segunda-feira, 9 de abril de 2012

Fernando Moeda: “Não sou segunda nem terceira escolha, sou a primeira escolha”

Candidato do PAICV à Câmara Municipal da Praia, Fernando Moeda foi visto por muitos como um recurso de última hora do partido tambarina.
Em entrevista ao Binókulu Pulítiku, Fernando Moeda, confiante na vitória, falou sobre os seus planos para a cidade da Praia e garantiu que nada o relegará a segundo plano nestas autárquicas, pois é e sempre foi a primeira escolha do PAICV.

Binókulu Pulítiku: Quais os grandes objectivos da sua candidatura à Câmara Municipal da Praia?
Fernando Moeda: O que me move a concorrer à presidência da Câmara Municipal da Praia é a possibilidade e a oportunidade que tenho de trazer para a cidade da Praia uma visão mais moderna e mais ousada. A Praia e os praienses merecem mais qualidade de vida e por esta razão estou a entrar nesta corrida.

BP: Como é que avalia a gestão de Ulisses Correia e Silva?
FM: Ele tem feito, no meu entendimento, uma gestão com grandes falhas. Com falhas, gritantes mesmo, nos domínios do incremento da competitividade e da cidadania da cidade da Praia. A cidade da Praia merece muito mais do que aquilo que ele tem feito. Razão pela qual julgo que nós devemos trazer uma nova postura, uma nova visão.

BP: Muitos acreditam que a sua pouca visibilidade política é um ponto fraco da sua candidatura. Concorda com esta ideia?
FM: Não concordo. Não concordo em absoluto, na medida em que a minha visibilidade é muito grande. Eu próprio pensava, há cerca de um mês, que seria menor, mas o que tenho constatado no terreno é precisamente o contrário. Eu já fiz muita coisa na Praia. Já fui dirigente associativo em termos de futebol, já fui dirigente das federações de futebol em Cabo Verde, sou membro fundador da Câmara de Comércio de Sotavento, já fui presidente da Associação Comercial de Sotavento, tenho desempenhado imensas funções para além das funções de natureza política. Sou há quase 12 anos membro da Comissão Política do PAICV, fui mandatário nacional de sua excelência o ex-Presidente da República Pedro Pires. Portanto, tudo isso e muitos combates feitos pela Praia, levam-me a dizer, que aqueles que pensam que não tenho visibilidade estão redondamente enganados. Estive no futebol, na acção profissional, na acção política, na acção empresarial, no associativismo, sou administrador de um grande banco neste país. Já fiz muitas tarefas políticas, fui candidato à Assembleia Municipal da Praia em 96 e em 2008 fui o segundo da lista. Aquilo que as pessoas sabem de mim, é muito mais do que se imagina. Eu tenho constatado isso nas diversas caminhadas que tenho feito pelos bairros da cidade da Praia. Isto do conhecimento é algo que não me preocupa.

BP: Segundo aquilo que foi difundido pelos media, para a Praia, o seu partido sondou primeiro nomes como Felisberto Vieira, Janira Hopffer Almada e Nuno Duarte. Perante a recusa destes, o seu nome teria aparecido como segunda alternativa. Esta situação não lhe traz um certo desconforto nesta corrida contra um candidato “em ascensão” em termos de popularidade?
FM: Sobre esta matéria, isso não é bem verdade. De facto, alguns meios de comunicação deixaram transparecer estas notícias. Eu posso lhe dizer que desde a primeira hora, enquanto membro da comissão política da praia, enquanto natural desta cidade, enquanto, para utilizar aquilo que me chamam nas ruas, “menino da praia”, posso dizer que desde o início estou na lista dos potenciais candidatos do meu partido para a cidade da Praia. Desde a primeira hora. E fui sondado desde o mês de Novembro. Nesta altura eu considerei que não seria o momento ideal para responder e disse que haveria outras pessoas que poderiam ir em vez da minha pessoa. Portanto, sem dizer que não, disse vamos consultar os outros nomes. Tanto mais que eu fazia e faço parte da comissão de coordenação das eleições autárquicas do PAICV e sabia e sei os nomes que estavam sobre a mesa. Obviamente que tem de haver uma lista e se tivéssemos ido eventualmente por ordem alfabética nos nomes que citou eu estaria primeiro que todos eles. Mas não era por ordem alfabética, portanto, posso dizer que não sou segunda nem terceira escolha, sou a primeira escolha.

BP: Com a recusa dos nomes que foram citados, o que é que o motivou, após a indecisão de uma primeira hora, a aceitar ser candidato à Câmara Municipal da Praia?
FM: Primeiro de tudo eu sou militante do PAICV desde 1974 e isso faz de mim, em alguns momentos, soldado e, em outros, general também. E isso motivou-me a concorrer quando o meu partido me chamou a desempenhar esta tarefa. Em 1996, quando eu e o Felisberto Vieira concorremos, fomos os únicos que nos dispusemos a fazê-lo nessa altura. E fomos para a frente, sabendo que era difícil a luta. Portanto, eu recebi um chamamento do meu partido. Por outro lado, eu sou natural da Praia e tenho um incondicional amor a esta Praia. Em terceiro lugar, acho que a Praia merece gente honesta e patriota à frente dos seus destinos. Razão pela qual, aquando do segundo contacto para concorrer, analisei todos os prós e contras e, porque eu tinha de colocar o interesse colectivo acima do interesse pessoal, decidi nesse momento, vou abraçar esta causa, vamos para a frente.
BP: Muitos acreditam que Felisberto Vieira será pedra angular na sua campanha e toda a máquina tambarina suportará a sua candidatura. Não se sentirá, enquanto candidato autárquico, votado a segundo plano, pois sabe-se que nas autárquicas a figura do candidato (a sua personalidade, sua visibilidade e popularidade) deverá sobrepor-se à sigla do partido e assumir-se como candidato próximo dos seus munícipes?
FM: Não. Precisarei de todos os meus camaradas nesta luta para ganharmos a Praia. Esta candidatura não é minha. A candidatura é do PAICV. Portanto, todos os meus camaradas serão bem-vindos. Mas serão bem-vindos também os amigos, os simpatizantes, pessoas pertencentes a outros partidos e pessoas sem partido. É neste movimento, que eu diria da sociedade civil junto do PAICV, que eu vou.
Não preciso de bengala. Eu próprio tenho os meus atributos assim como os meus defeitos também. Mas julgo, nesta matéria, nada me relegará para segundo plano porque aquilo que vou defender é o símbolo do PAICV, aquilo que vou defender são os princípios que o PAICV defende. O meu posicionamento e da lista que eu vou constituir para a cidade da Praia é que vão ditar aquilo que será esta campanha eleitoral.

BP: Como será o engajamento do partido e do presidente tendo em conta as sequelas das presidenciais?
FM: A minha candidatura, bem como todas as outras 21 candidaturas do partido às câmaras municipais contam com total engajamento de todos os militantes, amigos e simpatizantes do PAICV. Nós no PAICV sabemos distinguir os momentos eleitorais. Somos um partido democrático com uma grande coesão nacional. E se vamos para esta candidatura, vamos para ganhar, com base numa total coesão, numa total unidade, numa total lealdade entre os militantes porque todo o partido se engaja.
O meu nome esteve na lista e foi visto da base ao topo, desde os órgãos do sector, passando pela comissão política regional, pela comissão política nacional onde foi sufragada. Cumprimos os estatutos, cumprimos todos os princípios básicos de democracia interna no PAICV, o que me leva a dizer, e sinto, há um total engajamento.
Já vi escrito que Fernando Moeda esteve ausente nas presidenciais e portanto poderá ser um factor de unidade. Verdade ou não, o que eu sinto é que eu estou a construir esta unidade. Porque não é uma unidade só do PAICV, é uma unidade para a Praia.

BP: Numa entrevista a um jornal nacional, declarou que as grandes soluções para a capital ainda estão por acontecer. Quais seriam estas soluções?
FM: Para mim as grandes transformações prendem-se com o saneamento, os transportes, uma urbanização organizada, a competitividade do espaço urbano, as normas e economias para mudarmos completamente a face social e económica da malha capitalina e prende-se também com um ponto que eu considero muito importante que é a questão da legalização e o ordenamento das habitações aqui da cidade da Praia.
Praia tem muitas potencialidades que têm de ser buscadas com uma nova geração de políticos e de políticas. Eu já não sou muito novo mas considero-me uma nova geração de políticos e de políticas. Há pessoas que estão aqui para servir a cidade da Praia e não para servirem-se dela.

BP: Na mesma entrevista referiu que um dos desafios é a promoção de gente educada no espaço equipado. Pode-nos explicar melhor esta ideia?
FM: Já não como candidato, mas tão somente como cidadão, dói-me quando vejo postes partidos, sinais de trânsito apedrejados, abrigos das paragens dos autocarros partidos, etc. É isso que eu pretendo mudar. Porque não é pela repressão, é pela educação cívica que nós poderemos manter estes espaços públicos, que custam dinheiro, seja do Estado, seja das autarquias locais. Portanto, é nessa perspectiva que falei nessa necessidade de educação que é no fundo a preservação do espaço.
Mas tem a ver também com o aspecto do saneamento. Se habituarmos as pessoas a não deitarem aquela casca de banana ao chão, se fizermos uma educação pela cidadania, se quisermos, eu tenho a certeza que todos juntos, numa enorme simbiose e numa enorme sinergia, podemos fazer desta cidade da Praia algo de muito belo e que seja orgulho de todos os cabo-verdianos onde quer que estejam.
BP: O saneamento é o eterno calcanhar de Aquiles da cidade da Praia. Na qualidade de candidato a edil praiense, quais são, na sua opinião, as medidas que resolveriam esta situação?
FM: É preciso mudar o paradigma. É possível mudar o paradigma do lixo actual e adequar a um paradigma mais ambiental e de qualidade, reciclando os resíduos em matérias-primas industriais, transformando o lixo em luxo. Para mim é ridículo quando vejo um camião a passar à porta das pessoas, buzinando para que as pessoas saiam a correr das suas casas com o perigo de caírem pelas escadas, com todos os perigos inerentes, para irem pôr o lixo dentro de um camião que está a passar, como acontece neste momento na cidade da Praia. Faz-me lembrar os primeiros anos da independência, 1975, em que era assim que se fazia a recolha do lixo. Estamos no século XXI, 37 anos após a independência, não podemos voltar a esta mesma situação. Não podemos ter recolhas domiciliárias do lixo como se fazia antigamente. É preciso reinventar o paradigma, é preciso transformar o lixo em actividade que compense. Porque o lixo é e pode ser luxo. Não me pergunte o que é que eu vou fazer. Verão isso no momento certo, na plataforma eleitoral que estamos a construir neste momento.

BP: Qual é a sua percepção sobre a ideia de um estatuto especial para cidade da Praia. Quais são os ganhos que a capital do país poderá ter com aprovação deste instrumento?
FM: Absolutamente de acordo. Praia é capital do país, reúne pessoas vindas de todos os lados do país. Reúne pessoas que vieram de outras paragens, da Costa de África, da Europa, etc. Estou convencido que a Praia representa para o cabo-verdiano um símbolo. Nós somos a metrópole dentro de um contexto nacional e portanto, assim como os portugueses fazem de Lisboa a sua capital e têm orgulho dela, os franceses de Paris, e assim sucessivamente, penso que atribuir o estatuto especial à cidade da Praia será o reconhecimento da cidade como um factor até de unidade nacional. Uma Praia que orgulhe não só os seus munícipes, mas toda a nação cabo-verdiana.

BP: Quais os critérios que serão levados em conta na formação da sua equipa camarária?
FM: Acima de tudo o aspecto que diz respeito à competência. A competência, a seriedade, a questão das gerações, a questão do equilíbrio de géneros, uma abertura muito grande à sociedade civil farão parte dos critérios para as pessoas que irão formar a estrutura holísta do PAICV.

BP: Que lugar ocupará nas suas prioridades, a geminação com municípios nacionais?
FM: Um lugar muito próximo, tendo em consideração essa centralidade da Praia, tendo em consideração que somos capital e existem pessoas de todas as ilhas aqui a viverem. Portanto, quanto mais geminações fizermos com os outros 21 municípios, fará com que o município da Praia reflicta Cabo Verde, a diversidade social e cultural existente nessa cidade. É nesta perspectiva que queremos fazer geminações com os outros municípios do país.

BP: Quais os seus projectos para a cidade da Praia a nível económico, cultural e social?
FM: Nós estamos neste momento a construir a nossa plataforma eleitoral onde iremos dizer o que é que pensamos para a Praia, sabendo desde logo que isso trará imensas novidades. O que quero desde já frisar é o seguinte: a Praia é uma cidade com enorme potencial, com um enorme espaço de urbanização e com uma elevada taxa de periferia e também com desemprego e alguns problemas sociais. São estas as questões que se colocam desde já como ponto de partida em termos de análise para aquilo que será a nossa plataforma. Vamos transformar a Praia numa verdadeira locomotiva administrativa, empresarial, bancária e profissional. E essa locomotiva ao serviço de todo o país e ligada a todos os segmentos sociológicos. Portanto, vamos montar uma plataforma que seja colectiva, para servirmos a todos, empoderando o “nós” colectivo.

BP: Tendo em conta a popularidade do edil actual, como perspectiva estas eleições?
FM: Qualquer pessoa que tenha sido presidente de câmara é conhecido, é conhecido das pessoas.
As eleições ganham-se com projectos que sejam exequíveis, que sejam inovadores. E as ideias que nós temos para a Praia, que a lista do PAICV tem para a Praia, que eu enquanto cabeça de lista à Câmara Municipal da Praia e a minha camarada e amiga Any Freire, enquanto cabeça de lista a Assembleia Municipal, e todos os outros membros das nossas listas iremos defender, são ideias inovadoras e exequíveis que farão com que ganhemos as eleições. Porque a percepção que temos, que eu tenho dentro dos bairros, é precisamente essa – de que é possível, é possível o PAICV ganhar essas eleições autárquicas 2012. Não só na Praia, mas em muitos outros municípios de Cabo Verde.

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