O julgamento dos três suspeitos envolvidos na morte de Dudu Teixeira, que começou logo no segundo dia deste mês, sofreu um interregno: só vai ser retomado no dia 21 de Março, data em que o tribunal deverá ouvir mais de 40 testemunhas arroladas no processo. Até este momento, já foram interrogados os três arguidos: Stefanny, Bino e Tony. Entretanto, segundo o Ministério Público, a versão de Bino é a única que até agora entra em contradição com os depoimentos prestados no primeiro interrogatório.
Stefanny, o principal dos três arguidos que foram ouvidos durante três dias (de 2 a 4 de Março), é o único que confessou o crime. Ao Tribunal, Stefanny alegou que tudo começou quando saiu do Sport Bar, na zona de Achada de Santo António, para encontrar amigos no Bar Voz di Povo. Já no local, decidiu urinar à porta do estabelecimento. Ao ver essa cena, Dudu chamou a sua atenção e perguntou-lhe porque é que não procurava a casa de banho, que era o lugar próprio para essas cenas tão privadas. Stefanny respondeu-lhe que urinava ali mesmo porque estava “apertado”. O clima então “aqueceu” e, conforme o arguido, Dudu agrediu-o com uma cabeçada, deu-lhe um soco na barriga e, por fim, arrastou-o pelo chão.
Stefanny alega ter-se sentido ferido no seu orgulho e moral de homem “macho”. Por isso, foi buscar uma faca à casa do irmão Bino, na Terra-Branca, e voltou ao bar decidido a “limpar a honra”. Ao regressar, encontrou Dudu a conversar com uma pessoa à porta do bar, aproveitou a oportunidade e desferiu-lhe uma facada nas costas. Dudu, para se defender, agarrou-lhe a mão direita. Mas Steffany, com a outra mão, conseguiu desferir uma segunda facada no peito de Dudu, golpe este que atirou a vítima ao chão. Antes desta ocorrência, Stefanny passara pela casa dos seus pais, na Achada de Santo António, onde encontrou apenas a mãe, que o questionou sobre o seu nervosismo. Saiu sem dar explicações.
Já Bino alega que saiu à procura de Stefanny depois que a mãe lhe telefonou a pedir que fosse procurar o irmão, visto que ele parecia nervoso e embriagado. Assim, de imediato, ele e mais duas pessoas seguiram num automóvel Terios até o Bar Voz di Povo, no Plateau. Já na rua Serpa Pinto, viram Stefanny a estacionar o carro e entrar na Rua 5 de Julho. Nesse meio-tempo, e enquanto se tentava estacionar na Rua 5 de Julho, Bino ouviu gritos e correu em direcção ao “VP”. Quando lá chegou, encontrou o irmão encostado à parede, num jogo de forças com Dudu. Tentou afastá-los, mas não conseguiu porque, segundo ele, foi agarrado pelos ombros e pescoço por Dudu, a vítima.
Já Tony, o terceiro arguido, alega que, ao chegarem nas imediações do “VP” ouviram gritos. Enquanto Bino foi ver o que se passava, ele, Tony, ficou para trás e demorou uns minutos “a urinar”. Apressou-se quando o amigo Santana, que estava a conduzir o Terios, lhe gritou: “Tony bai!”. Ao chegar à porta do Bar Voz di Povo deparou-se com Dudu e Bino engalfinhados, Stefanny com uma faca na mão e ainda Jacinto Gil “Naco” Fernandes no chão, ferido no abdómen. Tony afirma que deixou o local porque Bino, que estava ferido no braço direito, lhe pediu para levá-lo ao hospital. Mais: já no hospital ajudou a retirar do carro a vítima, Dudu.
Evidências do MP
Na sua intervenção, o Ministério Público começou por levantar a questão que mais dúvidas tem suscitado desde o início do julgamento: terá Bino ajudado Stefanny a matar Dudu, depois que o irmão já tinha desferido a primeira facada no corpo da vítima? Segundo Bino, a vítima caiu após a primeira facada porque ter-se-ia desequilibrado, o que contradiz o seu primeiro depoimento, isto é, que Dudu teria caído devido às duas facadas que levou de Stefanny.
Outras questões foram levantadas pelo MP, nomeadamente sobre o trajecto de Stefanny entre o Sport Bar e o “VP”, o número de facadas, quantas vezes Bino tentou separar o agressor e a vítima, os bares mais frequentados pelos arguidos Bino e Stefanny; se Bino e Tony agrediram Dudu com socos, pontapés, e como sabia Bino que o bar “VP” estaria aberto nessa noite.
Note-se que os advogados de defesa – Neltor Lobo, Vera Andrade e Dias Pereira – preferem, por enquanto, não fazer declarações à imprensa considerando que este caso já foi muito mediatizado. Os três arguidos são: Bino, gerente da Sottur e designer “freelancer”; Tony, técnico de manutenção de aviões, em Angola, e Stefanny, que até o momento em que foi recolhido em São Martinho, onde está em regime de prisão preventiva, era administrador da Girassol Tours.
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