terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

História da Líbia

 
Templo de Apolo em Cirene. No século I antes da era cristã, os romanos ocuparam parte do território que depois pertenceria à Líbia.
 
Antigo assentamento de povos tão díspares quanto os fenícios, os romanos e os turcos, a Líbia recebeu seu nome dos colonos gregos, no século II antes da era cristã.
Durante grande parte de sua história, a Líbia foi povoada por árabes e nómadas berberes, e sómente na costa e nos oásis estabeleceram-se colónias. No século XIII a.C., os habitantes da região, participaram nas invasões dos povos do mar no Egipto. Fenícios e gregos chegaram ao país no século VII a.C. e estabeleceram colónias e cidades. Os fenícios fixaram-se na Tripolitânia e os gregos, na Cirenaica, onde fundaram as cinco colónias da Pentápole. Os cartagineses, herdeiros das colónias fenícias, fundaram na Tripolitânia uma província, e no século I a.C. o Império Romano impôs-se em toda a região, deixando monumentos admiráveis (Leptis Magna).
A Líbia permaneceu como província romana até ser conquistada pelos vândalos em 455 d.C. Após ser reconquistada pelo Império bizantino, continuador do romano, a região passou a ser dominada pelos árabes em 643. Os árabes estenderam a área cultivada em direcção ao interior do deserto.
Durante pouco mais de três séculos, os berberes almôadas mantiveram o domínio sobre a região tripolitana, enquanto a Cirenaica esteve sob o controle egípcio.
 
Regiões da Líbia.

Em 1517, os otomanos conquistaram a Cirenaica. Em 1551, Solimão I, o Magnífico, incorporou a região da Tripolitânia ao Império Otomano[1], estabelecendo o poder central em Trípoli. A autoridade turca, entretanto, mal passava da região para além da costa.
Dois séculos mais tarde, o reinado da dinastia Karamanli, que dominou Trípoli durante 120 anos, contribuiu para assentar mais solidamente as regiões de Fezã (ou Fezânia), Cirenaica e Tripolitânia, e conquistou maior autonomia, sendo apenas nominalmente pertencente ao Império Otomano, a região servia de base para corsários, o que motivou intervenção norte-americana, a primeira Guerra Berbere ocorreu entre 1801 e 1805.
Em 1835, o Império Otomano restabeleceu o controle sobre a Líbia, embora a confraria muçulmana dos sanusis tenha conseguido, em meados do século, dominar os territórios da Cirenaica e de Fezã (interior do país).

A Líbia Contemporânea

 
zepelins italianos bombardeando posições turcas em terrítório líbio durante a Guerra ítalo-turca (1911-1912).
 
Em 1911, sob o pretexto de defender seus colonos estabelecidos na Tripolitânia, a Itália declarou guerra à Turquia e invadiu a Líbia, desencadeando a Guerra ítalo-turca.
A seita puritana islâmica dos sanusis liderou na Cirenaica a resistência armada à conquista italiana, dificultando a penetração do Exército italiano no interior. A Turquia renunciou a seus direitos sobre a Líbia em favor da Itália no Tratado de Lausanne ou Tratado de Ouchy (1912). Em 1914 todo o país estava ocupado pelos italianos que, no entanto, como os turcos antes deles, nunca conseguiram afirmar sua autoridade plena sobre as tribos sanusi do interior do deserto.
Durante a Primeira Guerra Mundial, os líbios recuperaram o controlo de quase todo o território, à excepção de alguns portos. Terminada a guerra, os italianos empreenderam a reconquista do país. Em 1939, a Líbia foi incorporada ao reino da Itália. A colonização não alterou a estrutura económica do país, mas contribuiu para melhorar a infra-estrutura, como a rede de estradas e o fornecimento de água às cidades.
 
Durante a Segunda Guerra Mundial, o território líbio foi cenário de combates decisivos. Entre 1940 e 1943 houve a campanha da Líbia entre o Afrikakorps do general alemão Rommel e as tropas inglesas. Findas as hostilidades, com o encerramento da Campanha da Líbia, o Reino Unido encarregou-se do governo da Cirenaica e da Tripolitânia, e a França passou a administrar Fezã. Essa nações mantiveram a Líbia sobre forte governo militar até que a Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou a independência do país a 1º de Janeiro de 1952, reunindo os territórios num único Estado Federal, com o nome de Reino Unido da Líbia. O líder religioso dos sanusis, o emir Sayyid Idris al-Sanusi, foi coroado rei com o nome de Idris I (1951-1969).
Depois da sua admissão na Liga Árabe, em 1953, a Líbia firmou acordos para a implantação de bases estrangeiras no seu território. Em 1954, houve a concessão de bases militares e aéreas aos norte-americanos. A influência económica dos Estados Unidos e do Reino Unido, autorizados a manter tropas no país, tornou-se cada vez mais poderosa. A descoberta de jazidas de petróleo em 1959 constituiu no entanto factor decisivo para que o governo líbio exigisse a retirada das forças estrangeiras, o que provocou graves conflitos políticos com aquelas duas potências e com o Egipto. Em 1961 tem início a exploração do petróleo. Em 1963, aboliu-se a organização federativa.
 
O coronel Muammar Khadafi participou ativamente das questões de interesse árabe.
 
A nova história da Líbia começou em 1969, quando os "oficiais livres", um grupo de oficiais radicais islâmicos, derrubaram a monarquia num golpe de Estado sem derramamento de sangue, criando um governo muçulmano militarizado e de organização socialista. O Conselho da Revolução (órgão governamental do novo regime) era presidido pelo coronel Muammar al-Khadafi, então com 27 anos de idade. O regime de Muammar Khadafi, Chefe de Estado a partir de 1970, expulsou os efectivos militares estrangeiros e decretou a nacionalização das empresas, dos bancos e dos recursos petrolíferos do país.
Em 1972, a Líbia e o Egipto uniram-se numa Confederação de Repúblicas Árabes, que se dissolveu em 1979. Em 1984, a Líbia e o Marrocos tentaram uma união formal, extinta em 1986.
Khadafi, procurando desencadear uma revolução cultural, social e económica, lançou, em 1973, a revolução cultural islâmica, que provocou graves tensões políticas com os Estados Unidos, Reino Unido e países árabes moderados, com o Egipto e o Sudão. Em 1977, instituiu o Estado das Massas (Djamahiriyya ou Jamahiriya), em que o poder é exercido através de milhares de "comités populares".
Apoiado pelo partido único, a União Socialista Árabe, aproveitou-se da riqueza gerada pela exploração das grandes reservas de petróleo do país para construir seu poderio militar e interferir nos assuntos dos países vizinhos, como o Sudão e o Chade (Tchad), este último invadido pela Líbia em 1980.
 
Mapa da Líbia.
 
Depois da Guerra do Yom Kippur, a Líbia levou seus parceiros árabes a não exportar petróleo para os Estados que apoiaram Israel. Opôs-se à iniciativa do presidente egípcio Anwar al-Sadat, de restabelecer a paz com Israel, e participou activamente, junto com a Síria, na chamada "frente de resistência" em 1978. Seu apoio à Organização para a Libertação da Palestina (OLP) intensificou-se, e a cooperação com os palestinos se estendeu a outros grupos revolucionários de países não árabes, que receberam ajuda económica líbia.
A rejeição a Israel, as manifestações anti-americanas e a aproximação com a União Soviética, por parte da Líbia, geraram sérios conflitos na década de 1980. As relações da Líbia com os Estados Unidos  deterioraram-se quando, em 1982, os Estados Unidos impuseram um embargo às importações de petróleo líbio. Em resposta a vários atentados contra soldados americanos na Europa e às acusações de que o governo líbio patrocinava ou estimulava o terrorismo internacional, o presidente Ronald Reagan ordenou, em Abril de 1986, um bombardeamento da aviação americana a vários alvos militares em Trípoli e Bengazi, causando a morte de 130 pessoas. Kadhafi, que perdeu uma filha adoptiva quando sua casa foi atingida, manteve-se como chefe político, mas sua imagem internacional deteriorou-se rapidamente. Em 1987, o país sofreu derrotas militares no Tchad.
Para tirar o país do isolamento diplomático, no início da década de 1990 o chefe líbio dispôs-se a melhorar o relacionamento com as potências ocidentais e com as nações vizinhas. Em, 1988, restabeleceu relações diplomáticas com o Tchad. Em 1989, a Líbia associou-se à União do Magrebe Árabe, um acordo comercial dos países do Magrebe, no norte da África. Em 1991, durante a Guerra do Golfo Pérsico, a Líbia adoptou uma posição moderada, opondo-se tanto à invasão do Kuwait quanto ao posterior uso da força contra o Iraque. Apesar de sua neutralidade no conflito, a Líbia manteve sob crescente isolamento internacional até meados da década.
Em 1992, os Estados Unidos, o Reino Unido e a França, com a aprovação do Conselho de Segurança das Nações Unidas, impuseram pesados embargos ao comércio e ao tráfego aéreo líbio (reforçado em 1993), porque o governo se negava a extraditar dois líbios suspeitos de terem colocado uma bomba num avião de passageiros norte-americano que explodiu sobre Lockerbie, na Escócia, em 1988, e matou 270 pessoas (Atentado de Lockerbie). Este tipo de sanção repetiu-se nos anos seguintes, mas Khadafi tem desrespeitado o bloqueio aéreo militar viajando a Nigéria e Níger, e envia peregrinos à Meca em aviões de bandeira líbia.
Em 1993 a Líbia rompeu relações com o Irã, reagindo contra o crescimento do fundamentalismo islâmico. Em 1994, os líbios retiram-se da Faixa de Aozu (Chade), que ocupavam desde 1973. As relações de Khadafi com os palestinos deterioraram-se à medida que estes se mostraram dispostos a negociar uma paz com Israel, e em Setembro de 1995, o dirigente líbio anunciou a expulsão de 30 mil palestinos que trabalhavam na Líbia. A medida foi suspensa depois da deportação de 1.500 pessoas, e em Outubro de 1996 Khadafi anunciou que estas seriam indemnizadas. O regime líbio tem enfrentado uma crescente resistência da parte de grupos religiosos islâmicos, e em 1997, seis oficiais do exército foram fuzilados, acusados de espionagem.
Tentando melhorar sua imagem internacional, Khadafi admitiu a possibilidade de conceder a extradição dos dois agentes acusados do atentado de Lockerbie contra um voo da PanAm, desde que não sejam julgados nos Estados Unidos ou no Reino Unido. Em 2000, decretou uma radicalização da política de descentralização do Estado, posta em prática no início da década de 1990. Em 2003, o Conselho de Segurança da ONU retirou o embargo internacional, suspenso desde 1999; Kadhafi comprometeu-se a desmantelar as armas de destruição em massa e a permitir a supervisão de suas instalações nucleares.
Em Fevereiro de 2011, após a Tunísia e o Egipto, a Líbia é atingida por manifestações em Trípoli e Benghazi, que pedem a saída de Kadhafi e seus filhos.

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