O Soldado e o Batalhão 04 Março 2011
Entre a agradável surpresa e a desconfiança de experiência feita, foram esses os sentimentos, mais matiz menos matiz, provocados pelas prontas e serenas declarações do líder do MpD na noite da vitória do PAICV, nas recentes eleições legislativas, reconhecendo sem tibiezas, a derrota ventoinha e, logo, também, a sua.
Os que, como eu, disseram em voz alta ou para seus botões, “aguardemos os próximos capítulos”, bem avisados estavam. Mais uma vez, tratava-se da implementação de uma estratégia no seu todo consistente com a guerra de usura e de desgaste que foi a (pré) campanha veiguista.
Dantes, para ganhar as eleições, a estratégia de mudança de percepção (devia dizer, inversão da percepção), tinha como principais destinatários os eleitores, a sociedade cabo-verdiana, com especial enfoque nos jovens e nos cabo-verdianos vivendo no estrangeiro. Hoje, a seguir à vitória do PAICV, os principais visados são as nossas comunidades na diáspora e a comunidade internacional, sobretudo os países com quem Cabo Verde tem especiais laços de amizade e cooperação e que têm apoiado o nosso desenvolvimento, sendo Portugal um deles. À grande maioria dos cabo-verdianos que vivem no país, a estratégia emepedista não consegue dar a volta à sua percepção da realidade, consistentemente retratada na votação massiva no PAICV e em José Maria Neves, saldando em mais de 23 mil votos acima dos ventoinhas. Aliás, é bom dizê-lo, mesmo entre os que votaram MpD, há gente convencida de que o país bem avançou com a governação tambarina.
Cabo Verde granjeou imagem, prestígio e notoriedade no Mundo, nestes anos de governação do PAICV, como jamais. A boa governação como imagem de marca da gestão pública do país é um facto assumido transversalmente por todos os actores da cooperação bi e multilateral. Nos próximos anos, com esse terceiro mandato do PAICV, o país vai dar um novo salto, vai atingir um patamar mais elevado na distribuição do bem-estar, na erradicação da pobreza e na mudança estrutural das bases da sua economia, permitindo um combate eficaz ao desemprego. Para tal, o reforço do prestígio do país e dos seus governantes, a confiança no processo democrático em Cabo Verde por parte dos principais actores da cena internacional e dos da cooperação bi e multilateral, serão decisivos para que Cabo Verde continue, cada vez mais, a aceder a recursos (não apenas os financeiros) que suportem os novos, mais ambiciosos, logo, mais exigentes desideratos.
Essa leitura já foi feita pela liderança ventoinha, apoiada pela assessoria externa que teve, desde sempre. Então, a evolução da guerra de usura e desgaste passa agora por; i) desilustrar e desvalorizar a vitória do PAICV, tentando a todo o custo impor o sentido de que se trata de uma vitória conseguida com métodos fraudulentos e com recurso a financiamentos duvidosos; ii) amplificar, se possível distorcendo, todas as notícias de medidas, contestações, acontecimentos,etc., considerados negativos e que podem contribuir para criar nos destinatários uma percepção negativa da governação, do PAICV e dos seus dirigentes. O resultado pretendido é, pelo menos, criar uma brecha de dúvida no seio das nossas comunidades e no seio da Comunidade Internacional e parceiros da cooperação, sobre a qualidade e veracidade do processo democrático em Cabo Verde e sobre a seriedade dos seus actuais governantes e os concretos avanços no desenvolvimento do país. Uma brecha que, pensam os estrategos ventoinha, se for conseguida, poderá, com a estratégia de “água mole em pedra dura...”, ser alargada em buracão, erodindo o enorme capital que quer a liderança de José Maria Neves, quer a governação protagonizada pelo PAICV têm no plano externo.
Assim se percebe a rapidez e a bonomia das declarações do líder ventoinha na noite das eleições para, poucos dias depois, se desdobrar em entrevistas a jornais cabo-verdianos e portugueses, acusando o PAICV de ter ganho por fraude. Assim se percebe a estratégia que já se vislumbra nas redes sociais em que os apoiantes ventoinha passam a mensagem da fraude e, mais recentemente, evoluíram por introduzir links que amplificam todas as notícias on-line sobre acontecimentos negativos em Cabo Verde.
Mas, há ainda, outra forte e imediata motivação por detrás da continuidade dessa estratégia: fixar a atenção dos militantes e apoiantes do MpD no “inimigo externo”, - leia-se, o PAICV, - para desviar a sua atenção das vozes desavindas surgidas no seio do Movimento, criticando o regresso de Carlos Veiga à liderança e o processo que lhe deu corpo, a estratégia eleitoral desastrosa e os métodos do líder, enfim, pedindo, em coerência, a sua retirada.
Os resultados da reunião da Direcção Nacional do MpD, prevista para o dia 5 do corrente, dirão se prevaleceu a linha da ruptura com a “estratégia da imagética do passado” ou se o actual líder ventoinha continua a dar as cartas. A pedra de toque será a construção semântica das recentes eleições legislativas que emergirá dessa reunião. Se se insistir em “vender” aos cabo-verdianos a enésima tese de que Veiga e o MpD foram derrotados por fraude, com mais ou menos pózinhos de perlimpimpim, a sociedade cabo-verdiana fica a saber que a mudança ainda não chegou ao Movimento e que Veiga estará senão de pedra e cal mas, pelo menos, com prazo de validade recauchutado.... E tudo o resto, incluindo a participação ventoinha nas próximas eleições presidenciais, será formatado, nessa óptica. Se a derrota de Veiga e do MpD nestas eleições for objecto de rigoroso escrutínio, identificando as reais causas, tal como, pelo menos, dois destacados militantes do MpD já o fizeram, publicamente, é sinal que teremos mudança para valer no Movimento. Aguardemos...
Importa dizer que a projecção continua a ser uma das armas de ataque ventoinha: atribuir ao adversário aquilo que se fez ou se está a fazer. Tudo o que se pretende impingir sobre o financiamento da campanha do PAICV é para desviar a atenção da pré-campanha e da campanha milionárias que o MpD fez, no país e nas comunidades na diáspora, de cujas origens de fundos nunca foram cabalmente esclarecidas, bem como dos eventuais acordos e compromissos a eles associados. Está-se aqui, tão-somente a constatar aquilo que é factual e constatável por qualquer cidadãos que esteve minimamente atento à pré campanha e à campanha.
Termino com uma observação: Carlos Veiga é o único político que nunca perdeu nenhuma eleição: quando ganhou nas urnas, é porque ka ten mondon, quando perdeu, nas urnas, é porque houve fraude. Caro leitor, examine todas as eleições, de todos os órgãos de soberania desde 1991 a esta parte, reveja a postura dos que ganharam e dos que perderam e tire as suas ilações. Por mim, pergunto se não estaremos perante a enésima versão do soldado de passo trocado no batalhão...?
marzim54@gmail.com
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