A Líbia é o país mais rico de África, com menos de sete milhões de habitantes e uma astronómica renda petrolífera (Reuters)
É importante somar os indícios. A revolta instalou-se ontem em Trípoli, surgiram rumores de ruptura entre militares, um crescente número de tribos começou a apelar à demissão de Khadafi, entre elas a Tarhuna - um terço da população da capital. Crescia o movimento de deserção de dignitários do regime - o ministro da Justiça e um grande número de diplomatas. Também alguns chefes religiosos aderiram ao protesto.
Dois exércitos
Na Líbia, o Exército não representa o mesmo que na Tunísia ou no Egipto. As Forças Armadas regulares são mal equipadas, cabendo à poderosa Guarda Revolucionária a defesa do regime. No país onde reina um blackout informativo, os indícios nem sempre podem ser confirmados. Em Bengasi, unidades militares ter-se-ão juntado à revolta. Khadafi teria ordenado a execução dos soldados que se recusaram a disparar contra os manifestantes. Dois aviões terão aterrado em Malta com dois pilotos que teriam desertado.
O risco de guerra civil decorre da diferença líbia. Não há um exército que possa arbitrar ou intervir. Há dois, um deles guarda pretoriana do regime.
O cenário de guerra foi evocado no domingo à noite, na televisão, por Saif al-Islam, o filho "reformador" de Khadafi. Propôs uma reforma de última hora através de uma Constituição. Advertiu: "A Líbia não é a Tunísia ou o Egipto. Não tem sociedade civil nem partidos políticos." As "forças que tentam destruir a Líbia e desmembrá-la estão armadas e o resultado será uma guerra civil. Nenhum se submeterá ao outro (...) e matar-nos-emos nas ruas (...) até ao último homem". Um escritor líbio exilado em Londres, Ashour Shamis, declarou ao Guardian: "Khadafi morre ou mata. De momento optou por matar." Isto é: o regime não cairá sem "rios de sangue".
Algo se desmoronou
A Líbia é o país mais rico de África, com menos de sete milhões de habitantes e uma astronómica renda petrolífera. A população tem níveis de vida e de educação superiores aos dos vizinhos. Não tem as manchas de miséria do Egipto. A corrupção não é mais grave do que no resto do mundo árabe. No entanto, os cidadãos revoltam-se. As desigualdades regionais têm um papel relevante. Há uma juventude urbana moderna que terá aspirações incompatíveis com o regime e que perdeu o medo. É simbólico o ataque dos manifestantes ao Livro Verde de Khadafi, o breviário ideológico do regime.
É o próprio sistema político que mostra fissuras e risco de implosão. Khadafi impediu a construção de um Estado formal. Este resume-se aos aparelhos de segurança, à administração do petróleo e pouco mais. O "Estado das massas" tem no centro os comités revolucionários, um simulacro de democracia directa. Os comités gerem os recursos. Promovem o controlo e a repressão sociais ao mesmo tempo que funcionam como válvula de segurança, apresentando ao poder as reivindicações da população.
Da mesma maneira, Khadafi promove os equilíbrios - e a redistribuição dos recursos - entre as regiões e entre as tribos. Estas apagaram-se perante o poder despótico do "guia", mas a lealdade tribal é indispensável à sua sobrevivência. Por isso é ameaçador que tribos mais ou menos fiéis se passem para o campo do protesto. Algo se está a desmoronar.
As pressões externas não têm qualquer influência sobre a Líbia. É um grande exportador de petróleo e um apetecível mercado para o investimento estrangeiro em obras públicas. E tem uma ameaça suplementar sobre a Europa, que aliás já invocou: abrir os "diques" das vagas de emigração africana. A Itália está nervosa.
Dois exércitos
Na Líbia, o Exército não representa o mesmo que na Tunísia ou no Egipto. As Forças Armadas regulares são mal equipadas, cabendo à poderosa Guarda Revolucionária a defesa do regime. No país onde reina um blackout informativo, os indícios nem sempre podem ser confirmados. Em Bengasi, unidades militares ter-se-ão juntado à revolta. Khadafi teria ordenado a execução dos soldados que se recusaram a disparar contra os manifestantes. Dois aviões terão aterrado em Malta com dois pilotos que teriam desertado.
O risco de guerra civil decorre da diferença líbia. Não há um exército que possa arbitrar ou intervir. Há dois, um deles guarda pretoriana do regime.
O cenário de guerra foi evocado no domingo à noite, na televisão, por Saif al-Islam, o filho "reformador" de Khadafi. Propôs uma reforma de última hora através de uma Constituição. Advertiu: "A Líbia não é a Tunísia ou o Egipto. Não tem sociedade civil nem partidos políticos." As "forças que tentam destruir a Líbia e desmembrá-la estão armadas e o resultado será uma guerra civil. Nenhum se submeterá ao outro (...) e matar-nos-emos nas ruas (...) até ao último homem". Um escritor líbio exilado em Londres, Ashour Shamis, declarou ao Guardian: "Khadafi morre ou mata. De momento optou por matar." Isto é: o regime não cairá sem "rios de sangue".
Algo se desmoronou
A Líbia é o país mais rico de África, com menos de sete milhões de habitantes e uma astronómica renda petrolífera. A população tem níveis de vida e de educação superiores aos dos vizinhos. Não tem as manchas de miséria do Egipto. A corrupção não é mais grave do que no resto do mundo árabe. No entanto, os cidadãos revoltam-se. As desigualdades regionais têm um papel relevante. Há uma juventude urbana moderna que terá aspirações incompatíveis com o regime e que perdeu o medo. É simbólico o ataque dos manifestantes ao Livro Verde de Khadafi, o breviário ideológico do regime.
É o próprio sistema político que mostra fissuras e risco de implosão. Khadafi impediu a construção de um Estado formal. Este resume-se aos aparelhos de segurança, à administração do petróleo e pouco mais. O "Estado das massas" tem no centro os comités revolucionários, um simulacro de democracia directa. Os comités gerem os recursos. Promovem o controlo e a repressão sociais ao mesmo tempo que funcionam como válvula de segurança, apresentando ao poder as reivindicações da população.
Da mesma maneira, Khadafi promove os equilíbrios - e a redistribuição dos recursos - entre as regiões e entre as tribos. Estas apagaram-se perante o poder despótico do "guia", mas a lealdade tribal é indispensável à sua sobrevivência. Por isso é ameaçador que tribos mais ou menos fiéis se passem para o campo do protesto. Algo se está a desmoronar.
As pressões externas não têm qualquer influência sobre a Líbia. É um grande exportador de petróleo e um apetecível mercado para o investimento estrangeiro em obras públicas. E tem uma ameaça suplementar sobre a Europa, que aliás já invocou: abrir os "diques" das vagas de emigração africana. A Itália está nervosa.
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