sexta-feira, 4 de março de 2011

Trípoli prepara manifestação anti-regime


Forças de Khadafi lançam novo ataque aéreo contra rebeldes em Ajdabiya


Novos raides aéreos das forças de Muammar Khadafi incidiram esta manhã junto a uma base sob o controlo dos rebeldes na cidade de Ajdabiya, na Líbia oriental, mantendo a pressão sobre o movimento de revolta que entra hoje no 18º dia consecutivo de contestação aos 42 anos de regime autoritário do líder líbio.
Na passada sexta-feira, grupos de pessoas foram alvejadas em muitos bairros de Trípoli à saída das mesquitas 
 
Na passada sexta-feira, grupos de pessoas foram alvejadas em muitos bairros de Trípoli à saída das mesquitas.
Pelo menos duas bombas foram lançadas junto à base militar, mas sem a atingir nem causar quaisquer vítimas, de acordo com testemunhos ouvidos pelas agências noticiosas junto da rebelião. “Estávamos ali sentados, ouvimos o avião e depois a explosão e a terra tremeu. As bombas caíram do lado de fora”, precisou Hassan Faraj, um dos rebeldes que mantêm guarda ao depósito de armamento da base Haniyeh, nos arredores de Ajdabiya – uma das cidades, a par de Brega, onde se têm concentrado os mais acesos combates nos últimos dias entre o movimento de oposição e as forças leais a Khadafi.

A rebelião que controla a base Haniyeh tem expressado receios nestes últimos dias que um ataque bem-sucedido sobre o importante depósito de armas que ali se encontra pode “causar danos numa extensão de quilómetros”. Mas até agora, apesar de a mesma base ter sido alvo já de outros ataques aéreos esta semana, as bombas têm caído sempre à volta dos muros ou em zonas pouco importantes do complexo, sem atingir nenhum dos mais de três dezenas de bunkers repletos de toneladas de munições e explosivos.

Um oficial renegado do exército de Khadafi avaliara no princípio desta semana que estes raides falham “propositadamente” os alvos mais importantes estrategicamente – como é o caso dos enormes depósitos de armas que foram conquistados pela revolta – porque “os pilotos não querem matar outros líbios”. Deste o início da convulsão houve notícias de pelo menos dois pilotos que desertaram a bordo dos seus jactos, aterrando em Malta, os quais explicaram tê-lo feito porque tinham recebido ordens para bombardear algumas das cidades “libertadas” pela revolta. Um outro piloto, na semana passada, ejectou-se e depois deixou o seu jacto despenhar-se, para não cumprir similar missão de bombardeamento.

De Misurata, cidade sob o controlo dos rebeldes que fica a apenas cerca de 100 quilómetros para leste de Trípoli, chegam relatos de uma grande manifestação em preparação para depois das orações da manhã, com o propósito de “demonstrar solidariedade” para com a população da capital, que se encontra cercada e sob apertadíssima vigilância do regime desde praticamente o início da convulsão no país.

“A maior preocupação das pessoas aqui agora é Trípoli. Queremos libertar a nossa capital deste regime”, sublinhou um rebelde em Misurata, citado pela BBC.

De dentro de Trípoli chegam sinais de uma nova tentativa de manifestação contra Khadafi para hoje, logo após as orações da manhã, que começam ao meio-dia (hora local, menos duas horas em Lisboa). A organização do protesto está a ser feita “de boca a boca”, aponta a agência noticiosa AP, ao mesmo tempo que a correspondente da televisão norte-americana ABC em Trípoli, Lara Setrakian, dá conta que “há vários relatos de que as forças de Khadafi estão a bloquear o acesso às mesquitas, forçando as pessoas a fazerem as orações na Praça Verde, onde ficam mais vulneráveis”, e que as ruas estão a ser fortemente patrulhadas por milícias fiéis ao regime.

Na passada sexta-feira, o dia da semana mais forte para os fiéis muçulmanos, vários grupos de pessoas foram alvejadas em muitos bairros de Trípoli à saída das mesquitas, quando tentavam juntar-se em manifestações de protesto contra o regime líbio, estimando-se que terão morrido pelo menos dez pessoas e muitas outras dezenas terão ficado feridas.

O canal de televisão Al-Arabiya reportou entretanto que os jornalistas estavam esta manhã a ser impedidos pelas forças de segurança de Khadafi de abandonarem os seus hotéis na capital, alegando que a presença nas ruas pode espoletar actos de violência da parte de “afiliados com a Al-Qaeda”. “Estas são circunstâncias especiais. Sei que vão falar disto e podem torcer e retorcer isto como quiserem. Estamos dispostos a pagar esse preço por vos impedir de saírem para evitar transformar Trípoli em Bagdad”, argumentou o porta-voz do Governo líbio, Moussa Ibrahim.

Pelo menos 130 jornalistas ocidentais estão retidos pelas autoridades líbias no hotel Rixos, a sul do centro de Trípoli, precisa a agência noticiosa Reuters. Durante a noite, em volta do hotel, foram ouvidos tiros com frequência, os quais foram explicados por Ibrahim como "tentativas dos rebeldes para desestabilizarem" a capital.

Sem comentários:

Enviar um comentário