internacional Khadafi para o Desenvolvimento e Caridade, envolvida nas negociações para a libertação de reféns sequestrados por islamistas nas Filipinas, trouxe-lhe prestígio. Tomou conta do dossier Lockerbie e encorajou o desmantelamento do programa nuclear líbio, amenizando a imagem do regime no exterior.
O seu futuro parecia traçado. Mas muita coisa mudou desde domingo. Enquanto a população desafiava as forças de segurança com manifestações na rua - tinham morrido até então mais de 230 pessoas - Saif el-Islam alertou para uma luta "até ao último homem e até à última mulher. Não deixaremos a Líbia para italianos e turcos".
O jornal argelino El Watan considera que Saif el-Islam "mostrou a face de um homem tão impiedoso e conservador como os seus irmãos Mutassim e Hannibal".
Os outros herdeiros
Mutassim, que o El Watan diz invejar a ascensão rápida do irmão, uma vez que antes era ele o provável herdeiro, é coronel do Exército. Fugiu para o Egipto depois de ter arquitectado um golpe contra o seu pai, mas foi depois perdoado e autorizado a regressar, recorda a BBC. É agora seu assessor para a Segurança Nacional - o que lhe permite ter um controlo sobre "tudo o que mexe na Líbia, incluindo as actividades dos seus irmãos e irmãs", segundo o jornal argelino - e lidera a sua própria unidade militar.
O cargo também lhe permitiu negociar contratos de armas com russos e enriquecer pelo caminho. Afastou também generais que acompanharam o pai no golpe de 1969.
Al-Saadi, de 37 anos, nunca quis enveredar pela política, e depois de uma incursão pelo futebol em Itália, como jogador, lidera a Federação Líbia de Futebol. Dedicou-se também ao cinema, criando uma produtora. É casado com a filha de um comandante militar.
Muhammad, o filho mais velho e fruto do primeiro casamento de Khadafi (que durou apenas seis meses), lidera o Comité Olímpico da Líbia. É ainda presidente dos serviços postais e da empresa de telecomunicações.
Hannibal, de 34 anos, costumava trabalhar para a empresa nacional de transportes marítimos, especializada em exportações de petróleo. Ganhou (má) fama por vários episódios de violência. Foi acusado em 2005 de espancar a sua mulher grávida, durante uma estadia em Paris. Em 2008, foi preso depois de ter agredido dois empregados de um hotel em Genebra. Pagou 300 mil euros de fiança e quando regressou à Líbia empenhou-se em criar uma crise diplomática - o Governo de Trípoli chegou a expulsar empresas e boicotar os produtos suíços, e o país foi descrito por Hannibal como "um mundo mafioso" que deveria ser desmembrado.
O diário El País refere que a raiz anti-imperialista do "guia da revolução" está na sua única filha, Aisha (Hanna, adoptada tal como Milad, morreu no ataque americano a Trípoli em 1986 com quatro anos). A advogada de 30 anos juntou-se à equipa de defesa de Saddam Hussein, em Julho de 2004. É casada com um primo do pai.A família está ainda noutros cantos. O cunhado, Abdallah al-Sanussi, "número dois" da Jamahiriya Security Organisation (JSO), agência de espionagem líbia, treinou e armou terroristas da Irlanda à Indonésia. Em 1991, Sanussi foi acusado de ajudar a orquestrar o atentado contra o voo 722 da transportadora francesa UTA, em Setembro de 1989, de que resultou a morte dos 156 passageiros e 14 tripulantes.
Nenhum dos filhos de Khadafi tem a garantia de que seguirá as pisadas do pai, porque, como explicou ao Guardian George Joffé, especialista em Norte de África na Universidade de Cambridge, "Khadafi destruiu qualquer esperança de herdarem o poder, colocando-os uns contra os outros".
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